Em 1984 duas mulheres empreendiam e abriam um laboratório de análises clínicas em Brasília (DF). Janete Vaz e Sandra Soares Costa, hoje no Conselho de Administração do Grupo Sabin, faziam história. E continuaram fazendo. Em 2014, as fundadoras decidiram por uma gestão profissionalizada, acompanhando um movimento de crescimento e diversificação da empresa. Formaram um Conselho de Administração e promoveram ao cargo de presidente do grupo uma mulher que havia ingressado na empresa em 1999: Lídia Abdalla.

A trainee, mineira, recém formada em Farmácia e Bioquímica na Universidade de Ouro Preto, atuou na área técnica, fazendo análises no laboratório. Passou a gerente da área de coleta. Fez um mestrado em Ciências da Saúde. E foi se especializando na área de saúde e crescendo com o grupo.

O gosto por “lidar com as pessoas” casou com a filosofia que encontrou na empresa. “O Sabin é um grupo fundado por mulheres que tiveram sempre como marca o cuidado com as pessoas”, destaca Lídia Abdalla, em relação ao grupo ao qual é Presidente Executiva desde 2014. Hoje, lidera 5700 funcionários que trabalham em um conglomerado espalhado por 12 estados e no Distrito Federal, 53 cidades e 296 unidades de atendimento.

Ainda em 2010, Lídia foi chamada por Janete e Sandra para trabalhar com elas no projeto de expansão geográfica. Em 2014, o crescimento veio junto com a diversificação. Passaram de uma empresa de laboratório de análises clínicas e alguns serviços de imunização, e foram somando negócios, como de diagnóstico de imagem, e até uma startup de pronturário eletrônico, visando a transformação digital que está evidente hoje no setor.

“Talvez o grande aprendizado que tenha me marcado nem tenha sido ser a primeira presidente profissional do grupo, mas ter que lidar, não somente com projeto de crescimento, mas com a diversificação dos negócios, onde encontra-se barreiras e riscos desconhecidos”, destaca Lídia. 

Para conhecer mais esta CEO mulher, propomos uma conversa com a Presidente do Grupo Sabin, Lídia Abdalla, que tem 47 anos e um filho de 13. Conhecemos um pouco sobre o que ela pensa e ainda almeja, qual é sua visão dos desafiadores últimos doze meses e como tem trabalhado para manter uma das marcas do grupo desde sua fundação: a diversidade. Cerca de 77% dos funcionários do grupo são mulheres, com destaque para a forte presença delas entre as lideranças, o que diferencia o grupo de outras empresas do setor de saúde.  

Divulgação Grupo Sabin

Esses doze últimos meses foram muito particulares na vida de todos nós. Qual é a sua visão desse momento no dia a dia do Grupo Sabin e como você atuou para que ele acontecesse dessa forma?

O momento, sem dúvida, representou um peso na saúde emocional das mulheres. No Sabin, desde o início da pandemia, temos trabalhado os cuidados com as nossas pessoas. Como uma empresa de saúde, sabíamos que teríamos que enfrentar a situação de frente. No começo da pandemia conseguimos colocar algumas áreas em home office, como o marketing e Tecnologia da Informação, por exemplo, mas 80% dos nossos funcionários são da linha de frente, são técnicos, médicos bioquímicos, atendem aos clientes.

Então, focamos nos nosso programa de qualidade de vida. Já tínhamos vários deles voltados aos cuidados de saúde das pessoas, olhando o ser humano de forma holística, física, mental, financeira. Temos uma academia dentro do Sabin, que coordena toda a área de esporte e atividade física. Devido à pandemia, a academia fechou, mas passamos a orientar atividade físicas em casa, fazendo lives, convidando as famílias para participar, intensificando o atendimento e tele consulta 24 horas. Por uma questão de risco, qualquer funcionário com sintoma de covid poderia acionar esse serviço. Também disponibilizamos atendimento psicológico.

Nesse momento o cliente também mudou e precisou de outro tipo de atendimento. Passou a ficar dentro de casa. No início da pandemia, todas as pessoas ficaram dentro de casa, pararam de fazer tudo. Nossas receitas caíram pela metade, mas tivemos que fazer investimentos, mudar o fluxo de atendimento, adequar à necessidade de distanciamento social. Por isso, quintuplicamos o serviço de coleta móvel.

De fato, não sofremos financeiramente da mesma forma que outros segmentos sofreram, até crescemos, pela demanda de exames de covid, por exemplo. Porém, sofremos com uma rentabilidade menor. Nosso custo operacional aumentou. Tivemos que comprar equipamentos de proteção individual (EPIs) mais caros. Enfrentamos o desafio de sustentabilidade financeira.

Você está CEO em uma empresa iniciada por mulheres. Na sua visão, como esse “fato histórico” marca o dia a dia da empresa e o que poderíamos destacar em relação a aspectos como diversidade e inclusão?    

A empresa vai fazer 37 anos. Poucas mulheres empreendiam na época e mantiveram os negócios abertos até hoje. E é claro que faz toda a diferença (ser uma empresa fundada por mulheres). Muito do que falamos de diversidade, equidade, isso está na nossa essência, cultura, porque elas (as fundadoras) nunca viram problemas em ter outras preocupações além do trabalho. Promovemos mulheres grávidas aqui no Grupo, porque as fundadoras sempre souberam equilibrar vida pessoal e profissional, pois tiveram filhos. Ou seja, crescer profissionalmente e pessoalmente.

Ter as duas “carreias”, ser mãe e ser profissional, sempre foi muito normal para elas e é algo estimulado na empresa. E isso influencia a cultura do respeito, da justiça, da liberdade às pessoas serem como são. E isso se estende a outros pontos de diversidade: ser justo, respeitar, ouvir, dar oportunidade, de fato, a mulheres, brancos, negros…

Em 2018 criamos o Comitê de Diversidade, que tem grupos de afinidades, que cuidam dos programas, pensando muito em levar os nossos programas, o que pensa e o que se acredita sobre diversidade para todas as unidades do Brasil. Hoje somos muito capilarizados. Esse grupo trata de equilidade de gênero, raça, orientação sexual e geracional, e como, de fato, promover um ambiente em que possamos ter profisisonais jovens e maduros trabalhando juntos e como podemos aproveitar o que têm de melhor.

Em relação às nossas pessoas, sempre priorizamos processos seletivos internamente. Já promovemos gestantes. Um exemplo é que há seis anos abrimos um processo interno na área de Recursos Humanos, inclusive relacionado ao nosso projeto de crescimento. Tinhamos três candidatos na fase final, e aprovamos uma gestante no oitavo mês de gestação. Ela foi aprovada, a área sabia que teria que aguardar. Ela cumpriu sua licença, voltou e assumiu o seu cargo.

Entendemos que não adianta criar programas, ter políticas, ter tudo por escrito, fazer comunicações por e-mail, fazer lives e encontros – é tudo importante, é claro. Mas para ser vivo e real, as pessoas tem que ver a equidade acontecendo no dia a dia.

O que você ainda adoraria fazer e contribuir para que acontecesse no mundo?

Tenho um filho de 13 anos. Eu gostaria de ver meu filho crescer e se tornar bom para a sociedade. Ser uma pessoa que tenha sucesso, e não necessariamente material, mas como pessoa, que seja feliz e bom para a sociedade.

Profissionalmente, estou sempre buscando novos aprendizados. Tento sempre ter humildade em saber que temos algo novo para aprender. Esta pandemia tem nos ensinado todos os dias isso.

As pessoas muitas vezes me perguntam se tenho sonhos de novos cargos. Não tenho sonho de outros cargos, mas de novos aprendizados, de trazer novas competências e habilidades que ainda não sei. Independentemente da idade que tiver, seguir com minha carreira.

E entendo que temos que deixar marcas positivas para aqueles que estão em nossa volta. Eu tenho o privilégio de liderar 5700 pessoas. Quero deixar o legado de que é possível trabalhar de forma ética e responsável com qualidade, independentemente dos desafios. Ninguém imaginaria que estaríamos convivendo com o coronavírus. Sem dúvida, é o maior desafio das últimas gerações, para a sociedade e para as empresas.

Publicidade

Investir sem um preço-alvo é acreditar apenas na sorte