Em uma de suas comunicações mensais, reconhecidas pela facilidade com que destrincha temas, o Nubank – startup brasileira pioneira no segmento de serviços financeiros que reúne mais de 30 milhões de clientes com contas digitais – explora a sigla LGTQQIA+ (sobre a qual falamos aqui com frequência).
O texto foi publicado em razão de junho ser o mês do orgulho, e ressalta a oportunidade pra dar visibilidade à comunidade LGBTQIA+ e discutir as ações necessárias pra sua inclusão na sociedade. O banco defende que o termoo pode esconder realidades bem diferentes quando o assunto é dinheiro – principalmente de grupos menores e mais vulneráveis, como de pessoas transexuais e travestis.
Um estudo de 2015 da Out Leadership, associação de empresas que desenvolve iniciativas para o público LGBTQIA+, mostrou que o potencial financeiro dessa comunidade no Brasil era estimado em US$ 133 bilhões – e deve ser ainda maior, já que o o censo não inclui estatísticas oficiais desta população.
Esse número sugere uma realidade financeira bem elevada desse público como consumidor. Mas cuja sigla LGBTQIA+ é formada por uma letra que representa um grupo diferente: lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queers, intesexos, assexuais e mais tantas outras identidades de gênero e orientações sexuais. Isso significa que não dá para olhar para essa sigla e pensar nessas pessoas como um grande mercado homogêneo, como se todas tivessem o mesmo potencial econômico, as mesmas oportunidades, os mesmos desafios.
O começo é pela educação
Passar pela escola sendo uma criança LGBTQIA+ não é fácil: 68% dos jovens da comunidade com 13 a 21 anos afirmaram já terem sido agredidos verbalmente no colégio, segundo a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – e mais de um quarto já foi agredido fisicamente.
Algumas pessoas podem pensar: “isso é coisa de criança”. Mas o impacto não é brincadeira e pode significar o fim precoce da vida estudantil. Cerca de 70% das pessoas transexuais e travestis, por exemplo, não concluiu o ensino médio – e só 0,02% teve acesso ao ensino superior, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais.
Isso impacta a vida financeira para sempre
Um estudo do Ph.D em economia Marcelo Néri apontou que, em média, um ano a mais de escolaridade no Brasil aumenta em 15% a renda de uma pessoa. Quando a gente olha pra sigla toda, o cenário é diferente. O grau de escolaridade passa a ser maior do que a média geral da população.
Uma pesquisa da ONG Todxs mostrou que 30,25% da comunidade tem superior completo – contra pouco mais de 8% da média brasileira, segundo o Censo de 2010. Por que essa diferença? A sigla pode ser uma só, mas existe um numero muito maior de gays, lésbicas e bissexuais, por exemplo. Quando você coloca todo mundo junto e faz uma média, a realidade das pessoas transexuais e travestis fica quase invisível.
O mercado de trabalho
Menos escolaridade, maior chance de desemprego. O Brasil finalizou 2020 com cerca de 13,4 milhões de pessoas desempregadas – uma crise que impactou, principalmente, aquelas com ensino médio incompleto. Pessoas transexuais e travestis passam menos anos na escola do que a média da população e apenas 4% delas têm um emprego formal, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra Brasil).
De novo, outro panorama para a sigla completa. Quando falamos de toda a comunidade LGBTQIA+, cerca de 60% dos entrevistados de uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Diversidade Sexual (IBDSEX) disseram estar empregados.
Mas preconceito ainda é um fator em comum. Segundo o LinkedIn, 35% dos profissionais LGBTQIA+ já sofreram algum tipo de discriminação velada ou direta no ambiente de trabalho – principalmente de colegas. Entre as principais formas apontadas estão piadas e comentários homofóbicos.
A boa notícia é que o mercado vem agindo. O estudo de 2020 “Diversity Matters” (Diversidade Importa, em tradução livre), da consultoria McKinsey, mostrou que cerca de seis entre dez grandes empresas investiam em programas de diversidade e inclusão. Ainda não é o bastante, mas é fundamental que existam políticas mais rígidas contra a discriminação.
E é claro que isso impacta a renda. A população LGBTQIA+, em média, tem renda familiar superior à da população brasileira em geral: 56,6% recebe três salários mínimos ou mais. Na média brasileira, apenas 11,5% está nessa mesma faixa de renda. Mas há desigualdade na população trans. A proporção de pessoas trans que ganham até um salário mínimo é mais que o dobro que a proporção de homens e mulheres cis (que se identificam com o gênero atribuído no nascimento).
Ou seja, não dá para falar de um mercado LGBTQIA+. Pelo menos não sem trazer as nuances e diferenças entre os grupos da comunidade. E, se formos analisar como a raça também influencia em tudo isso, o debate fica ainda mais complexo.
Celebrar o orgulho e visibilidade dessa população é essencial, não só em junho, mas em todos os outros meses. Mas também é importante lembrar que, assim como na sociedade em geral, existem privilégios e obstáculos que precisam ser reconhecidos e superados – inclusive dentro da própria comunidade.
Fonte: esse texto foi publicado em forma de e-mail marketing pela Nubank. A versão original está aqui.