A posse de Donald Trump em seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos atraiu atenção mundial, sobretudo pelas medidas que afetam diretamente a economia global. Uma de suas ações mais anunciadas – e agora implementadas – foi a imposição de novas tarifas sobre produtos estrangeiros (inicialmente do México e Canadá) com o objetivo declarado de fortalecer a economia local, o que potencialmente afeta os países emergentes como o Brasil.
No fim de 2024, a cotação da moeda norte-americana alcançou patamares recordes, acentuando a desvalorização do real. E apesar do discurso de Trump sobre a suposta dependência do Brasil frente aos EUA, a análise dos números apresenta outro cenário. No ano passado, o Brasil registrou déficit de apenas US$ 253 milhões na balança comercial com os EUA, valor pouco significativo diante dos US$ 40,33 bilhões em importações e dos US$ 40,58 bilhões em exportações.
Na prática, o Brasil importa mais produtos industrializados e de maior valor agregado do que exporta, o que gera empregos e receita para os norte-americanos. Nesse sentido, eventuais tarifações adicionais prejudicariam tanto (ou mais) os Estados Unidos do que o Brasil.
A retórica de superioridade de Trump também se reflete na intensificação de sua política migratória. De acordo com o Serviço de Imigração e Controle de Alfândega (ICE), cerca de 38 mil brasileiros em situação irregular receberam ordem de deportação, e 1.859 foram efetivamente deportados em 2024, com a maioria retornando ao Brasil em voos previstos para o primeiro trimestre de 2025.
Contudo, essa decisão pode criar lacunas na força de trabalho nos EUA: segundo estudo do Center for American Progress, a imigração irregular representa 23% da mão de obra na construção civil e 40% na atividade rural. Resta saber quem suprirá a demanda por esses trabalhadores, que muitas vezes ocupam vagas menos atraentes para a população norte-americana.
Fica o questionamento: se as medidas acima descritas têm o potencial de causar mais inflação para os americanos, para onde podem ir as taxas de juros administradas pelo FED? Ainda, se as propostas de isenções de impostos para as empresas forem aprovadas, seriam capazes de atrair capitais de investidores estrangeiros e equilibrar essa pressão por aumento de preços? Esses são um dos principais pontos em que os investidores devem estar atentos nos próximos meses e anos.
Entendo que a economia brasileira não pode ser caracterizada como totalmente integrada ao sistema de trocas das maiores economias mundiais. Ainda lidamos com entraves e proteções que nos impedem de avançar em acordos relevantes, como o firmado com a União Europeia – amplamente discutido, porém, até agora não efetivamente concluído. Portanto, se Trump vier a aplicar novas tarifas de forma ampla, o Brasil conta com alguns mecanismos de proteção.
Acredito também que Trump, ao apresentar tais ameaças, busca sobretudo satisfazer as expectativas de seu eleitorado. Ainda assim, ele pode “dourar a pílula” para manter a economia norte-americana em funcionamento. Sabemos o quanto a economia dos EUA depende de imigrantes, e ele tem consciência disso também.
Por João Victorino, administrador de empresas, professor de MBA do Ibmec e educador financeiro. Com uma carreira bem-sucedida, busca contribuir para que as pessoas melhorem suas finanças e prosperem em seus projetos e carreiras. Para isso, idealizou e lidera o canal A Hora do Dinheiro com conteúdo gratuito e uma linguagem simples, objetiva e inclusiva.