O ambiente de juros baixos e economia ainda patinando, que favorece o desemprego e os calotes, têm chacoalhado um dos segmentos mais rentáveis da Bolsa de Valores de São Paulo (B3): o financeiro. Os bancos listados no pregão divulgaram seus resultados financeiros trimestrais, via de regra, com lucros mais magros do que o primeiro trimestre de 2019. Não que estejam próximos ao prejuízo – mas também deixaram de bater sucessivos recordes na linha azul.

O BMG anunciou lucro de de R$ 75,625 milhões no primeiro trimestre de 2020. O valor representa um decréscimo de 1,8% em comparação ao período entre janeiro e março de 2019. Já o Banrisul apresentou lucro líquido de R$ 257 milhões, queda de 19% em relação ao mesmo período do ano passado.

Os resultados mostraram rolagem da carteira por níveis de rating e operações de crédito em atraso. Poucos bancos andaram na contramão destes resultados, a notar BTG e o Pine como algumas exceções.

Além da crise econômica que vem de anos atrás no Brasil, a pandemia do novo coronavírus, com seus efeitos nos negócios, também se refletiram nos resultados do primeiro trimestre, ainda que o período seja anterior à fase mais grave da doença no país.

“Muitos dos resultados mais magros estão associados também ao reforço dos bancos à provisão, uma estratégia para atravessar o atual cenário, que poderá resultar em um maior nível de inadimplência em razão de falência de empresas e desemprego”, destaca Marcelo Fayh, analista de investimentos da The Capital Advisor.

Em uma análise específica sobre os grandes bancos, a Economatica verificou que o lucro líquido consolidado no primeiro trimestre de 2020 foi de R$ 13,7 bilhões, menor valor registrado desde o terceiro trimestre de 2017, quando foi de R$ 13,5 bilhões. O levantamento considera os resultados trimestrais de Banco do Brasil, ItauUnibanco, Bradesco e Santander. Todos os valores são nominais sem ajuste pela inflação.

Em meio ao cenário conturbado, Einar Rivero, gerente de relacionamento institucional da Economatica, destaca uma virada interessante entre as principais instituições financeiras: pela primeira vez desde que foi listado na bolsa brasileira, o Santander superou todos seus concorrentes nos resultados de um trimestre. “Com R$ 3,77 bilhões de lucro, o banco tem o melhor resultado trimestral com relação a ItauUnibanco (R$ 3,40 bilhões), Bradesco (R$ 3,38 bilhões) e Banco do Brasil (R$ 3,2 bilhões)”, afirma o especialista.

Além disso, o Santander tem Rentabilidade sobre Patrimônio (ROE) maior entre os três bancos, com 21,24%, liderando o ranking desde o quarto trimestre de 2018. O Banco do Brasil tem o segundo melhor registro, com 18,85%, ItauUnibanco segue com 17,75% e o Bradesco na última posição, com 15,94%, 2,73 pontos percentuais inferior ao do quarto trimestre de 2019.

Einar Rivero destaca também uma queda generalizada na distribuição de dividendos entre as principais instituições financeiras. “Sazonalmente, os bancos têm o maior volume de dividendos e Juros sobre Capital Próprio distribuídos no primeiro trimestre de cada ano. No entanto, no primeiro trimestre de 2020 o volume pago a investidores foi 25,25% inferior em relação ao primeiro trimestre de 2019”, observa.

XP Investimentos, em seu relatório de análise, traça perspectivas do setor para os próximos meses, aponta oportunidades em razão de queda nos preços das ações, mas também cautela em razão do risco de aumento na inadimplência.

“Acreditamos que as atitudes conservadores adotadas pelo banco sejam necessárias, uma vez que 70% da carteira do banco é concentrada no mais arriscado segmento de varejo”, descreve sobre o Itaú/Unibanco, recomendando posição neutra aos clientes.

A XP tem um olhar um pouco mais otimista com o Bradesco, que se deve em parte à recente queda de suas ações: “Embora o resultado tenha sido negativo (no primeiro trimestre), reiteramos nossa recomendação de compra e preço-alvo de R$ 28,00, uma vez que acreditamos que o atual preço do banco é atrativo, com o papel sendo negociado a 1,4x seu valor patrimonial”, aponta. 

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