É amanhã! Depois dos votos via correio, o eleitor vai às urnas nos Estados Unidos nesta terça-feira (5) e juntamente às escolhas para o legislativo, ou vai eleger o republicano Donald Trump ou a democrata Kamala Harris para a Casa Branca a partir de 2025. As discussões em torno dos candidatos e suas visões econômicas têm gerado grande expectativa no mercado, ainda mais em uma disputa acirrada como essa.
Como profissional de mercado, Lucas Sharau, assessor da iHub, acredita que os cenários de vitória para cada um podem ter consequências diretas sobre os investimentos globais, inclusive para os mercados emergentes como o Brasil. “Embora seja impossível prever com certeza quem sairá vencedor, as convicções públicas e o histórico de cada candidato nos permitem traçar algumas tendências no mercado financeiro.”
Impacto Global
Para Sharau, a vitória de Kamala Harris provavelmente seria vista como uma continuidade das políticas de Biden, “com foco em multilateralismo e comércio global mais aberto. Isso geraria otimismo em mercados internacionais, especialmente na Europa e Ásia”.
Mas ele faz uma ressalva porque a postura de Kamala em relação à regulação financeira e tributária interna pode gerar algum grau de volatilidade no mercado de ações.
Além disso, o assessor da iHUb comenta que os ciclos de aumento das taxas de juros nos EUA, para conter pressões inflacionárias, podem influenciar negativamente os mercados emergentes, à medida que o capital pode ser direcionado para ativos norte-americanos. Assim, a vitória de Kamala, embora traga estabilidade política, pode vir acompanhada de um cenário de política monetária mais restritiva no curto prazo.
Cenários
Na vitória de Trump:
Bitcoin: Durante seu primeiro mandato, Trump adotou uma postura cética em relação às criptomoedas, posicionando-se contrário ao Bitcoin em diversas ocasiões. Uma vitória de Trump pode trazer maior pressão regulatória sobre o mercado de criptoativos, o que tende a gerar volatilidade. No curto prazo, essa incerteza regulatória pode levar à queda no valor do Bitcoin. Além disso, com os possíveis ciclos de aperto monetário e elevação dos juros para conter a inflação, a atratividade de ativos mais arriscados, como o Bitcoin, pode diminuir, levando investidores a preferirem ativos mais estáveis.
Dólar: Trump tem histórico de fortalecer o dólar com políticas protecionistas, principalmente em momentos de tensões comerciais com parceiros como a China. Um ciclo de alta de juros pelo Federal Reserve para combater a inflação, combinado com a postura protecionista, tende a impulsionar o dólar ainda mais, prejudicando moedas de mercados emergentes, como o real brasileiro. No entanto, a força excessiva do dólar pode prejudicar as exportações e pressionar o comércio global.
Ibovespa: o Ibovespa pode sofrer com uma vitória de Trump, dado o aumento das tensões comerciais globais e a fuga de capital de mercados emergentes em busca de ativos mais seguros nos EUA. Com a possibilidade de um ciclo de elevação de juros nos EUA, os investidores podem retirar seus recursos de países emergentes, como o Brasil, em busca de maior rentabilidade em ativos norte-americanos. Setores exportadores brasileiros, como commodities, poderiam ser particularmente afetados pela instabilidade comercial.
Na vitória de Kamala:
Bitcoin: Kamala Harris tende a seguir uma abordagem mais regulatória e tecnicamente informada sobre criptoativos, alinhando-se à agenda de inovação financeira. Isso pode trazer uma maior institucionalização do Bitcoin no longo prazo. Entretanto, se houver um ciclo econômico de aumento nas taxas de juros para controlar a inflação, ativos de risco, como o Bitcoin, podem ser pressionados no curto prazo, pois os investidores geralmente buscam ativos mais conservadores em tempos de aperto monetário.
Dólar: a política de Kamala Harris, seguindo a linha de Biden, deve ser menos agressiva no comércio internacional, o que pode enfraquecer o dólar em relação a outras moedas fortes. No entanto, a inflação interna nos EUA pode forçar o Federal Reserve a manter ciclos de alta de juros, fortalecendo o dólar no médio prazo. Uma vitória de Kamala poderia, assim, representar um equilíbrio entre a recuperação econômica global e a manutenção de uma política monetária rígida, sustentando o valor do dólar.
Ibovespa: O Brasil pode se beneficiar com uma vitória de Kamala Harris, especialmente em setores como tecnologia e energias renováveis, áreas que ela deve priorizar. A abertura comercial e a maior estabilidade política internacional tendem a favorecer o fluxo de capital para mercados emergentes. Entretanto, um cenário de aumento de juros nos EUA pode criar um desafio para o Ibovespa, uma vez que o capital estrangeiro poderia ser atraído de volta aos EUA em busca de melhores retornos em renda fixa.
Relação Brasil e EUA
Trump eleito: sob o governo Lula, uma vitória de Trump poderia complicar as relações comerciais entre Brasil e EUA, devido às políticas protecionistas de Trump. Embora o agronegócio brasileiro possa se beneficiar de uma menor regulamentação nos EUA, tensões em outros setores, como o de energias renováveis e tecnologia, podem surgir. A expectativa de ciclos econômicos mais apertados e juros mais altos também pode dificultar a relação comercial, à medida que o Brasil enfrentaria dificuldades para atrair capital internacional.
Kamala eleita: a relação entre Brasil e EUA com Kamala Harris na presidência seria mais cooperativa. No entanto, o foco de Harris em questões ambientais e sociais pode gerar tensões com o governo Lula, principalmente devido às políticas ambientais brasileiras. Por outro lado, um ciclo de juros mais controlado nos EUA, combinado com uma abertura ao comércio internacional, poderia fortalecer as relações comerciais e atrair investimentos para o Brasil, especialmente em setores como energias renováveis e tecnologia.