O ICOMEX analisa os principais resultados do primeiro trimestre da balança comercial, onde se destaca o aumento de preços das importações liderado pelas importações dos bens intermediários da agropecuária e de bens da indústria extrativa, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ademais, é ressaltada a queda da participação da China nas exportações do primeiro trimestre do ano, interrompendo a trajetória de crescimento, iniciada em 2016.

Os choques de oferta causados pela pandemia da COVID 19 e mais a guerra entre a Rússia e a Ucrânia estão levando a um aumento da taxa de inflação mundial. No setor externo brasileiro, esses choques se fazem presente, principalmente nas importações, embora os preços das exportações também registrem aumentos de dois dígitos.

Entre março de 2021 e 2022, as exportações aumentaram, em valor, 19,4% e as importações, 21,5%. O volume exportado cresceu 0,9% e as importações recuaram em 7,0%. O aumento do valor é, portanto, explicado pelo comportamento dos preços: uma elevação de 17,8% nas exportações e 30,3% nas importações. Esse mesmo resultado se repete na comparação interanual dos primeiros trimestres de 2021 e 2022. Em volume, as exportações cresceram (9,5%) e as importações caíram 4,3%. Os preços aumentaram 32,8% nas importações e 18,2% nas exportações.

As exportações de commodities, em março, cresceram, em valor, 15,8% e as de não commodities 28,0%. A maior variação das não commodities é explicada pelo aumento no volume (8,0%) e nos preços (18,1%). As vendas, em volume, das commodities recuaram em 2,7%, mas os preços aumentaram com percentuais similares aos das não commodities, 18,3%. Quando se observa o resultado do trimestre, porém, os percentuais do aumento do volume e dos preços das commodities e não commodities estão próximos. No caso do volume, o aumento das commodities foi de 9,6% e das não commodities de 9,4%. E nos preços, os percentuais foram de 18,4% e 17,3% para as commodities e as não commodities.

O aumento dos preços importados é liderado pelo grupo das commodities, que, em março, cresceu 52,9% em relação a março de 2021. No caso das não commodities o aumento foi de 28,0%. Em volume, as compras de não commodities recuaram (8,9%) e das commodities aumentaram em 25,2%. Na comparação entre os primeiros trimestres de 2021 e 2022; o mesmo comportamento é observado com uma elevação de 53,1% nos preços das commodities e de 30,8% das não commodities. Em volume, as não commodities registraram queda de 5,7% e as commodities, aumento de 18,9%.

Destacamos o comportamento das exportações e importações de petróleo e derivados. O Brasil é exportador líquido desse grupo de commodities e; no primeiro trimestre, registrou saldo positivo de US$ 3,7 bilhões, o que representou 31% do superávit global da balança brasileira. Não obstante o crescimento em volume e preços das exportações desse grupo de commodities; as variações nos preços das importações, 71,1%, e no volume, 25,0%, superaram as das exportações. No mês de março, o aumento dos preços importados desacelerou em relação às comparações interanuais entre 2021 e 2022 dos meses anteriores, que foram de 72,4% (janeiro), 89,7% (fevereiro) e 53,9%(março). A valorização do real pode ajudar, mas o fator principal é o efeito da Guerra entre a Rússia e a Ucrânia e não se espera movimentos de deflação nos preços do petróleo.

A agropecuária liderou o aumento, em valor, das exportações (32,1%), seguida da indústria de transformação (28,2%), entre março de 2021 e 2022, enquanto a indústria extrativa registrou queda de 6,7%. Na comparação entre o primeiro trimestre do ano de 2021 e o de 2022, a agropecuária confirmou a sua liderança, com aumento, em valor, de 72,6%, seguida da transformação (33,6%) e da extrativa (0,2%).
Os índices de volume, em março, mostraram recuo em relação a março de 2021 para a agropecuária (2,5%) e extrativa (8,2%) e aumento para a transformação (6,9%). Em termos de preços, porém, todas as variações são positivas, mas a agropecuária saiu na frente com aumento de 36,9%, seguida da transformação 19,5% e da extrativa 1,0%. Na indústria extrativa, o óleo bruto de petróleo explicou 48,8% das suas exportações, seguido do minério de ferro, com participação de 44,1%. O volume exportado de petróleo caiu e volume e preços recuaram para as exportações de minério de ferro, o que explica o pior desempenho desse setor em comparação com os outros.

Nas importações, a liderança vai para a indústria extrativa em termos de preços (81,9%) e volume (11,2%), pois os volumes importados da agropecuária e da indústria de transformação caíram em relação a março de 2021. A pauta de importações da extrativa está concentrada em produtos do setor de energia, como explicam as participações de três produtos no total da importações do setor: petróleo (42,3%); gás natural (30.7%); e, carvão (21,4%). Todos os três registraram aumento no preço médio US$/tonelada, segundo os dados da Secretaria de Comércio Exterior: 43,5% (petróleo); 57,7% (gás natural); e, 199% (carvão). No volume medido por quilograma, as importações de petróleo aumentaram 114% e as de gás natural e carvão caíram, respectivamente, 15,3% e 31,7%.

Os dados da comparação trimestral apresentados mostram a liderança da agropecuária em termos de preços e volume nas exportações e da indústria extrativa em termos de preços e volume nas importações. A indústria de transformação registrou aumento no volume exportado e queda no importado.
Ressalta-se o caso das exportações, onde a pauta do setor é diversificada. O principal produto exportado foi o óleo combustível, com participação de 7,1% nas vendas do setor, seguido de carne bovina (6,7%) e farelo de soja (5,7%). Todos os três produtos registraram aumento no volume e nos preços e pertencem ao grupo das commodities. Os dados se referem aos resultados do primeiro trimestre de 2022 e comparações para igual período de 2021.

Os índices de preços e volume das importações de bens de capital e de bens intermediários da indústria de transformação são indicadores que ajudam na análise do nível de atividade desses setores. As compras externas de bens de capital e de bens intermediários dos dois setores recuaram em março. O mesmo resultado se repete na comparação trimestral, com exceção da agropecuária que registrou um aumento de 29,3% nas importações de bens de capital. Os preços se elevaram na análise mensal e trimestral, mas chama a atenção o aumento acima de 100% para a compra de bens intermediários pelo setor agrícola, o que está associado às importações de adubos e fertilizantes. No primeiro trimestre de 2022, foram as principais importações na pauta da indústria de transformação com aumento de 128% nos preços e recuo de 8,0% em relação ao acumulado do ano até março de 2021. Nesse quadro, o aumento das compras de bens de capital pela agropecuária é o único sinal positivo em relação à expectativas favoráveis.

Entre os mercados analisados, apenas a China registrou recuo no volume exportado. A queda nas vendas do minério de ferro e a desaceleração do crescimento chinês influenciaram nesse resultado. Em contrapartida, as exportações para o restante da Ásia aumentaram. Chama a atenção o desempenho positivo para a União Europeia associado às vendas de commodities para os Estados Unidos, (aumento das vendas de petróleo de 166% entre jan-mar 2021/2022), e para a América do Sul, destacando-se o Chile, sexto principal mercado para as exportações brasileiras, com aumento em valor de 62%, tendo como principal produto, o petróleo (35% das exportações).

No caso das importações, o volume recua em todos o mercados exceto da China; onde foram registrados aumentos em valor de componentes do setor eletroeletrônico, telecomunicações e informática. A dependência dos produtos chineses em relação aos setores mencionados é um tema global.

Chama a atenção a ascensão da China desde 2016, com uma pequena interrupção em 2018. Em 2016, a participação era de 17,4% e chegou em 2021 a 31,5%. No primeiro semestre de 2022 foi de 27,4%, acima do percentual de 2019, que foi de 26,6%. A desaceleração do crescimento chinês ajuda a explicar a queda na participação, mas consideramos que o crescimento nos anos de pandemia foram exceção. A volta de participações ao redor de 20% a 25% seria o esperado.

Observa-se que desde janeiro os termos de troca aumentam, mas são inferiores aos do ano de 2021. Entre março de 2021 e 2022, os termos de troca recuaram em 9,6%. Se haverá uma reversão à tendência de queda, não está assegurado, no momento. Consideramos que mesmo que haja um aumento dos preços exportados, os efeitos dos choques de oferta sobre os preços de importações deverão continuar.

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