Uma semana de muitas alternativas nos mercados de risco, muitas decisões previsíveis e o foco central ainda mantido nas relações comerciais entre os EUA e a China, além de eleição no Reino Unido. Aqui, o Congresso trabalhou para aliviar a pauta, mas também cobrou caro em distribuição de recursos. Além disso, indicadores de conjuntura mostram melhora da situação, ou pelo menos, mostram um pouco mais de tração da economia.

No cenário externo, o período foi marcado por decisões de política monetária em reuniões de bancos centrais. Tivemos o FED americano, o BCE (Banco Central Europeu) e o Copom, por aqui. Todas as decisões vieram exatamente como esperadas. O FED manteve a taxa de juros estabilizada, o BCE também permaneceu com a mesma política e o Bacen reduziu a taxa Selic, exatamente com previsto.

O FED manteve os juros estáveis no intervalo entre 1,50% e 1,75% e também manteve a autorização para recompra de títulos Repo. Seguiu afirmando mercado de trabalho e consumo das famílias forte, PIB crescendo 2,2% em 2019 (2,0% em 2020), inflação convergindo para a meta (PCE 1,5% em 2019), investimentos das empresas mostrando fraqueza. A decisão foi seguida de coletiva do presidente Jerome Powell reforçando os termos do comunicado, falando das incertezas e tensões global e deixando clara a perspectiva dos membros do FOMC de que esse patamar de juros pode permanecer por todo o ano de 2020.

O BCE, na primeira reunião da presidente Christine Lagarde, também manteve a taxa de depósito negativa em 0,50%, taxa de refinanciamento em zero e contratos de ativos de 20 bilhões de euros por mês. Lagarde espera que QE (quantitative easing) termine logo antes de elevarem juros, tem consciência dos efeitos derivados da manutenção da política estabelecida, mas vai manter essa situação até que a inflação se aproxime da meta. Só para dar uma ideia, a inflação anual na zona do euro está em 1,1%, bem inferior à meta. Lagarde diz que as incertezas afugentam investimentos, mas espera fazer revisões na política monetária a partir de janeiro.

Se na política monetária a situação não mudou, no que tange às relações comerciais entre EUA e China o noticiário foi bastante desencontrado durante toda a semana. Porém, em 12/12, aparentemente esclareceram um pouco a situação (se bem que Trump muda de humor todos os dias). O presidente Trump, disse que estão muito perto de um grande acordo com a China, e o noticiário deu conta que os EUA teriam feito proposta de cortar tarifas em 50% sobre os US$ 360 bilhões e cancelar a tarifação que vigoraria em 15/12 (novembro contra igual período de 2018 as importações de soja expandiram 54%), desde que os chineses firmassem compromisso de compra de muito mais produtos de agricultores americanos. Já a China teria pedido exatamente o cancelamento de tarifas, mas fez críticas sobre lei sancionada por Trump que respalda as manifestações em Hong Kong. Aí ainda teremos muitas informações e contra informações.

Essa situação durou pouco, com Trump dizendo que o Wall Street Journal (WSJ) estava completamente errado em dizer que tarifas seriam canceladas e reduzidas, mas a China confirmou isso nos termos da fase 1 do acordo. Durante a semana, os EUA anunciaram mais sanções contra o Irã, e também contra o Iêmen. No Reino Unido, tivemos eleições em 12/12 para o parlamento e as pesquisas davam conta que os Conservadores poderiam perder algumas cadeiras e os Trabalhistas aumentariam a presença. Tal não aconteceu e Boris Johnson conquistou a maioria no parlamento, o que facilita as negociações do Brexit.

Em termos de indicadores de conjuntura, o saldo comercial da Alemanha expandiu mais que o previsto para 20,6 bilhões de euros em outubro e houve deflação pelo COI de 0,8%, mas com a taxa anual em +1,1%. Na zona do euro, a produção industrial encolheu 0,5%, de previsão de -0,3%. Nos EUA, a inflação medida pelo CPI (consumidor) subiu 0,3% em novembro, com núcleo em +0,2%. A taxa anual está em 2,1% e o núcleo com 2,3%. Já a inflação no atacado (PPI), ficou estável e o núcleo subiu 0,2%. Os pedidos de auxílio-desemprego cresceram 49.000 posições para 252.000, quando o previsto era ficar em 212.000 pedidos.

Na China, a inflação medida pelo CPI mostra taxa anualizada de 4,5% em novembro, a maior em quase oito anos. Já o PPI (atacado), teve deflação de 1,4%. Lá, novos empréstimos expandiram 1,39 trilhão de yuans, pouco acima do previsto. A base monetária cresce anualizada em 8,2%. O saldo da balança comercial mostrou superávit de US$ 38,7 bilhões, com importações crescendo em novembro 0,3% e exportações encolhendo 1,1%. A China declarou que seguirá com política fiscal proativa e política monetária flexível.

Falando de Copom, em 11/12 foi anunciado que a Selic caiu para 4,50%, vindo de 5% como previsto, sem comprometimento do Copom com os passos seguintes, mas deixando a porta aberta para pelo menos, um corte de juros em fevereiro. Seguem dizendo que é essencial perseguir reformas, que a economia começa a ganhar maior tração e ritmo gradual e que as incertezas ampliaram a trajetória da inflação no horizonte relevante. A economia segue prescrevendo política monetária acomodatícia.

Boas notícias também advindas da maior agência de classificação de risco, a S&P. A agência não elevou a nota do Brasil, mas melhorou a perspectiva.

Como decorrência disso, várias empresas tiveram a perspectiva elevada, como Petrobras, B3SA. Paulo Gudes pegou carona nisso dizendo que a S&P capturou bem as mudanças e acrescentando que se o Brasil mantiver o ritmo de reformas retomará rapidamente o crescimento acelerado.

No cenário local, a pesquisa semanal Focus do Bacen trouxe algumas mudanças importantes, com a inflação oficial de 2019 subindo para 3,84% (anterior em 3,52%), o PIB crescendo para 1,10% (de 0,99%) e o saldo da balança comercial expandindo para US$ 43,60 bilhões. Aliás, o saldo da balança comercial até a primeira semana de dezembro mostrava superávit de US$ 42,7 bilhões. O Bacen anunciou o fluxo cambial até 06/12 negativo em US$ 2,83 bilhões, acumulando saídas no ano de 2019 de US$ 30 bilhões.

Aqui, as vendas no varejo cresceram em outubro 0,1% e em 2019 algo como 1,6%, O varejo ampliado registra alta no ano de 3,8%. Nos últimos seis meses o varejo cresceu 2,7%, mas ainda estamos 14,4% abaixo do pico ocorrido em outubro de 2014. O volume de serviços prestados subiu 0,8%, mesma expansão considerada para o ano. A receita bruta nominal de serviços cresceu 1,4% em outubro e serviços prestados as famílias com alta de 1,5%. Também estamos operando 9,7% abaixo do pico de novembro de 2014. O IBC-Br de outubro mostrou alta de 0,17%, inferior ao previsto, com a taxa anual em 0,9%%. No trimestre agosto/outubro comparativo a igual período de 2018, houve expansão de 1,16%. Foi mais uma boa sinalização de que o quarto trimestre pode vir melhor, melhorando também o carregamento para o ano de 2020.

Do lado político, o Senado aprovou o pacote anticrime e o projeto vai para a sanção do presidente. Já a Câmara aprovou o texto base do marco regulatório do saneamento e deixou para votar destaques na próxima semana. Isso será positivo para destravar investimentos privados no segmento.

No mercado acionário, situação de retirada de recursos dos investidores estrangeiros não mudou. Até o último dia 10/12 já saíram recursos no montante de R$ 2,96 bilhões, aumentando as saídas líquidas do ano para R$ 42,2 bilhões.

Perspectivas    

De uma forma mais geral o cenário internacional e local ficaram mais amigáveis e favoráveis aos ativos de risco em todo o mundo. A economia americana deve crescer dentro do esperado e reconfirmado pelo FED em comunicado, a China fixando meta de crescimento do PIB para 2020 em 6,0% e voltando a investir, a Europa provavelmente já tendo ultrapassado sua pior fase, mas ainda existindo muitas incertezas na economia global. Uma delas já permitindo algumas previsões com a eleição no Reino Unido e rumo do Brexit com Boris Johnson saindo fortalecido.

Apesar disso, o foco principal, o acordo bilateral de comércio entre EUA e China, ainda tem lances rocambolescos protagonizados pelo presidente Trump. Quando tudo parecia correr para assinatura da primeira fase do acordo, eis que Trump diz que o Wall Street Journal (WSJ) está totalmente errado sobre não aplicação de tarifas contra a China. Já a China, confirmou o acordo, mas os detalhes ficaram para depois, Trump confirmou que as tarifas previstas para 15/12 não serão aplicadas e vão começar a segunda fase do acordo. Isso alivia tensões.

No ambiente interno, passamos por uma semana importante com o Congresso voltando a reduzir a pauta, agências de risco avaliando melhor o país e suas mudanças previstas, além de alguns indicadores que mostram que a economia está ampliando a tração, ainda que de forma lenta, mas com consistência que não era vista em meses anteriores.

Novamente temos que usar “um porém”. Será preciso continuar a perseverar em reformas, ajustes e mudanças microeconômicas, para que o quadro positivo permaneça e influencie a precificação positiva dos ativos de risco por aqui. A direção parece boa, mas a implementação é ainda sofrida.

De qualquer forma mantemos nossa percepção de mercados ainda positivos, mesmo depois de sucessivos recordes da Bovespa e mercados americanos.

Ainda é possível atingir 115.000 pontos do Ibovespa, desde que haja fluxo carreado e as notícias locais continuem favoráveis.
Alvaro Bandeira
Economista-chefe do banco digital Modalmais

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