No último sábado, 7 de outubro, o Ocidente acordou com a notícia de que o grupo palestino Hamas atacou o Estado de Israel com milhares de mísseis, além de forças terrestres que cruzaram a fronteira, matando quem estivesse pela frente e raptando mais de uma centena de pessoas.
Foi o maior ataque desde 1973, por conseguinte, quando a guerra do Yom Kippur cumpria seu cinquentenário.
Como naquela ocasião, a do Yom Kippur, fora uma guerra de Estado contra Estado (Egito e Síria avançando por terra e ar contra o estado judaico), agora, num primeiro momento, muita gente supôs que se tratava da mesma coisa.
Imaginou-se a hipótese de que o Irã, a Arábia Saudita e até mesmo o Egito estavam atacando Israel, revoltados contra as medidas arbitrárias que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu vem tomando, não só no âmbito doméstico (tentando pôr um cabresto no Judiciário) como no externo, incentivando a expansão dos assentamentos israelenses na Cisjordânia.
Pois bem, as bolsas de valores teriam sofrido uma queda descomunal, haveria uma corrida para o dólar (fly to quality) e para os títulos do Tesouro dos Estados Unidos.
O petróleo, desse nem se fala. O preço do barril poderia ter disparado para uns 150 dólares ou até mais.
Aqui no Brasil, o comportamento do mercado de câmbio e de renda variável teria sido o mesmo. O pânico determinaria as cotações.
Mas eis que se passaram o sábado e o domingo e constatou-se que a luta era Hamas contra Israel, sem que nenhum país soberano tenha participado da refrega.
Restam outras considerações relevantes: antes de mais nada, é preciso que os cidadãos israelenses se conscientizem que seus órgãos de Inteligência são incompetentes.
Com tantos satélites e drones, além de outros instrumentos de espionagem, como é que eles não perceberam que um ataque de grande porte estava sendo planejado?
Planejado logo ali ao sul da fronteira, na tripinha (faixa de Gaza) de areia que vai de Israel ao Egito.
Não foi a primeira vez que a Inteligência de Israel comete uma falha de proporções inconcebíveis.
Em 1973, antes de atacarem Israel no dia do Yom Kippur, que caiu no sábado 6 de outubro, os chefes de estado do Egito e da Síria, respectivamente Anwar al Sadat e Hafez al-Assad, tomaram as seguintes providências:
- ordenaram a expansão dos cemitérios dos dois países.
- desocuparam leitos dos hospitais, dando alta para os pacientes menos graves.
- a União Soviética (que sabia do ataque) repatriou as famílias de seus assessores militares estacionados na Síria e no Egito.
No momento, a população de Israel está unida contra o inimigo comum. Mas, tão logo a guerra acabe, Netanyahu será cobrado pelas omissões de sua Inteligência e dificilmente permanecerá no cargo de primeiro-ministro.
Afinal de contas, uma de suas principais promessas ao ser eleito era a de garantir a segurança do povo israelense.
Desde 1948, quando Israel se tornou uma nação soberana (por decisão da ONU), suas forças armadas já travaram diversas guerras contra os vizinhos árabes, sendo as mais importantes:
- Guerra da Independência (1948)
- Guerra de Suez (1956)
- Guerra dos Seis Dias (1967)
- Guerra do Yom Kippur (Israel chama de Guerra de Outubro) (1973)
Em duas ocasiões, a paz com os estados árabes não foi assinada por pequenos detalhes.
Após a Guerra dos Seis Dias, o Conselho de Segurança da ONU, através da resolução 242, determinou que Israel retornasse às fronteiras anteriores ao conflito. Em contrapartida, os países árabes reconheceriam formalmente o estado judeu.
Israel não cumpriu a resolução, fazendo questão de continuar ocupando as colinas de Golan (os olhos de Israel) e o setor ocidental da cidade de Jerusalém, setor esse onde fica o Muro das Lamentações.
Numa reunião em Camp David (casa de campo oficial do presidente dos Estados Unidos), Bill Clinton quase conseguiu que o primeiro-ministro israelense Ehud Barak e o líder palestino Yasser Arafat assinassem um acordo de paz. Na última hora, Arafat “roeu a corda”.
Sem contar os tempos bíblicos, o conflito árabe-israelense já dura 75 anos. E acho que poderá terminar por exaustão.
A juventude israelense está cansada de guerras e atentados. Benjamin Netanyahu vinha se mantendo no poder graças ao apoio dos ortodoxos que ambicionam um dia ver o Grande Israel, se expandindo pela Cisjordânia.
A taxa de natalidade dos israelenses é baixíssima, com exceção dos ortodoxos e ultraortodoxos, que costumam ter de três a quatro filhos por casal. Acontece que esses ortodoxos, por motivos religiosos, não pegam em armas nem participam de guerras. Pagam um imposto para terem o privilégio dessa isenção.
Há outras pedras no caminho da expansão de Israel. O Irã, que financia o grupo Hezbollah no Líbano (cujo efetivo em homens e armas é muito maior do que o Hamas), está na reta final de sua primeira bomba nuclear.
A Arábia Saudita pretende desenvolver artefatos nucleares táticos.
Só a paz entre os semitas (sim, judeus e árabes são todos semitas) poderá pôr fim a essa situação.
Ivan Sant’Anna