No mês de outubro, o superávit da balança comercial foi de US$ 5,5 bilhões, o que levou a um saldo positivo de US$ 47,4 bilhões no acumulado dos dez primeiros meses do ano, segundo dados da Fundação Getulio Vargas (FGV). O comportamento dos dados agregados das exportações e importações repetiu o que vem ocorrendo ao longo do ano. Tanto em valor quanto em volume, a queda mais acentuada nas importações do que nas exportações, explica o aumento do superávit em 2020 em relação a 2019. Em volume, as importações recuaram 20,4% e as exportações 7,1%, na comparação interanual do mês de outubro.
No acumulado do ano até outubro, a variação nos preços de exportações e importações entre 2020/2019 é quase igual, ao redor de +7%. No entanto, em outubro, o aumento de preços de algumas commodities exportadas, como o minério de ferro (+43%) junto com uma queda de 16,3% no preço das importações levou a uma melhora nos termos de troca — aumento de 7,3%, em relação a outubro de 2019. Num cenário de expectativas favoráveis para a retomada de crescimento da economia mundial, os preços das commodities deverão ser favoráveis para as exportações brasileiras.
A análise desagregada dos fluxos de comércio mostra algumas novidades no mês de outubro, tal como alguns sinais de melhora nas exportações da indústria de transformação associado ao aumento de vendas de açúcar, aeronaves e automóveis, entre outros produtos. No caso do setor automotivo (veículos e peças) destaca-se o aumento, em valor, de 23% das exportações para a Argentina entre os meses de outubro de 2019/2020. Em adição, chama atenção o crescimento no volume total exportado em 20,9% para o vizinho, onde mais de 90% da pauta é composta de produtos da indústria de transformação.
Na análise dos mercados de destino das exportações brasileiras, registrou-se pela; primeira vez no ano, uma queda no volume exportado para a China (-13,5%) na comparação mensal interanual. Nesse caso, porém, o resultado é explicado pela desaceleração dos embarques de soja, um comportamento esperado. Quanto às vendas para os Estados Unidos e a União Europeia, não houve mudanças e segue a tendência de queda em relação ao ano de 2019.
Observa-se que, seja em termos de valor ou volume, todos os três setores de atividade econômica registraram queda na relação outubro 2020/2019. Chama atenção, porém, que na comparação interanual de outubro, a menor queda tenha sido da indústria de transformação (-0,7%), seguida da extrativa (-8,4%) e da agropecuária (-26,4%).
Dados divulgados sobre indicadores de atividade, como o do Banco Central, apontam uma melhora da indústria no terceiro trimestre. No entanto, os dados de importações de bens intermediários e de bens de capital para outubro não mostram sinais de recuperação do setor. Destaca-se a compra externa de bens intermediários pela indústria de transformação, que caiu 22,8%, uma queda maior que na comparação anterior entre setembro de 2020/2019 (-13,4%). A desvalorização real da taxa de câmbio efetiva que foi de 35% entre janeiro e outubro de 2020 indica que os setores devem estar privilegiando os fornecedores domésticos.
Dois temas adicionais são ressaltados
O primeiro se refere a elaboração de novos índices do ICOMEX: os índices de volume e de preços dos mercados estudados (China, Estados Unidos, Argentina, União Europeia, México, América do Sul exclusive Argentina, Ásia exclusive China) por categoria de uso. Essa desagregação nos permite afirmar que o aumento das exportações para a Argentina, em outubro, foram de bens duráveis.
Quais são as perspectivas para a balança comercial com a eleição de Biden? Há temores que novas exigências de normas ambientais ganhem força com o apoio da União Europeia. Além disso, a China pode aderir a esses novos marcos regulatórios, o que contribuiria para atenuar suas tensões com os Estados Unidos. Para o Brasil, a ameaça somente irá se traduzir em perdas de comércio se o governo optar por uma atitude de afastamento em relação à agenda do meio ambiente, pois a agropecuária exportadora do Brasil não teria dificuldades de atender as exigências internacionais.
Se Biden levar adiante e aprofundar os acordos com a China, a agropecuária brasileira pode perder, em especial, nas exportações de carnes. Existe, porém, um cenário alternativo em que Biden enfrentaria a China não mais com acordos bilaterais que ferem as regras do comércio internacional, mas com alianças com os europeus e outros países, numa negociação mais ampla sobre cumprimento de regras multilaterais.
Essa última perspectiva traria menos incertezas para o comércio mundial e, logo, seria positivo para o Brasil.
Análise da Balança Comercial: os índices de preços e volume.
No mês de outubro, as operações incluindo ou excluindo as plataformas de petróleo não influenciaram os resultados. Na comparação do acumulado do ano, as diferenças entre a análise com ou sem plataforma diminuíram. Com plataformas, as exportações recuaram 0,5% e sem plataformas aumentaram 1%. Nas importações, com plataformas caíram 9,5% e sem plataformas caíram 10,8%. Nas exportações, com ou sem plataformas, a queda do volume importado foi superior.
Os índices de preços mostraram uma queda de 1,9% nas exportações e de 8,6% nas importações, o que levou a um aumento nos termos de troca.
O ICOMEX tem como norma destacar a desagregação entre commodities e não commodities, pois o primeiro grupo responde por mais de 50% das exportações brasileiras. No acumulado do ano até outubro, as exportações de commodities explicaram 67% do total exportado pelo Brasil. O volume exportado das commodities é o responsável pelo resultado positivo das exportações nos dez primeiros meses do ano — crescimento de 10,2% — em relação a igual período de 2019. Em termos de preços, apesar da melhora nos preços de algumas commodities, como já salientado, os preços das exportações caíram. Observa-se que, pela primeira vez no ano, a variação negativa no volume exportado das commodities (-6,3%) foi maior do que das não commodites (-4,7%), o que remete à análise setorial por atividade econômica.
O setor de agropecuária lidera o volume exportado até outubro, um aumento de 13,1% em relação a 2019. A indústria extrativa registra uma variação quase nula (+0,8%) e a indústria de transformação teve queda de 5,6%. Na comparação interanual de outubro esse quadro muda. A agropecuária cai (-26,4%), extrativa (-8,4%); e, a transformação (-0,7%). Seria um sinal de que a desvalorização cambial está elevando a competitividade dos produtos brasileiros?
A desvalorização ocorrida entre 2019 e o acumulado no ano até outubro de 2020 foi uma reversão no comportamento cambial quase similar ao da desvalorização de 1999. No episódio de 1999, as exportações de manufaturas reagiram positivamente, em especial a partir de 2002, com o crescimento da economia dos Estados Unidos. A demora na reação foi associada as incertezas quanto ao rumo da taxa de câmbio pelo setor exportador; cenário internacional (setembro 2001, crise na Argentina), entre outras questões.
Ressalta-se, porém, que enquanto em 2002, a recuperação das exportações das manufaturas brasileiras foi liderada pela importação dos Estados Unidos; agora, é diferente. A análise desagregada, em termos de valor, dos 10 principais produtos exportados pela indústria de transformação que totalizam 49% das vendas externas desse setor, e com variação positiva em relação a outubro de 2019, são em ordem decrescente de participação: açúcar (+120%); celulose (+6,3%); farelo de soja (+2,2%); ouro não monetário (+33,3%); aeronaves (+20,7%); e, automóveis (+20,1%). A China contribuiu 44% para o aumento das exportações de açúcar.
A contribuição das exportações de maior valor adicionado como automóveis e aeronaves são relevantes; mas deve ser lembrado que essas vendas estão associadas a acordos bilaterais.
No caso das exportações, chama atenção o aumento em outubro das vendas de bens duráveis, como já destacado, associada as compras do setor automotivo pela Argentina.
Já os indicadores de retomada do investimento e/ou da atividade ainda não sinalizam expectativas favoráveis para a indústria. A dúvida que pode ser levantada é se, com o câmbio desvalorizado, as compras se voltam para o mercado doméstico; o que explicaria as notícias veiculadas na imprensa sobre falta de insumos/peças para os setores industriais. Nesse cenário, rebaixar alíquotas de importações para insumos considerados essenciais serias uma possível resposta.
Os mercados do Brasil no comércio exterior
Em outubro, o volume das exportações brasileiras caíram em todos os mercados em relação a igual período de 2019, exceto para a Argentina, que registrou aumento de 20,9%. A queda para a China é explicada pela retração nos embarques de soja, que tendem a ocorrer nos meses finais do ano. Na comparação do acumulado, porém, a China e o restante da Ásia são os únicos mercados com aumento no volume exportado. No tocante às importações, registra-se queda em todos os mercados.
A pauta de exportações para a China se concentra em bens intermediários (88%) seguido de bens de consumo não duráveis (11%). Os bens de consumo duráveis, que cresceram 179% na comparação interanual de outubro representam 0,01% da pauta e, logo, tem contribuição quase nula para o aumento das exportações. A queda nessa mesma base de comparação dos bens intermediários se refere à soja em grão.
O segundo principal mercado do Brasil é os Estados Unidos e apresenta a seguinte composição da pauta no acumulado do ano até outubro: bens de capital (13,2%); bens de consumo não duráveis (8,25); bens de consumo duráveis (2,5%);e; bens intermediários (78,7%). Observa-se que houve aumento na comparação mensal de bens de capital (aviões e equipamentos de engenharia); mas o peso dos bens intermediários com variação negativa explica a queda de 14% no volume exportado. No acumulado do ano somente bens não duráveis de consumo registraram aumento.
No primeiro e segundo trimestre do ano, o volume exportado para a Argentina caiu 4,9% e 42,3% respectivamente em relação ao mesmo período de 2020. Desde agosto, as exportações começaram a crescer na comparação mensal interanual e, em outubro, o crescimento foi de 20,9%. Vendas de automóveis explicam o aumento de 40,8% dos bens duráveis. Observa-se que todas as categorias de uso, exceto consumo de semiduráveis, registraram variação positiva na comparação mensal. No acumulado do ano, porém, a variação foi negativa em todas as categorias. Como nos outros mercados, a maior participação é dos bens intermediários, 60%, seguida de bens duráveis de consumo (17%) e bens de capital (15%). Observa-se, que comparado com os outros dois principais mercados, a pauta da Argentina é composta de bens de maior valor adicionado.