O desenvolvimento sustentável na América Latina, e particularmente no Brasil, precisa urgentemente incorporar uma perspectiva mais inclusiva, que leve em conta as desigualdades de gênero e raça. O conceito de sustentabilidade vai além de práticas ambientais; ele deve englobar a justiça social, econômica e a promoção de oportunidades para grupos historicamente marginalizados. Se queremos de fato alcançar um crescimento sustentável, precisamos enfrentar as barreiras que mulheres, jovens e pessoas negras continuam a enfrentar no mercado de trabalho.
As disparidades no mercado de trabalho entre homens e mulheres na América Latina são evidentes. Segundo a ONU, as mulheres na região ganham, em média, 17% menos que os homens, mesmo quando desempenham funções semelhantes. Essa diferença é ainda mais acentuada para mulheres negras.
O Brasil, por exemplo, enfrenta uma série de desafios estruturais para promover a empregabilidade de mulheres e jovens, especialmente os mais vulneráveis. A inserção de mulheres e jovens no mercado de trabalho não é apenas uma questão de justiça social. É desenvolvimento econômico sustentável. Estudos do Banco Mundial indicam que a maior participação feminina no mercado poderia aumentar o PIB da América Latina em até 14%. No entanto, barreiras como a falta de políticas públicas eficazes para conciliação entre trabalho e cuidados com a família, além de preconceitos enraizados, limitam as oportunidades.
Quando falamos de juventude, o cenário é ainda mais complexo. Muitos jovens, especialmente aqueles de comunidades marginalizadas, enfrentam grandes dificuldades para ingressar no mercado de trabalho. No Brasil, cerca de 23% dos jovens de 15 a 24 anos estão desempregados, um índice preocupante que impacta diretamente o futuro do país. Estudos recentes indicam que o fator mais determinante para assegurar o emprego de uma pessoa no futuro é ela estar empregada hoje, reforçando a urgência de investimentos em empregabilidade juvenil, sobretudo entre os mais pobres, para ajudar a romper o ciclo de pobreza.
Promover uma empregabilidade sustentável requer, por um lado, políticas públicas focadas em oportunidades de trabalho e geração de renda, e não apenas em capacitação; por outro, um compromisso firme do setor privado, principal motor da economia e maior gerador de empregos no país.
Como sócia da Muva, vejo diariamente o impacto positivo da inclusão produtiva de jovens e mulheres em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Esse processo transforma vidas, gera impacto duradouro e, acima de tudo, é uma estratégia eficaz para romper o ciclo da pobreza. Contudo, ele só é plenamente eficaz quando alinhado às oportunidades existentes, articulado com os setores produtivos do país e voltado tanto para as necessidades de jovens e mulheres vulneráveis quanto para as demandas dos empregadores.
Por: Iana Barenboim, sócia da Muva, economista e especialista em desenvolvimento socioeconômico, com mais de 12 anos de experiência em projetos voltados para a inclusão social e o empoderamento feminino.
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