O mercado já esperava a manutenção da Taxa Selic em 13,75% pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) nesta quarta-feira (21). A decisão foi unânime. O índice está nesse patamar desde agosto passado, logo, na próxima reunião estará completando 1 ano de juros nas alturas.  Na terça-feira que vem o Copom divulga a Ata com os detalhes desta deliberação.

No entanto, pela primeira vez desde que começou a subir os juros, em março de 2021, o comunicado do Banco Central (BC) amenizou o tom e retirou uma frase considerada hawkish, “de que não hesitará em retomar o ciclo de ajustes se cenário” presente nos últimos comunicados. Mas também não sinalizou quando inicia o ciclo de quedas. E isso segue sendo a preocupação do governo, do mercado e da população. Conforme o texto, o cenário atual ainda requer  “cautela e parcimônia”.

Com a desaceleração da inflação, há dias a pressão pela sinalização de corte nos juros pelo BC em agosto vem sendo abraçada pelo mercado, empresários e governo. Aliás, o governo já queria que esse corte tivesse iniciado bem antes.

Segundo Patrícia Palomo, Head de Operações da Unicred, “a manutenção da taxa básica de juros indica que as condições econômicas internas dão sinais de que o índice cheio de inflação continua pressionado e causando o distanciamento do cumprimento da meta definida. A necessidade de concretização do arcabouço fiscal proposto e as incertezas sobre o cenário no exterior que apresenta indícios de que ainda existe um longo caminho a frente para combate à inflação internacional também pesaram na decisão do Copom em manter a taxa Selic inalterada”.

De acordo com ela, a decisão foi amplamente esperada pelo mercado que já precifica alta probabilidade de um corte de 0,25 p.p na reunião de agosto. “Fatores que poderiam vir a justificar uma eventual manutenção da taxa na próxima reunião seriam restrições das políticas monetárias das economias desenvolvidas e da incerteza em relação à dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à taxa de juros e à atividade econômica.” 

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O estrategista-chefe da Constância Investimentos, Alexandre Lohmann,  considera que o Copom revisou para baixo a previsão de inflação de 2023 (5% em junho versus 5,8% em maio) e de 2024 (3,6% em junho versus 3,4% em maio). “Na minha avaliação, esse corte é pouco e pode ser revertido com a precificação de cortes adicionais na Selic até o fim do ano, na comparação com o Focus desta semana”, disse. Sobre o comunicado, ele acredita que é mais dovish que o de maio, “mas aquém das expectativas do mercado que começou a precificar a possibilidade de ter um corte de 0,50% em agosto, com Selic inferior a 12% no fim do ano (Curva DI)”.

Sobre o comunicado, Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez destaca que no geral manteve a essência “dura”, simétrica e neutra em termos de forward guidance

“Porém, ao (1) retirar o trecho de voltar a subir juros; (2) substituir “vigilante” por “cautela e parcimônia” (-25bps); (3) ajustar o tempo verbal associado “a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado” de maneira a não se referir mais ao futuro; apesar da barra alta, abriu a porta para o ciclo de cortes com -25bps (cautela e parcimônia), onde os dados irão apontar se será na reunião de agosto ou setembro.”

Assim, de acordo com ele, “considerando todos esses pontos, o Banco Central parece estar olhando mais para a reunião de setembro, enquanto o mercado parece estar mais convicto com a próxima reunião de agosto”.

Juros futuros

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A decisão do Copom deve impactar os juros futuros e o Ibovespa, disse o especialista Antonio van Moorsel, estrategista-chefe da Acqua Vero. Conforme ele, “o comunicado do comitê contrariou o esperado pelo governo e por parte do mercado ao não sinalizar explicitamente a possibilidade de iniciar o ciclo de redução da Selic na próxima reunião, em agosto. 

“Além disso, o colegiado moderou silenciosamente o tom, por exemplo, ao reduzir a incerteza acerca do arcabouço fiscal a “residual”e eliminar o cenário alternativo, presente nas divulgações desde fevereiro deste ano, que projetava a inflação considerando a Selic constante em 13,75% ao longo de todo o horizonte relevante. Posto isto, os dirigentes indicam os primeiros passos em direção à inclinação para flexibilização da política monetária, apesar da ausência de clareza neste sentido”, comentou.

Para o especialista, a ata provavelmente lançará luz sobre os passos futuros da política monetária, “mas, por ora, a única certeza é de que, caso os formuladores de política monetária anunciem a primeira redução da Selic em agosto, será em intensidade inferior ao projetado pelo mercado. Este fato, por sua vez, contrata ajustes nos contratos de juros futuros amanhã, com potencial impacto sobre o Ibovespa”, conclui von Moorsel.

Como ficam os investimentos agora em Renda Fixa?

Para Ana Paula Carvalho, planejadora financeira e sócia da AVG Capital, mesmo com a perspectiva de cortes nas taxas de juros a partir do segundo semestre, “a aplicação em renda fixa pós-fixada continua valendo a pena para papéis de até doi anos, pois a taxa deve cair, mas de forma moderada de acordo com o último boletim Focus, no qual a maior parte do mercado acredita que a taxa Selic chegue no final do ano em 12,5%, um patamar alto de taxa de juros e ainda distante de chegar em um dígito, como estávamos em 2021.  

“Na minha opinião, os títulos prefixados estavam mais atrativos há alguns meses, quando o mercado ainda não enxergava a queda da taxa Selic. Com os últimos dados de inflação e a possibilidade de queda dos juros, as curvas futuras caíram e as taxas dos títulos prefixados acompanharam essa queda. Desta forma, os títulos com maiores prêmios são os de longo prazo, de quatro anos ou mais, porém aqui o risco é maior, pois envolve muitas incertezas no meio do caminho, como alta de inflação, uma política fiscal expansionista ou mudanças na condução do BC, o que levariam a necessidade de subir novamente a Selic.”

Em vista disso, Ana Paula prefere manter a posição de renda fixa com maior exposição à títulos pós-fixados e inflação.

 A especialista em investimentos e sócia da Matriz Capital Lis Grassi, “as taxas prefixadas que temos hoje já estão menores do que as que víamos alguns meses atrás, de 13%…14% ao ano. Se a Selic permanecer nos 13,75% provavelmente elas permanecerão nesse mesmo patamar. Quando a Selic estiver mais baixa, a tendência é que essa rentabilidade caia também”, disse.

Sobre o Tesouro Selic, que caminha junto com a Selic, de acordo com Lis, vai continuar rendendo a Taxa Selic vigente + um prêmio, por exemplo Selic + 0,08% a.a. “Esse prêmio tende a ficar um pouco maior se a Selic cair muito, para compensar a menor rentabilidade na taxa de juros.” 

Já o Tesouro IPCA+ , segundo a especialista, o investidor tem a correção da inflação mais uma taxa Pré, por exemplo IPCA + 6%. “Essa taxa Pré, que chamamos de juro real, também tende a ser menor quando a Selic está menor, portanto, se nos próximos meses o nosso juro cair, como esperado, vai ser difícil encontrar um título do tesouro pagando 6% acima do IPCA.”

Debênture, CRA e CRI – geralmente dão rentabilidade mais atrativa do que o Tesouro porque o risco é maior. “Quando você investe num crédito privado você está emprestando o seu dinheiro para empresas privadas e assumindo o risco delas, portanto é muito importante avaliar qual é essa empresa, o rating dela no mercado (uma tabela de avaliação de confiança), o caixa dessa empresa, se há garantias… enfim, vai depender do perfil de investidor optar por um risco x retorno maior. No longo prazo, a diferença de rentabilidade costuma ser bem significativa, mas também já vimos caso da empresa ter dificuldades financeiras, como aconteceu recentemente com as Lojas Americanas e a Light”, explica Lis. 

Tesouro Renda + – vem pagando atualmente a correção da inflação + uma taxa Prefixada de cerca de 5,5%. “O racional é o mesmo do Tesouro IPCA+, porém visando longo prazo, aposentadoria, pois nele você vai adquirindo cotas no decorrer de um determinado prazo, escolhido pelo investidor, e depois recebe uma renda mensal durante 20 anos, quando for fazer o resgate. Não podemos fazer uma comparação generalizada com previdência privada, pois existem muitos fundos de Prev que não tem boa gestão e vêm rendendo muito pouco, assim como existem outros, de gestores mais ativos, que pagam excelentes resultados. Porém, um detalhe importante: no Tesouro Renda + o investidor não pode mobilizar o dinheiro de um título para outro. Já na previdência privada ele pode fazer portabilidade de um fundo para outro, de diferente classe, quando quiser. Por exemplo, hoje com a Selic alta é interessante ter uma previdência Pós-fixada. Quando a Selic estiver dando retorno muito baixo, o investidor pode migrar a prev para outro fundo multimercado ou de ações, se ele quiser.”

Como ficam os investimentos agora em Renda Variável?

Para Apolo Duarte, head de renda variável e sócio da AVG Capital, até o momento o IBOV acumula alta de 9,70% em 2023. “Muito da melhora macro já vem sendo precificado pelo mercado desde maio. Para que a bolsa continue subindo com força é necessário ter uma continuidade da queda de juros e melhora de setores domésticos”, comentou.

Conforme Duarte, empresas de consumo podem se beneficiar deste cenário, assim como a construção civil. “Mas é importante gerenciar o risco porque qualquer mudança de cenário pode causar uma realização forte nesses setores”, ressalta.

Outra coisa, segundo o head, se economias dos países desenvolvidos melhorarem, “o petróleo também pode continuar melhorando, assim como as empresas do setor”.

Já há algum tempo vale ainda mais pensar em renda variável, não só porque os juros estejam caindo, mas porque também a bolsa pode subir com essa queda dos juros, destaca Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos. “E mesmo que os juros não caiam tão rápido agora, a gente sabe que a bolsa é sempre uma expectativa do que vai acontecer de dois meses até seis meses adiante. Então, se a expectativa é que os juros caiam daqui a dois meses pra frente, a bolsa já começa a subir a partir de agora.”

No entanto, Cohen ressalta que é muito interessante estar posicionado com certeza em bolsa, mas não quer dizer que os títulos de renda fixa deixem de ser atrativos. “Então, eu acho que é um momento interessante sim, agora que a bolsa atingiu o bull market, para a gente ter uma parcela de acordo com obviamente o perfil do investidor, uma parcela locada alocada em bolsa”, afirmou.