“Embora os números venham fortes, ainda não é uma situação de pleno emprego e, consequentemente, as projeções para os cortes na taxa de juros permanecem conforme precificadas pelo mercado”, afirma gestora.
O Ministério do Trabalho divulga na tarde desta quarta-feira (27) os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) referentes a fevereiro de 2024, e o ministro Luiz Marinho antecipou que os números vêm fortes, acima dos reportados em fevereiro de 2023. Ele disse, ainda, que a criação de empregos nesse período ultrapassa as 252 mil vagas criadas em janeiro de 2024, cujo volume foi considerado excepcional.
De acordo com o economista Volnei Eyng, CEO da Multiplike, embora a perspectiva seja de um volume robusto de geração de empregos, esse montante continua muito distante da situação do pleno emprego. “O pleno emprego se dá quando o número de pessoas desocupadas, e procurando oportunidades de trabalho, é menor do que a taxa de inflação. Hoje nossa inflação está batendo no teto da meta, em torno de 4,5%, enquanto o desemprego está acima dos 7%”, explica.
Segundo ele, a geração de empregos no Brasil vem melhorando desde 2022. “Essa diminuição do desemprego começa a pressionar a massa salarial, que até então estava bastante defasada. Por conta desse cenário, penso que nesse momento os dados do Caged não pressionam a Selic”, destaca. Ou seja, mesmo o mercado de trabalho aquecido, a tendência e as projeções do Comitê de Política Monetária para a taxa básica de juros se mantêm inalteradas.
Eyng reforça que o mercado já precificou um novo corte para a Selic em 0,5 p.p. em maio e os demais cortes deverão ser de 0,25 p.p., fazendo o juro brasileiro encerrar o ano em 9%. “Podemos vislumbrar este como o melhor cenário possível para o país, com o Banco Central reduzindo a taxa de juros, mas sem gerar desemprego”, ressalta.
E complementa: “vale mencionar, ainda, que a taxa de desemprego no patamar dos 7% não tem potencial para gerar um super consumo ou uma super inflação e, assim, não força o BC a mudar o rumo da taxa Selic.” O executivo lembra que o mercado de trabalho brasileiro tem uma característica, que é de promover demissões ao final do ano e contratações logo no início do ano.
A tese de André Colares, CEO da Smart House Investments, também aponta para mais um corte de 0,5 p.p. na Selic. “Porém, há incertezas sobre os cortes subsequentes de 0,25 p.p. A decisão dependerá muito dos dados futuros de inflação e da evolução do mercado de trabalho. Se a inflação mostrar sinais de aceleração ou se o mercado de trabalho permanecer forte, o BC pode optar por uma abordagem mais cautelosa, ajustando o ritmo e a magnitude dos cortes na Selic”, aponta.
O mercado de trabalho e a taxa de juro
Já Fábio Murad, sócio da Ipê Avaliações, afirma que em caso de pleno emprego, mais à frente, esse fenômeno poderá, sim, complicar o patamar de juro da economia brasileira, principalmente devido ao aumento dos custos de produção enfrentados pelas empresas. “Esse aumento resulta da pressão por salários mais altos, o que pode, por sua vez, desencadear pressões inflacionárias. Nesse cenário, o BC se veria obrigado a elevar a taxa de juros para conter a inflação resultante do mercado de trabalho aquecido”, diz.
Embora o país esteja levemente distante do pleno emprego e esse cenário seria uma projeção futura – e não relacionada ao Caged desta quarta, Murad elenca que a relação entre o mercado de trabalho, o consumo e a inflação é direta. “Um mercado de trabalho aquecido aumenta a renda disponível e o consumo, impulsionando a demanda por bens e serviços. O Copom monitora essa interação para orientar suas decisões sobre a política monetária, ajustando a Selic para equilibrar o crescimento econômico e controlar a inflação”, frisa.
Segundo ele, é esperado que o mercado de trabalho permaneça aquecido nos próximos meses, impulsionando a demanda por empregos e contribuindo para o crescimento econômico. “No entanto, é fundamental monitorar de perto os indicadores econômicos para avaliar os possíveis impactos na política monetária e na inflação”, pontua.
Felipe Vasconcellos, sócio da gestora Equus, lembra que possivelmente os cortes de 0,5 p.p na taxa Selic podem estar chegando ao fim. Ele corrobora com a tese de mais um corte nesse patamar e depois cortes menores. “No entanto, ao contrário dos EUA, que estão mantendo a política de cortes de juros, o Brasil iniciou seu ciclo de redução no ano passado. Isso não implica necessariamente que o ciclo de afrouxamento monetário esteja prestes a ser encerrado no curto prazo, mas tudo sugere que o ritmo deverá desacelerar”, indica.