Quando menciono, no título desta coluna, “Eleições 2024”, é claro que não me refiro às eleições municipais brasileiras.
Falo da manutenção, ou renovação, ou retorno, do ocupante da Casa Branca, escolha essa que será feita em 6 de novembro do ano que vem.
A campanha já começou. Isso porque esta semana o presidente Joe Biden anunciou que concorrerá a um segundo mandato.
Imediatamente, os adeptos mais entusiasmados começam a gritar “four more year!, four more years (mais quatro anos)!”, e os comitês de campanha e arrecadação são abertos no lado democrata (partido do burrinho e da cor azul).
Quando um incumbente, termo que não se usa no Brasil mas significa “aquele que já está no cargo”, se lança à reeleição, geralmente ganha a maioria das primárias e é escolhido por aclamação.
Ela irá acontecer no dia 19 de agosto em Chicago.
Causa um certo espanto um político se candidatar à presidência sabendo que irá tomar posse aos 82 anos de idade, o que indica que ele irá terminar o mandato aos 86, lembrando que mesmo o mítico primeiro-ministro britânico Winston Churchill renunciou ao cargo (já apresentava pequenos sinais de senilidade) quando completou 81.
O fato de ser presidente não impede Joe Biden de enfrentar oponentes nas primárias de seu partido.
Até agora, dois se apresentaram:
Robert Kennedy Jr. – Apesar de ser filho do Robert Kennedy (1925/1968), que tinha tudo para se eleger presidente quando foi assassinado num evento de campanha em Los Angeles, e sobrinho de John Kennedy (que dispensa apresentações), Robert Jr. é contra vacinas e sua principal luta é pela despoluição do rio Hudson, objetivo muito provinciano para quem quer ser presidente do país mais importante do mundo.
Marlanne Willamson, mentora de autoajuda, líder espiritual e apoiadora de Bernie Sanders nas eleições de 2020.
A não ser que aconteça algo (doença ou coisa pior) a Joe Biden, ele será o candidato democrata nas eleições do ano que vem.
Nas hostes adversárias, a do elefante e das gravatas e símbolos vermelhos (republicanos, para os não muito íntimos), lá vem Ele: Com o perdão da má palavra: Donald Trump.
Contra Trump pesam, entre dezenas de outras, as seguintes acusações:
− Suborno, através de um advogado, de uma atriz pornô (que atende pelo apelido sugestivo de Stormy Daniels), para não revelar um episódio de sexo entre os dois (essa é a menor delas, mas é a que já está mais adiantada: em julgamento por um grand jury).
− Estímulo, em 6 de janeiro de 2021, para que seus seguidores mais fanáticos fossem até o Capitólio protestar contra o resultado dos votos no Colégio Eleitoral, episódio que culminou com a morte de cinco pessoas (inclusive um integrante da polícia do legislativo) e com a depredação de diversas dependências do Senado e da Câmara dos Representantes.
− Tentativa, através de telefonema gravado, e transmitido para o mundo inteiro, de coagir o secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, de adulterar a contagem eleitoral, trocando votos democratas por republicanos.
Pois bem, Trump vai disputar as primárias republicanas e, acreditem, é o favorito para vencê-las.
Donald Trump também não é nenhum garoto. Caso conquiste a Casa Branca, terá 78 anos ao tomar posse.
O que mais impressiona nessas eleições é que os dois candidatos, caso se confirme a disputa Biden/Trump, têm opiniões e atitudes opostas sobre quase tudo, a começar pelo relacionamento com os europeus e, principalmente, com Vladimir Putin.
Na última vez que esteve em Moscou, Donald Trump criticou acidamente o FBI e a CIA. Algo parecido com o que Jair Bolsonaro, no Brasil, fez em relação ao nosso sistema eleitoral, num discurso para diplomatas estrangeiros credenciados em Brasília, deixando-os extremamente constrangidos.
Desde o final da Segunda Guerra Mundial, apenas Jimmy Carter, George H. W Bush (Bush pai) e o próprio Donald Trump falharam ao tentar a reeleição.
A “escrita” portanto joga em favor de Biden.
Nos Estados Unidos, parte do resultado eleitoral já é conhecido de antemão. Estou me referindo a alguns estados com grande quantidade de votos no Colégio Eleitoral.
A Califórnia dará 54 votos a Biden; Nova York, 38. Por outro lado, os 40 do Texas serão do candidato republicano.
Dois estados são importantíssimos: Flórida, porque a votação lá é sempre apertada e põe 30 eleitores no Colégio. Ohio, porque quem vence lá costuma vencer no país. Talvez o estado seja uma boa amostragem do eleitor americano, tal como acontece com Minas Gerais no Brasil.
Nos Estados Unidos, não há uma justiça eleitoral que controla todo o processo de votação e apuração. Lá, cada estado define seus métodos.
A votação pelo correio é um ótimo exemplo dessa discrepância. Ajuda as minorias (geralmente democratas), que ficam inibidas de preencher aquelas cédulas (ballots) anacrônicas e complicadas, sem a ajuda de terceiros.
Acho que, ao final, ganha Biden se a economia estiver bem e o republicano se houver recessão.
“É a economia, estúpido”, penso que o aforismo de James Carville vai prevalecer.
Tenham um ótimo final de semana!
Ivan Sant’Anna