O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou a Visão Geral da Conjuntura, análise trimestral da economia brasileira. A previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), para 2022, foi mantida em 1,1%, com mudanças, porém, na composição setorial do crescimento.

Pela ótica da produção, houve redução do crescimento esperado para o setor agropecuário no ano, de 2,8% para 1%, devido à diminuição das estimativas para a produção de soja, que passaram a ser de queda de 8,8%, mesmo com o aumento de 3,7% da área plantada. Para a indústria, a taxa projetada anteriormente também foi reduzida, de um crescimento nulo para uma queda de 0,8%. Essa revisão decorreu do dado divulgado para o quarto trimestre de 2021, que veio abaixo do esperado e ensejou um carregamento estatístico negativo para 2022, além dos efeitos persistentes da desorganização das cadeias de abastecimento globais e dos impactos defasados do maior aperto monetário doméstico. A manutenção da taxa de crescimento do PIB projetada para 2022 em 1,1% decorre, portanto, da revisão para cima do crescimento esperado do setor de serviços, que passou de 1,3% para 1,8%. O maior otimismo em relação à evolução desse setor decorre principalmente da expectativa de redução gradual dos efeitos da pandemia sobre a mobilidade urbana e as atividades econômicas. A recuperação do setor de serviços deverá sustentar o bom desempenho dos indicadores de ocupação, gerando um efeito positivo na demanda doméstica.

O cenário previsto para 2023 é de crescimento do PIB em 1,7%. Nesse cenário, a Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac) do Ipea considerou que a taxa de juros deverá ser gradualmente reduzida a partir do início de 2023 e fechar o ano em torno de 9%, acompanhando o movimento de queda nas taxas de inflação, o que deve favorecer o mercado de crédito e os investimentos. Um mercado de trabalho mais aquecido será determinante para a demanda. Espera-se também que o aumento de preços de commodities seja temporário no cenário base e a taxa de câmbio fique estável, em relação ao fim de 2022, em R&’65284; 5,20. Ainda mais importante, consideramos que haverá menos incerteza por conta do fim dos efeitos da guerra na Ucrânia e de efeitos mínimos da pandemia, o que deve garantir uma evolução positiva das atividades ligadas a comércio e serviços. No que se refere à política fiscal, este cenário pressupõe a manutenção de um arcabouço de regras fiscais compatível com o compromisso com a disciplina fiscal, mantendo sob controle o risco associado à evolução das contas públicas.

As previsões para a inflação também foram alteradas no mundo todo em função dos impactos econômicos do choque causado pelo conflito militar na Ucrânia. Mesmo diante de um comportamento mais benevolente do câmbio – com valorização de 15% no ano até agora -, a manutenção da trajetória de alta dos preços das commodities no mercado internacional, aliada ao impacto da guerra sobre os preços do petróleo e aos efeitos climáticos adversos sobre a produção doméstica de alimentos, levou a uma revisão das estimativas feitas pela Dimac/Ipea para 2022.

Para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a variação prevista em 2022 passou de 5,6% para 6,5%, enquanto que, para o Índice Nacional de Preço ao Consumidor (INPC), a taxa projetada mudou de 5,5% para 6,3%. Embora as estimativas de inflação para o ano tenham aumentado ao longo das últimas semanas, ainda se mantém a perspectiva de um cenário de desaceleração inflacionária, tanto para 2022 quanto para 2023. Além disso, mesmo acima do patamar projetado inicialmente, o IPCA e o INPC devem encerrar 2022 com uma variação bem abaixo da observada em 2021. Para 2023, as projeções de inflação indicam a manutenção dessa trajetória de desaceleração, com taxas previstas de 3,6%, tanto para o IPCA quanto para o INPC, no próximo ano.

O estudo analisa também a evolução da conjuntura recente, começando pela economia mundial e os reflexos da guerra, que levaram a revisão de expectativas em vários países: de maior inflação e de menor crescimento. Um box analisa a questão dos fertilizantes — produção nacional, importação e efeitos iniciais do conflito. Uma das conclusões é que, para a atual safra, o grosso das áreas já foi devidamente adubado e apenas a partir de agosto eventuais faltas de adubos podem de fato começar a afetar a agricultura.

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