No modelo econômico linear atual, o crescimento econômico tem como base o consumo de recursos finitos. O ciclo “extrair – produzir – desperdiçar” não é eficiente, o que traz incertezas em relação ao futuro.

O modelo da economia circular contribui com a essência do desenvolvimento sustentável e tem seu propósito embasado em três princípios: eliminação de resíduos e poluição; manutenção de produtos e materiais em uso; e regeneração de sistemas naturais.

Potencial de transformação

A economia circular tem ganhado atenção por abordar dois dos impactos ambientais mais bem compreendidos: a liberação de gases de efeito estufa (GEE) – emissões que resultam em mudanças climáticas globais e o volume de plásticos ​​que são descartados no meio ambiente.

Transformar a maneira como fazemos, usamos e reutilizamos produtos têm a capacidade de reduzir significativamente as emissões de GEE associadas à fabricação e resíduos.

Neste contexto, a questão das fontes energéticas é bastante discutida. No entanto, uma pesquisa desenvolvida pela Ellen MacArthur Foundation mostra que a transformação para energia renovável levará a uma redução de 55% nas emissões em todo o mundo. Os 45% restantes – resultado de como fabricamos e usamos os produtos – poderiam ser reduzidos pela metade com a aplicação de uma economia circular.

No momento, as organizações enfrentam insegurança contínua referente a regulamentos cada vez mais rígidos sobre as emissões de GEE, tratamento de resíduos, às cadeias de suprimentos sustentáveis, assim como as pressões da evolução dos valores sociais.

Considerando a visão de uma economia circular, as empresas podem redesenhar suas práticas e modelos de negócios. Com isto, podem minimizar a geração de resíduos e poluição, desenvolver produtos com maior longevidade dos seus ciclos de vida útil, a reutilização de materiais e outras formas de circularidade.

COP 26

A economia circular vem incentivando iniciativas dos governos e das empresas. O tema é urgente e foi tópico de discussões e acordos na última Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26), realizada em Glasgow, na Escócia.  

Representantes brasileiros do governo, organizações, instituições e sociedade civil compareceram na conferência. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) participou de alguns painéis em que reforçou a economia circular como um dos pilares da estratégia de baixo carbono do setor industrial brasileiro, juntamente com a conservação florestal, transição energética, precificação de carbono e outros pontos.

Primeiros passos para a mudança

A economia circular requer mudanças e para o sucesso desta transição devemos questionar vários desafios transversais em nossos ecossistemas, como por exemplo:

  • Quais são os modelos de negócios ideais e as melhorias e/ou inovações necessárias em nossa governança, processos, competências, tecnologias, infraestrutura, parcerias e outros aspectos?
  • Quais as formas de regulamentação que o governo deve desenvolver para a viabilidade destes novos modelos?
  • Qual o papel da conscientização, educação e treinamentos organizacionais e como podemos reinventar nossos modelos educacionais à luz dos principais desafios ecológicos?
  • Que tipo de mudanças institucionais poderiam acelerar a transição para a economia circular, após a crise de Covid?

Passar de um modelo linear para o circular pode ajudar as organizações a descobrirem novos valores, oportunidades de melhorias em seus negócios gerando impactos positivos sociais e ambientais integrados. Essa transição pode trazer benefícios em diversas áreas, como crescimento, inovação, segurança, diminuição de custos e reputação da marca, além da retenção de talentos e de clientes.

Parte do conceito ESG, a economia circular deve estar alinhada à estratégia corporativa e ao propósito, missão, visão e valores da organização. Considerando a abrangência dos fatores para o sucesso deste modelo é importante que todas as partes envolvidas no ecossistema estejam com o mesmo direcionamento. É necessária uma visão de relações sistêmicas entre os grandes grupos empresariais, governo, fornecedores, clientes, PMEs, consumidores, comunidades do entorno e outros relacionados.

A conscientização é a chave para a mudança do paradigma da economia linear para a circular. Embora as organizações estejam no centro dessa transição, os cidadãos são importantes agentes da mudança. O sucesso depende das escolhas individuais e da construção de novos hábitos pessoais e profissionais.