A eleição presidencial consolidou o que todos já identificavam: estamos vivendo em uma sociedade dividida. A maior polarização já vista pelos brasileiros não trouxe apenas brigas entre amigos, familiares, colegas de trabalho, vizinhos. Trouxe, também, de forma importante, a necessidade de reconhecimento de que metade da população demonstrou-se conservadora.

Até então discretos, quando não escondidos, no cenário nacional, o ineditismo das condutas claramente expostas faz com que pensemos quais as influências que, porventura, poderão advir na condução de temas relacionados ao ESG.

Explico-me. O tema diversidade e inclusão encontra-se ligado ao S, de social, e ao G, de governança. Muito bem. Tem sido crescente o número de empresas que tem se rendido à necessidade de adoção do conceito ESG, assim como pela implantação de suas práticas.

O fenômeno acima acontece como consequência de uma evolução social, decorrente de mudanças de paradigmas que refletem mudanças de valores de parte da sociedade brasileira.

Entretanto, quando lembro dos radicalismos vividos no período pré-eleição, especialmente na área de diversidade e inclusão, fico preocupado com o grau de influência da parcela conservadora deste país (cerca de metade da população) em relação aos avanços já obtidos e aos (enormes) desafios que ainda temos pela frente.

Penso ser meu receio justificado, razão pela qual o conteúdo de hoje do nosso bate-papo trata disso. Será que a parcela conservadora da população seguirá negando a existência do grupo LGBTQIAPN+, achando horrível que essa parcela da população tenha direitos e que possa ocupar posições de destaque na economia e na sociedade deste país? Seguirão achando que uma união entre duas pessoas do mesmo sexo seja uma “sem-vergonhice”?

Ninguém pede aceitação, requer-se respeito. Mas é preciso avançar. Em todos os níveis. É preciso incluir. E é justamente isso que as empresas conscientes da importância do ESG estão fazendo: deixar de ignorar a existência de um grupo (que é ao mesmo tempo consumidor e colaborador) e oferecer respeito, dignidade, valorização, inclusão, oportunidades.

Qual será a conduta da direita/direita extrema, cujos membros normalmente se encontram bem posicionados na hierarquia empresarial, a saber, nas gerências, nas diretorias, nas vice-presidências, nas presidências, nos conselhos? Aqueles que porventura pensam em seguir travando os avanços que se fazem necessários para que tenhamos uma sociedade mais justa e equilibrada, assim como empresas cidadãs e mais bem conectadas com os seus colaboradores, clientes, comunidade e acionistas, mais rentáveis, com maior reputação, continuarão a fazer de conta que diversidade não existe e que inclusão é bobagem?

Este não é um texto político. É apenas um alerta. É apenas um alerta de governança. É apenas um texto que busca chamar a atenção para os potenciais riscos que um grupo conservador da sociedade que ocupa posições relevantes na economia brasileira pode vir a ter em uma pauta muito importante – a diversidade e inclusão.

E nós, militantes da boa governança? O que faremos? Ficaremos alertas para o que acontecerá daqui para a frente? A resposta depende de cada um. E, sim, a sociedade, ou pelo menos metade dela, penso que seguirá atenta para que avancemos e que a boa governança prevaleça, de modo que haja lugar para todos. A sociedade, as pessoas, as empresas, os conselhos que forem corajosos e não preconceituosos, os colaboradores e os (bons) acionistas colherão os frutos. Quem planta, recebe de volta na mesma medida do que plantou. A escolha é sua.