Antes mesmo da fala do presidente do Federal Reserve, FED, Jerome Powell, na última sexta-feira (23), já era dado como certo que no seu discurso teria uma sinalização que o ciclo de cortes dos juros dos EUA começaria na próxima reunião, em setembro. Dito e feito. No entanto, mesmo com essa possibilidade, ainda especialistas consideram que os investidores sejam cautelosos na hora de alocar ativos.

O Acionista conversou com especialistas da iHub Investimentos sobre os impactos da queda dos juros norte-americanos nas carteiras.

Para Daniel Abrahão, assessor na iHUB, a expectativa de cortes de juros pelo FED pode ter repercussões significativas no mercado brasileiro. A taxa Selic, atualmente em 10,5%, reflete um ambiente de política monetária ainda restritiva no Brasil, “essencial para conter as pressões inflacionárias persistentes, especialmente em um contexto de atividade econômica robusta e mercado de trabalho aquecido”.

Já no cenário fiscal, a trajetória de cumprimento da meta de superávit, projetada em 1% do PIB para 2028, permanece incerta, segundo Abrahão, e isso adiciona volatilidade ao ambiente macroeconômico. “A potencial desvalorização do dólar em resposta aos cortes de juros nos EUA pode fortalecer o real, favorecendo a entrada de capitais externos e, possivelmente, aliviando as pressões inflacionárias importadas”, comenta.

Contudo, o assessor ressalta que essa dinâmica externa positiva pode ser contrabalançada pela necessidade do Banco Central de manter uma postura cautelosa e vigilante, “com a política monetária possivelmente se mantendo contracionista por um período prolongado para garantir a convergência da inflação à meta estabelecida”.

Por fim, diante do cenário econômico atual, com a perspectiva de cortes de juros nos EUA e a manutenção de uma política monetária restritiva no Brasil, “os investidores devem considerar cuidadosamente suas opções de alocação de ativos”. 

A seguir, a análise de Daniel Abrahão sobre os impactos potenciais sobre renda fixa e na bolsa de valores:

Renda Fixa

Prós:

Com a Selic em 10,5%, a renda fixa continua a ser uma opção atrativa para investidores que buscam segurança e retornos consistentes. Títulos pós-fixados atrelados ao CDI ou à própria Selic podem oferecer bons retornos em um ambiente de taxas de juros elevadas. Além disso, em caso de uma eventual desvalorização do real, títulos de dívida pública indexados à inflação, como os Tesouros IPCA+, podem proteger o investidor contra pressões inflacionárias, garantindo um retorno real positivo.

Contras:

Por outro lado, se o Banco Central do Brasil começar a cortar a Selic em resposta a uma estabilização da inflação ou a um ambiente global mais favorável, o retorno dos títulos pós-fixados pode diminuir ao longo do tempo. Além disso, a volatilidade fiscal pode impactar os prêmios de risco dos títulos públicos, exigindo maior cautela na escolha de prazos e indexadores.

Bolsa de Valores

Prós:

A bolsa brasileira pode se beneficiar da potencial entrada de capital estrangeiro, impulsionada pela desvalorização do dólar e pela busca por retornos mais elevados em mercados emergentes. Setores ligados ao consumo interno, como varejo e construção, podem se destacar em um cenário de juros em queda, que tende a estimular o crédito e o consumo. Empresas exportadoras também podem se beneficiar da valorização do real, que reduz o custo de endividamento em moeda estrangeira.

Contras:

No entanto, a bolsa permanece suscetível a riscos fiscais e políticos, que podem introduzir volatilidade nos preços das ações. Além disso, a manutenção de uma política monetária restritiva por um período prolongado pode limitar o potencial de crescimento econômico e, consequentemente, os ganhos corporativos. Investidores precisam estar atentos à capacidade das empresas em repassar custos e proteger suas margens em um ambiente ainda marcado por incertezas.

“Para o investidor brasileiro, a chave será a diversificação e a busca por ativos que ofereçam proteção em um cenário de incertezas. Manter uma parcela significativa em renda fixa pode ser uma estratégia prudente, enquanto a exposição à bolsa deve ser feita com seletividade, focando em setores e empresas com fundamentos sólidos e potencial de crescimento”, finaliza o assessor.

Selic pode subir – Na perspectiva do CEO da iHub, Paulo Cunha, há uma expectativa de que a Taxa Selic volte a subir. “Isso porque a inflação está começando a incomodar mais, já está pouco fora do centro da meta. Não vai ser um ciclo longo se isso for acontecer (o que mercado está apostando que vai), é ajuste nessa trajetória, então subiria pouco para depois até meados do do ano que vem, começar novo ciclo de cortes.”

Nvidia, uma das magníficas

A Nvidia (NVDC34) é uma das empresas de tecnologia que divulgará seus resultados nesta semana. Ela é uma das 7 Magníficas das Big Techs que está entre as mais recomendadas pelos analistas no Clube Acionista. E com a possibilidade do corte dos juros nos EUA, a gigante ( e as outras 6) pode ser favorecida.

As ações da Nvidia tiveram alta de 180% em um ano, e mesmo com atraso na entrega dos chips Blackwell devido a desafios no design e na embalagem da arquitetura dessa nova geração, as expectativas dos números do 2T serem bons não mudaram.

No entanto, esse atraso não é um obstáculo e, sim, um impulso para que os números dos próximos dois a três trimestres superem o consenso, acredita o time do Itaú BBA.

Para eles, a companhia se beneficia mais com as vendas dos chips H200, da geração Hopper anunciada em 2022, do que com o B100 e o B200, da geração Blackwell, que foi anunciada em março deste ano.

Entretanto, alguns desafios começam a surgir no horizonte da Nvidia. Nos últimos dias, acompanhando os resultados e as teleconferências das Big Techs, os investidores começaram a questionar até onde pode ir a capacidade de investimentos dessas gigantes.

Esse é um risco implícito para a Nvidia, avalia o Itaú. “Na corrida de investimentos que acontece agora e deve permanecer no ano que vem, a continuidade de crescimento acelerado em 2026 fica sob risco. A empresa precisa crescer pelo menos 20% em 2026 para manter seu múltiplo de preço/lucro de 30 vezes, conforme a estimativa do banco para 2025.”

“Continuamos vendo a Nvidia entregando um lucro por ação US$ 5 a US$ 6 em 2025. No entanto, acreditamos que poderíamos ver uma ‘digestão’ na infraestrutura de semicondutores em algum momento de 2026”, relataram os analistas, com recomendação de compra, com preço-alvo de US$ 165 para 2025, um potencial de valorização de 28%.