Na noite de ontem, a Engie divulgou seus números referentes ao último trimestre de 2020. Estes decepcionaram o mercado, vindo abaixo das estimativas do consenso Bloomberg. O balanço foi negativamente impactado pelo volume de vendas mais fraco no mercado livre, além da menor atividade de trading. O lucro líquido foi impactado por uma piora no resultado financeiro, devido ao aumento de juros e variação monetária sobre valores a receber de terceiros, no montante de R$ 13,5 milhões, motivados, principalmente, pelos impactos de atualização monetária resultante de custo passado de compra de carvão recuperado pela Companhia. No entanto, contaram com avanços regulatórios importantes, como a aprovação da Lei que reconheceu o direito de compensação aos geradores hidrelétricos dos efeitos financeiros decorrentes de externalidades que agravaram o GSF ao longo dos últimos anos e a Medida Provisória 998, que criou condições para avançar na modernização do setor elétrico no Brasil, tornando-o cada vez mais sustentável e competitivo.
Entre os principais destaques, estão:
• O preço médio de venda de energia atingiu R$ 190,87/MWh no 4T20, 0,2% superior ao obtido no 4T19, cujo valor foi de R$ 190,53/MWh. Nos 12 meses de 2020, esse preço foi de R$ 193,78/MWh, 2,3% superior ao praticado em 2019, que foi de R$ 189,45/MWh;
• A quantidade de energia vendida em contratos passou de 10.037 GWh (4.546 MW médios) no 4T19 para 9.903 GWh (4.485 MW médios) no 4T20; uma redução de 134 GWh (61 MW médios), ou 1,3%, entre os períodos comparados. Em 2020, o volume de venda de energia foi de 37.889 GWh (4.313 MW médios); contra 37.925 GWh (4.329 MW médios) registrados em 2019, decréscimo de 36 GWh (16 MW médios) ou 0,4%;
• Nas compras de energia, foi observada uma redução de R$ 12,3 milhões (3,0%) t/t nas operações de compras para a gestão de portfólio de energia; em razão do: (i) decréscimo de 2,9% no preço médio líquido de compras de energia; e (ii) redução de 2 GWh (1 MW médio) na quantidade comprada;
• No segmento de Trading de energia, o resultado bruto entre os trimestres em análise reduziu R$ 42,9 milhões, passando de um lucro de R$ 1,2 milhão no 4T19 para um prejuízo de R$ 41,7 milhões no 4T20. Essa redução foi motivada pelos seguintes eventos: (i) R$ 37,3 milhões de impacto negativo oriundo da marcação a mercado das operações líquidas contratadas em aberto em 31 de dezembro de 2020 e de 2019; e (ii) R$ 14,4 milhões decorrentes de redução no resultado bruto das transações de compra e venda de energia realizadas. Esses efeitos foram parcialmente atenuados pelo aumento de R$ 8,8 milhões no resultado das transações no mercado de energia de curto prazo;
• O Ebitda aumentou R$ 971,3 milhões (73,7%) t/t, ficando em R$ 2.288,4 milhões no 4T20. A variação foi consequência da combinação dos seguintes efeitos positivos: (i) R$ 790,4 milhões (64,7%) no segmento de geração e venda de energia elétrica do portfólio da Companhia; (ii) R$ 183,2 milhões oriundos do segmento de transmissão de energia; (iii) R$ 33,5 milhões (38,6%) decorrentes de maior resultado de participação societária em controlada em conjunto – TAG; e (iv) R$ 7,2 milhões (600,0%) oriundo do segmento de painéis solares. Os referidos impactos positivos foram contrabalanceados pelo efeito negativo de R$ 43,0 milhões oriundo do segmento de trading de energia – dos quais R$ 37,3 milhões são provenientes dos efeitos da marcação a mercado e R$ 5,7 milhões originados das transações realizadas e das despesas operacionais;
• As despesas com vendas, gerais e administrativas apresentaram incremento de R$ 9,6 milhões (12,4%) nos trimestres em análise, aumentando de R$ 77,4 milhões no 4T19 para R$ 87,0 milhões no 4T20, em razão: (i) do acréscimo de R$ 10,1 milhões (13,6%) oriundo do segmento de geração e venda de energia do portfólio da Companhia, motivado, principalmente, pelos seguintes aumentos: (i.i) R$ 13,4 milhões nas despesas com pessoal; e (i.ii) R$ 3,1 milhões nas despesas com materiais e serviços de terceiros, dos quais se destacam a aquisição de serviços gerais de informática, alinhado com a política da Companhia de digitalização de seus processos e a aquisição de materiais de consumo relacionados às atividades de prevenção à Covid-19;
• No 4T20, as receitas financeiras atingiram R$ 36,3 milhões, R$ 1,1 milhão ou 3,1% acima dos R$ 35,2 milhões auferidos no mesmo trimestre de 2019, em razão, substancialmente, da combinação dos seguintes fatores: (i) aumento de juros e variação monetária sobre valores a receber de terceiros, no montante de R$ 13,5 milhões, motivados, principalmente, pelos impactos de atualização monetária resultante de custo passado de compra de carvão recuperado pela Companhia; e (ii) redução de R$ 11,1 milhões na receita com aplicações financeiras, motivada pela redução nas taxas de juros observada entre os trimestres;
• O lucro líquido do 4T20 foi de R$ 1.029,5 milhões; R$ 412,0 milhões ou 66,7% superior aos R$ 617,5 milhões apresentados no mesmo trimestre do ano anterior. Esse acréscimo é consequência dos seguintes efeitos: (i) aumento de R$ 971,3 milhões no Ebitda; (ii) decréscimo de R$ 19,4 milhões da depreciação e amortização; (iii) aumento de R$ 315,9 milhões das despesas financeiras líquidas; e (iv) acréscimo de R$ 262,8 milhões do imposto de renda e da contribuição social. Desconsiderando os efeitos não recorrentes que impactaram os períodos (repactuação do risco hidrológico e impairment no 4T20); o lucro líquido do 4T20 foi inferior em R$ 161,5 milhões (26,1%).
Impacto: Marginalmente Negativo. Os resultados vieram abaixo da expectativa do consenso Bloomberg. O balanço foi negativamente impactado pelo volume de vendas mais fraco no mercado livre, além da menor atividade de trading. O lucro líquido foi impactado por uma piora no resultado financeiro, devido ao aumento de juros e variação monetária sobre valores a receber de terceiros; no montante de R$ 13,5 milhões, motivados, principalmente, pelos impactos de atualização monetária resultante de custo passado de compra de carvão recuperado pela Companhia.