Por: Tayllis Zatti

Alta tecnologia.

Crescimento exponencial.

DNA disruptivo.

Vantagens competitivas de longo prazo.

Isso é tudo que o TradersClub não tem, segundo um relatório da Empiricus, divulgado no dia 26 de outubro; e que levou o mercado a questionar uma série de premissas que vínhamos dando como “certas”.

Hoje essa coluna vai novamente mudar um pouco o foco, agora para tentar explicar as principais teses apresentadas, tanto pela Empiricus, como pela BTG, que se posicionou de maneira completamente contrária; também em relatório no mês passado. Vamos lá?

A Empiricus não “pegou leve”

Desde o começo de seu material, a Empiricus afirma que o TC não é um caso de “edtech”, nem de crescimento exponencial. Explico: edtech é a abreviação de “education technology”, ou em sua tradução literal, tecnologia educacional, sendo soluções que linkam tecnologia com a jornada dos “stakeholders” da educação: professores, alunos, administradores, etc.

Tudo o que a Empiricus afirma que o TC não tem! Apelidando a novata da bolsa brasileira de “fake techs”. Bom, é de conhecimento básico e amplo que o TC tem sua receita baseada em infoprodutos para o investidor pessoa física, fundamentalmente assinaturas e cursos relacionados a investimentos em ações.

Entrando agora em alguns pontos importantes e mais técnicos, a casa de análise afirma que o TRAD3 é o short mais óbvio de toda a bolsa brasileira. Exatamente nessas palavras. Fiz um resuminho dos argumentos que sustentam a essa tese:

  • Possibilidade do preço da tela ser dividido por dois assim que os resultados operacionais começarem a ser divulgados;
  • A companhia precisará de uma injeção de capital, ainda em meados de 2022, para conseguir se sustentar;
  • Possíveis dificuldades para realizar follow-on a níveis semelhantes a de seu IPO realizado em julho deste ano;
  • Queima de caixa excessiva para uma startup em estágio inicial.

Agora faço minha pergunta a você: Com tantos IPOs caindo por terra no ano de 2021, o que deu certo para o TC? Há algum tempo destaquei a grande leva de empresas cancelando sua abertura de capital devido a instabilidade atual do mercado financeiro. Já são algumas dezenas apenas neste ano.

Por sua vez, a Empiricus citou algumas possíveis razões para que a oferta pública inicial da companhia fosse concluída:

  • Abundante liquidez internacional;
  • Cenário de juros baixos (e aqui comento rapidamente que, ainda em julho, o ciclo de aperto monetário não era tão incisivo); 
  • Compra de vernizes de crescimento e tecnologia (que não necessariamente estão em linha à realidade objetiva).

Continuo trazendo pontos mais técnicos. A empresa afirma que o mercado apostou suas fichas tendo como base uma premissa pouco improvável: a empresa geraria uma receita líquida de R$1bi para 2025, ou seja, a companhia teria que multiplicar por 25 sua receita em um período de quatro anos.

Ainda, o ticket médio da empresa giraria em torno dos R$240 mensal/usuário. Eles alegam que em um cenário de juros crescentes (e relembro aqui que essa é exatamente nossa atual realidade), a sustentabilidade de uma receita baseada em assinaturas (caras) sobre renda variável, é no mínimo questionável. Também, logo após a compra da Sencon, a receita mensal média da companhia teria caído para R$88 reais.

A empresa ainda tem um claro conflito de interesses. E esse ponto é reforçado em todo o material. 

Há também as questões de governança corporativa. Conforme a Empiricus, o TC negocia a múltiplos bastante esticados, “como se já fosse uma empresa premium e com uma governança corporativa de altos padrões e alinhamento total entre os acionistas”. A pergunta é levantada “Estariam os controladores do TC realizando análise irregular de ativos de valores mobiliários?”  Ainda, a empresa somente obteve autorização da APIMEC para o exercício de análise de valores mobiliários ao final de 2020, por meio da sua subsidiária TC Matrix, exclusivamente criada para este fim.

A não participação de Rafael Ferri na gestão da TC é algo no mínimo curioso, principalmente quando observamos o trecho do prospecto de IPO da companhia, que afirma que “decisões desfavoráveis em face de Rafael Ferri podem afetar negativamente a imagem da cia”. O mesmo já teve, no passado, problemas com a justiça sob acusações de formação de quadrilha, manipulação de mercado e “insider trading”.

A Empiricus também afirma que não há um grande potencial disruptivo de tecnologia, e que o TradersClub, sendo considerada uma plataforma de conteúdo, encontraria sérias dificuldades de monetização ao considerar problemas clássicos desse nicho, como churn alto.

Por fim, fica a frase que acho válido destacar de todo o relatório: “Qualquer projeção de crescimento futuro depende de um mercado de alta.”

BTG tem, no mínimo, um contraponto interessante

O fato é que o BTG Pactual tem uma visão completamente diferente da situação e da companhia. Logo no início do material, a ideia apresentada da cia é de uma empresa completamente disruptiva do mercado financeiro que conecta mais de 500 mil usuários no Brasil, oferecendo conteúdo educacional, planos de assinatura, inteligência de mercado, análise de dados, e um clube que funciona como uma rede social, para que seus usuários estejam em constante interação.

Também, é afirmado logo de início que a companhia vê grandes oportunidades para o TC aumentar sua monetização, gerando constantes tráfegos e cada vez mais adquirindo um portfólio educacional robusto.

Para reforçar a tese de recomendação, o BTG leva em consideração premissas como: 

  • Crescimento exponencial no número de pessoas que investem no Brasil;
  • Aumento da quantidade de conteúdo educacional apresentado para seus usuários.

Outro ponto que claramente diverge da análise da Empiricus, é a estrutura de acionistas, que agora é posta como ponto positivo, levando em consideração os longos anos de experiência de seus acionistas e fundadores. 

Conflito de interesse? Não para o BTG! O banco vê a parceria que a empresa possui com a corretora internacional Avenue como positiva, por exemplo. Situando você, a Avenue faz o marketing e direciona o tráfego para a corretora, enquanto que, em troca, o TC tem um acordo de compartilhamento de receita sobre os leads que gera para a Avenue.

Ainda, o cenário macro também serve como pilar de sua tese de recomendação de compra. Em seu relatório, o BTG afirma que o TC se beneficia do “financial deepening” no país, já que os cortes nas taxas de juros desde 2016 tiveram um grande efeito na alocação de capital dos investidores. Esse é um termo usado por economistas para se referir ao aumento da oferta de serviços financeiros. 

Finalizando, segundo seu relatório, os principais fatores que impulsionam o mercado de plataforma de conteúdo incluem a crescente adoção de tecnologias sociais, mobile, analíticas, e de nuvem, bem como a proliferação de conteúdo digital nas empresas.

No geral, o BTG espera que a receita bruta do TC tenha um crescimento significativo de 52%a.a, utilizando como premissa o aumento do número de assinantes dos planos de assinatura, bem como das iniciativas B2B.

O possíveis riscos são dispostos em três possíveis categorias:

  • A empresa está no meio de um cenário macro preocupante, principalmente em relação à queda do PIB e ao aumento da inflação;
  • Aumento da concorrência;
  • Os usuários podem sofrer grandes perdas financeiras tendo em vista as condições atuais de um mercado volátil.

Por fim, o TC se manifestou sobre o relatório da Empiricus que roubou a cena, afirmando que o material “não foi uma boa prática de análise de investimentos e recomendação.”

Duas casas de altíssima qualidade, duas opiniões que divergem em quase absolutamente todos os pontos. Quem está certo? Sugiro a você perguntar para seu bolso.

Aliás, você compra da empresa que investe? Conhece a plataforma do TC? Acredita no crescimento exponencial desse mercado em que a empresa está inserida? Vê o TC atingindo suas metas? Ultrapassando metas? Quando há distorções, há riscos e oportunidades; o que não vale é entrar sem saber onde está colocando seu capital.

Para quem ainda não conhece o nosso trabalho dentro do Clube Acionista, convido você a conhecê-lo. Assim como este relatório do BTG, você pode encontrar outros com diferentes pontos de vista. Buscamos, entre as principais instituições do país, facilitar seu dia a dia para saber o que cada analista vê das oportunidades em bolsa.

Até sexta-feira, investidor!

Publicidade

Investir sem um preço-alvo é acreditar apenas na sorte