Mitre (MTRE3) pisa na bola e efeito dominó de queda das construtoras na bolsa assusta. Se tem uma coisa que eleva o valor de uma empresa e faz dela uma oportunidade para investidores é a Governança (a letra G do ESG) que entre seus princípios estão a integridade e transparência. E isso está muito visado, um ponto fora da curva que comprometa tais princípios, pode fazer sim um tsunami em um copo d’água.

Para ilustrar melhor: não precisou muito tempo para uma notícia específica se espalhar e imediatamente provocar a queda das ações de muitas construtoras na B3 durante a quinta-feira (5). Começando pelo pivô do efeito dominó, a Mitre (MTRE3), que teve quase 16,29% de desvalorização. A causa foi um boom: a construtora divulgou a aquisição de quatro imóveis da propriedade de Fabricio Mitre, o controlador da empresa, para levantar um projeto imobiliário em Trancoso, na Bahia. Com isso, ainda sobrou para a MRV (MRVE3) que caiu 3,61%; Tenda (TEND3), menos 9,02%, e Direcional (DIRR3) com mergulho de 4,85%. Apenas a Gafisa (GFSA3) se salvou, com alta de 0,45%.

De acordo com a apuração do site Brazil Journal, o valor a ser pago pelo terreno localizado no condomínio Fazenda Rio da Barra, com vista para o mar é de R$ 13,5 milhões. “Depois da queda de hoje, a Mitre vale R$ 390 milhões na B3. O movimento chamou a atenção do mercado porque, dada sua localização e perfil (um condomínio de casas), o empreendimento é fora do core business da companhia, que sempre fez prédios para a média e alta renda na cidade de São Paulo”, diz a reportagem de Pedro Arbex. 

No projeto da Mitre está a construção de três casas de luxo no terreno usando a marca Daslu, que a empresa arrematou por R$ 10 milhões em leilão judicial no ano passado. A informação é que a construtora pretende vender esses imóveis com preço mínimo de R$ 18 milhões cada.

De acordo com o InfoMoney, os investidores não gostaram de uma aquisição distante de sua área de atuação e de ser do CEO e conselheiro da empresa. Em comunicado oficial, a empresa disse: “reenfatizamos que a Mitre Realty continua focada no seu negócio principal que é desenvolver empreendimentos imobiliários de médio, alto e altíssimo padrão na cidade de São Paulo, que inclusive contará com um empreendimento com a assinatura Daslu, no bairro dos Jardins [na capital paulista], no ano que vem”.

Conforme o Brazil Journal, em vez de levar a discussão para uma assembleia de acionistas, a companhia decidiu aprovar a operação no conselho, onde houve dois votos a favor e um contra.  A família Mitre controla a empresa com 50,5% do capital. Os maiores acionistas do free float são a Pollux e a Alpha Key, com cerca de 3% do capital cada; a Aguassanta tem 2,5%.  

“Fabricio disse ao Brazil Journal que viu a reação do mercado como ‘uma tempestade em copo d’água. Foi um erro de comunicação… É uma coisa extremamente pouco relevante do ponto de vista de tamanho. É menos de 0,5% dos ativos da companhia’, disse ele.” 

O deslize da Mitre (MTRE3)

Enquanto CEO da Mitre considera que o mercado fez uma tempestade em copo d’água, levando em conta o princípio da integridade, que entre outras coisas diz que é preciso evitar decisões “sob a influência de conflitos de interesses, mantendo a coerência entre discurso e ação e preservando a lealdade à organização”, a pergunta é: a Mitre cumpre o critério de governança? A pensar neste fato, a resposta é não. É um caso isolado? Não se sabe.

O caso também expõe o investidor, que fica em posição frágil, não só o que detém ativos da Mitre, mas de outras construtoras, como as citadas acima. Como recuperar a imagem depois de um deslize desses? Bem, ao que tudo indica a Mitre pensou que uma teleconferência abafaria o conflito, mas não, porque para a empresa era um movimento normal. Daí surge mais uma pergunta: em vista do posicionamento do Fabrício, será que essas aquisições são transparentes mesmo?

Princípios básicos de Governança

Os princípios básicos de governança corporativa permeiam, em maior ou menor grau, todas as práticas do Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, e sua adequada adoção resulta em um clima de confiança tanto internamente quanto nas relações com terceiros. 

Integridade

Praticar e promover o contínuo aprimoramento da cultura ética na organização, evitando decisões sob a influência de conflitos de interesses, mantendo a coerência entre discurso e ação e preservando a lealdade à organização e o cuidado com suas partes interessadas, com a sociedade em geral e com o meio ambiente.

Transparência

Disponibilizar, para as partes interessadas, informações verdadeiras, tempestivas, coerentes, claras e relevantes, sejam elas positivas ou negativas, e não apenas aquelas exigidas por leis ou regulamentos. Essas informações não devem restringir-se ao desempenho econômico-financeiro, contemplando também os fatores ambiental, social e de governança. A promoção da transparência favorece o desenvolvimento dos negócios e estimula um ambiente de confiança para o relacionamento de todas as partes interessadas.

Equidade

Tratar todos os sócios e demais partes interessadas de maneira justa, levando em consideração seus direitos, deveres, necessidades, interesses e expectativas, como indivíduos ou coletivamente. A equidade pressupõe uma abordagem diferenciada conforme as relações e demandas de cada parte interessada com a organização, motivada pelo senso de justiça, respeito, diversidade, inclusão, pluralismo e igualdade de direitos e oportunidades.

Responsabilização (Accountability)

Desempenhar suas funções com diligência, independência e com vistas à geração de valor sustentável no longo prazo, assumindo a responsabilidade pelas consequências de seus atos e omissões. Além disso, prestar contas de sua atuação de modo claro, conciso, compreensível e tempestivo, cientes de que suas decisões podem não apenas responsabilizá-los individualmente, como impactar a organização, suas partes interessadas e o meio ambiente.

Sustentabilidade

Zelar pela viabilidade econômico-financeira da organização, reduzir as externalidades negativas de seus negócios e operações, e aumentar as positivas, levando em consideração, no seu modelo de negócios, os diversos capitais (financeiro, manufaturado, intelectual, humano, social, natural, reputacional) no curto, médio e longo prazos. Nessa perspectiva, compreender que as organizações atuam em uma relação de interdependência com os ecossistemas social, econômico e ambiental, fortalecendo seu protagonismo e suas responsabilidades perante a sociedade.

(Fonte: Instituto Brasileiro de Governança Corporativa/IBGC)

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