A Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgou que o mês de maio confirmou a tendência já observada nos meses anteriores: aumento das exportações para o mercado asiático pautada em commodities e queda para os outros destinos.

A desvalorização do real num cenário de elevada instabilidade não auxilia um desempenho favorável das vendas externas de produtos industriais, que continuam em queda.

A desvalorização da taxa de câmbio efetiva real foi de 40%, entre dezembro de 2019 e maio de 2020, quando alcançou um valor superior aos dos meses turbulentos entre meados de 2015 e início de 2016. No início de junho, o câmbio valorizou, o que mostra o cenário atual de instabilidade.

O saldo da balança comercial foi de US$ 4,5 bilhões em maio, abaixo US$ 1,1 bilhões do valor de maio de 2019. No acumulado do ano até maio, o saldo foi de US$ 15,5 bilhões, resultado inferior em US$ 4,8 bilhões a igual período de 2019. A piora na balança é explicado pela queda mais acentuada das exportações (-7,2%) em relação às importações (-2,5%) na comparação interanual do acumulado até maio.

Observa-se, porém, que os dados de importações foram afetados pelas plataformas de petróleo em maio de 2020. Essas operem no país, porém eram registradas em subsidiárias da Petrobras no exterior para obtenção de isenções fiscais. Com a instituição do regime aduaneiro especial Repetro-Sped, em 2018, as plataformas têm sido nacionalizadas, o que influencia o valor das importações. Sem as plataformas, as importações em maio teriam recuado em 29% e o saldo seria de US$ 7,3 bilhões, o maior saldo desde 2018. O saldo seria maio, mas explicado pela queda das importações puxada pela retração da atividade econômica.

Após registrarem queda no volume entre os meses de abril de 2019 e 2020, o volume exportado aumentou 4,1% e o importado, 0,9% na comparação interanual dos meses de maio. Observa-se, porém o efeito das plataformas de petróleo nas importações. Excluindo esse item, o recuo nas importações foi de 19,6%. em volume. A maior queda, desde abril de 2016, na série que analisa as importações exclusive plataformas.

No acumulado ano até maio, as exportações recuaram 1,5% e as importações aumentaram 4% – mas recuaram 0,9%, se excluirmos as plataformas.

O aumento do volume exportado é explicado pelas commodities, que aumentaram 23,7% na comparação entre os meses de maio e 10,9%, na comparação interanual do acumulado até maio. Em termos de valor, as exportações de commodities caíram 1,5% e aumentaram 4%, respectivamente entre os meses de maio e no acumulado do ano até maio. Ressalta-se que o aumento no volume tem sido compensado pela retração dos preços em maio (-20,5%) e no período de janeiro/maio (-5,2%), o que explica o comportamento do valor.

As vendas de não commodities caem na comparação de maio (-27,7%) e no acumulado (-20,3%), com queda de preços em ambos os casos.

As commodities explicaram 71% das exportações brasileiras em maio e, logo, influenciam no comportamento dos termos de troca. O recuo de 14,3% nos preços desse grupo entre abril e maio levaram a uma queda nos termos de troca. Na comparação interanual do mês de maio, os termos de troca caíram 5,6%.

A liderança das commodities nos volumes exportados está associado ao setor de agropecuária que registrou uma variação de 44,2% entre os meses de maio de 2019 e 2020, seguido do aumento de 11,3% da indústria extrativa. A indústria de transformação teve nova queda (-13,7%), o que vem correndo desde o início do ano, exceto março, na comparação interanual mensal entre 2019 e 2020. No acumulado do ano até maio, porém, somente a agropecuária registrou variação positiva no volume exportado em relação a 2019.

Em termos de participação no valor, a agropecuária explicou 32% do total exportado em maio de 2020, extrativa, 16% e transformação, 51% – a indústria extrativa registrou queda de 5%. A indústria de transformação não se beneficia da desvalorização cambial num cenário de queda no comércio mundial e recuou 17,1%, na mesma base de comparação. O resultado desse desempenho é que entre os primeiros quadrimestres de 2019 e 2020, todas as indústrias, exceto agropecuária mostraram queda nos volumes exportados.

Ressalta-se a crescente ‘comoditização’ da indústria de transformação. Em maio, 50% das exportações desse setor eram de commodities. No início dos anos 2000, esse percentual ficava ao redor de 30%. As exportações de commodities da indústria de transformação recuaram 8% e as não commodities do setor, 35%, entre maio de 2019 e 2019, enquanto a agropecuária elevou em 39%, suas exportações. Logo, as commodities de maior valor adicionado que estão na transformação não têm apresentado bom desempenho.

Já destacada no ICOMEX de abril, a dependência das exportações das commodities, em especial do setor agropecuário, se traduz na crescente e contínua importância da China na pauta de exportações do Brasil. Em maio, o volume exportado para a China cresceu 64,7% em relação a igual mês de 2019 e caiu para o restante da Ásia. Mesmo assim, China e o restante da Ásia são os únicos mercados com variação positiva na comparação do período de janeiro/maio entre 2019 e 2020.

Em todos os outros mercados, o volume exportado recuou seja na comparação mensal ou no acumulado do ano até maio. Destacam-se as quedas para a Argentina (-55,2%), México (-46,6%), Estados Unidos (-36,8%) e demais América do Sul (-30%). A menor queda da União Europeia em relação aos Estados Unidos está relacionada à maior presença de commodities na pauta de exportações para esse mercado.

Confirma-se, portanto, a importância do mercado da China para que a crise no comércio mundial atenue a queda nas exportações brasileiras. Como pode ser observado, a China explicou 32,5% das exportações brasileiras e 20,8% das importações, no período de janeiro a maio de 2020. O mercado chinês é, portanto, vital para um desempenho favorável das exportações brasileiras. Ao mesmo tempo, as oportunidades para a diversificação da pauta exportadora caminham devagar. Em maio, 78% das exportações para a China foram compostas de soja em grão (52,8%), minério de ferro (13,4%) e petróleo (12,2%). As carnes bovina, suína e de frango somaram 9,5% das exportações para o país.

A variação nas exportações por categoria de uso da indústria de transformação é negativa na comparação mensal ou no acumulado até maio, exceto para bens não duráveis de consumo e bens intermediários.

No caso das importações, a variação de 78,7% (maio) e de 22,2 % (no acumulado) é influenciada pelas plataformas de petróleo, como já mencionado. Se excluirmos as plataformas, há uma queda nos bens de capital de 39,9% (maio) e de 3,7% no acumulado até maio que passa para 10,2%. Esse resultado afeta a indústria de transformação. Havíamos registrado uma queda de 13,7% na comparação interanual entre maio de 2019 e 2020 e sem as plataformas passa para um recuo maior de 19,5.

O cenário recessivo da economia explica a queda nas compras de máquinas e equipamentos para o setor de agropecuária e indústria. Para o setor agropecuário, os resultados no nível de atividade são positivos, mas a desvalorização do real encarece a compra de novos equipamentos. Por outro lado, as compras de insumos não produzidos no mercado doméstico são indispensáveis para a garantia das safras, o que explica o aumento dessas compras. Para a indústria, a queda no nível de atividade é refletida no recuo das compras de bens intermediários.

Perspectivas

O início de junho iniciou com uma perspectiva moderadamente otimista sobre retomada das atividades nos mercados dos países europeus, asiáticos e os Estados Unidos. No final da segunda semana de junho, a divulgação de uma possível segunda onda de epidemia na China acendeu novamente o alerta de um cenário ainda incerto. A projeção da OMC de uma queda no comércio mundial entre 13% e 32% continua no radar.

No Brasil, a queda das importações e um desempenho favorável das commodities no primeiro semestre atenuam pressões sobre o déficit da conta corrente. No segundo semestre, os resultados dependem de como será uma possível retomada da atividade econômica o mundo e no mercado doméstico.

(MR – Agência Enfoque)

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