Era uma segunda-feira de sol, quando você abre o aplicativo da sua corretora de valores e percebe que o seu fundo de renda fixa estava apresentando uma rentabilidade negativa. 

Começa a suar frio mas pensa, “deve ter algo errado aqui, afinal de contas eu investi em um fundo de renda fixa porque sou conservador e sei que poderia ganhar menos, mas não perderia. Deve ser algum problema no aplicativo!”

Infelizmente não, caro(a) leitor(a). A verdade é que títulos e fundos de renda fixa podem ter rentabilidades negativas devido a determinadas circunstâncias que estão condicionadas ao mercado financeiro.

Vamos entender primeiro o que acontece com a chamada Renda Fixa, e porque ela nem sempre é “Fixa”. Existem os ativos pré-fixados e os pós-fixados, e nestes últimos a taxa de remuneração é composta por um indexador (como o CDI ou o IPCA) mais uma parcela pré-fixada, ou seja, existe a variação do indexador ao longo do tempo. 

Mas mesmo no caso dos investimentos em renda fixa pré-fixados, o investidor só terá uma rentabilidade fixa se os títulos forem levados até o vencimento dos mesmos, cuja data, você ou o gestor do fundo, acordou quando  adquiriu o mesmo.

Mas vamos usar o nosso exemplo do inicio para entender melhor. Imagine que você havia aplicado neste fundo que foi consultar no aplicativo, a quantia de R$5.000 no dia 30/03/20 e que hipoteticamente, o fundo comprou um titulo com vencimento para 13 anos e este passou a ser o único  ativo existente na carteira. Só que você decidiu sacar seu dinheiro no dia 06/04/20 (uma semana depois) e o fundo teve que vender o titulo antecipadamente para poder pagar seu resgate.

O que acontece é que neste momento o titulo, no mercado, possuía um valor diferente daquele do momento da contratação, devido a chamada Marcação a Mercado (MaM), que é a forma como os valores de títulos devem ser atualizados diariamente pelos fundos, desde 2002, para garantir que não haja transferência de riqueza entre os cotistas, ou seja, um tenha prejuízo enquanto outro tenha lucro. 

E essa marcação segue uma curva chamada usualmente de Curva de Juros (o nome correto é estrutura a termo da taxa de juros) conforme mostra o gráfico abaixo.

Nela podemos ver que o titulo comprado (admitindo que essa tenha sido a taxa de compra) apresentava o valor de 4,299% a.a no dia 30/03 mas devido aos efeitos do Corona vírus e as incertezas da economia, uma semana depois esta taxa subiu para 4,589% a.a devido a estes riscos e outros fatores.

Como o titulo do seu fundo tem uma rentabilidade atual menor do que a taxa existente no mercado (4,589% a.a) mas precisa ser vendido para realizar o pagamento, o seu valor deverá ser inferior em relação ao valor aplicado inicialmente. 

É claro que este exemplo é fictício e teve o intuito de demonstrar de uma forma muito simplificada, para fins didáticos, o que realmente pode acontecer quando um gestor de fundo precisa gerenciar a carteira de ativos e assim, escolher quais da carteira irá vender, de maneira que o fundo possa pagar os resgates dos cotistas. 

Além disso existem outras variáveis, como a taxa de administração que também influem diretamente na rentabilidade e nos casos dos fundos DI, onde estas tendem a acompanhar o indexador, é ainda mais provável de se encontrar valores negativos dependendo da porcentagem de títulos de crédito privado ou atrelados a inflação, que existam na carteira do fundo.

Existe porém o “outro lado da moeda”. Se há títulos cuja a taxa de aquisição atual é atrativa e a expectativa do mercado para o valor no longo prazo se mantém, pode ser uma boa oportunidade de aproveitar o momento para aferir melhores rentabilidades futuras.

Por isso, mais uma vez reforço a necessidade de se ter claro os objetivos do investimento que se irá realizar, procurando planejar da forma adequada e evitando o aporte e resgate de investimentos, sem critérios, salvo em casos de extrema necessidade ou devido a mudanças radicais de cenário econômico que demandam maior estudo.    

Espero que seus investimentos sejam sempre prósperos e rentáveis!

Com educação financeira se vai mais longe.

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Investir sem um preço-alvo é acreditar apenas na sorte