O Brasil foi dormir mais calmo na noite desta quarta-feira (20), após o anúncio do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgar o corte de 0.50 p.p. na Taxa Selic, consolidando assim, o ciclo de quedas já previsto pelo mercado. Os juros passam de 13,25% para 12,75% ao ano a partir de agora, o menor patamar desde maio de 2022, quando estava em 11,75%. Ou seja, é a menor taxa em 16 meses.

Ministro interino da Fazenda durante a viagem de Fernando Haddad a Nova York, o secretário-executivo da pasta, Dario Durigan, disse que o Copom deu um bom sinal ao confirmar que continuará a reduzir a Taxa Selic. Segundo ele, o comunicado emitido logo após a reunião traz previsibilidade para os agentes econômicos.

“Com a sinalização de que essa queda vai seguir nas próximas reuniões, isso dá uma tranquilidade grande para o mercado, uma boa sinalização”, disse Durigan ao comentar a queda.

Repercussão

Nesse cenário, de acordo com os analistas do Inter, a política monetária deve continuar restritiva por um período ainda prolongado.

“Já a magnitude do corte total que pode ser feito nesse ciclo ainda está indefinida e vai depender da evolução da inflação, principalmente das medidas de serviços e de núcleo, mais sensíveis à política monetária, e também das expectativas de inflação, mais sensíveis às mudanças na política fiscal. O cenário externo, que aponta para taxas de juros maiores ao longo de 2024, também pode limitar o tamanho do corte total na taxa Selic nesse ciclo. Mantemos nossa projeção da taxa chegando a 9% no segundo semestre de 2024.”

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Para Alexandre Lohmann, economista-chefe da Constância Investimentos, a decisão foi amplamente esperada pelo mercado. “Copom reconheceu m uma piora no cenário externo que se mostrou ‘mais incerto’ (como no comunicado de agosto). O comitê mostrou uma preocupação diante da alta das taxas de juros americanas”, comentou.

O especialista em renda fixa e sócio da casa de análise Quantzed, Ricardo Jorge, considera que o comunicado foi bem hawkish e já deixa bem claro a contratação de mais duas quedas de 0,50 p.p, ou seja, “elimina totalmente a possibilidade que o mercado vinha precificando de uma possível aceleração da queda nesse ano ainda. O mercado vinha trabalhando com a possibilidade de queda de 0,75 p.p na última reunião, o que não aconteceu.”

De acordo com Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, a política se mantém contracionista, “então as próximas quedas, caso as expectativas sejam realizadas em relação a queda de inflação ou manutenção e queda da atividade econômica, a gente terá uma manutenção dessas quedas em 0,5 p.p. Na minha opinião, eles foram bem enfáticos em dizer que não haverá a princípio uma queda maior como era esperado, em 0,75%.”

Além disso, ele diz que tudo vai depender do que vai acontecer daqui para frente em relação a inflação. “Mas acredito que o maior receio fica muito mais até o final desse ano porque o cenário externo está muito mais incerto em relação a inflação lá fora que ainda não foi controlada, principalmente nos Estados Unidos, com um FOMC mais hawkish, mesmo mantendo os juros inalterados. A China vem mostrando uma desaceleração também. O Copom comentou também que o Brasil pode desacelerar daqui para frente e isso deve fazer com que eles mantenham as quedas de forma similar nas próximas reuniões.”

Já para Ana Paula Carvalho, planejadora financeira e sócia da AVG Capital, a decisão já estava precificada pelo mercado, após a última reunião indicar “a mesma magnitude para os próximos passos”. Diante disso havia um consenso pela queda em 0,50. “Não havia um motivo para acontecer uma decisão diferente disso. Os fatores que colaboram para que tal decisão tenha sido tomada são os dados de inflação apresentados nas últimas medições.”

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No entanto, segunda Ana Paula, apesar desses dados favoráveis o BC está olhando de perto questões como as novas incertezas fiscais em torno da capacidade do governo entregar a meta fiscal do próximo ano e as projeções de IPCA para 2024 e 2025, “que podem apresentar alta após depreciação do real, alta nas commodities e hiato do produto mais elevado, variáveis que influenciam nas projeções de inflação do BC”.

Investimentos que ficam mais atrativos

Renan Suehasu, planejador financeiro CFP®️ e sócio da A7 Capital:

A queda da Selic naturalmente faz com que os investimentos pós-fixados tenham uma rentabilidade cada vez menor a cada corte de juros. Para o investidor de renda fixa, o ideal é que ele busque diversificar a carteira com maior parte em ativos atrelados ao IPCA (como por exemplo Tesouro IPCA ou títulos de crédito privado) ou titulos prefixados (tesouro prefixado ou CDBs prefixados) para conseguir capturar um possível movimento de queda maior do que a esperada para a Selic na marcação a mercado.

“Mas vale reforçar que nunca é recomendado colocar “todos os ovos na mesma cesta”, portanto a recomendação de diversificação entre classes de ativos, indexadores e emissores é de extrema importância, respeitando sempre o perfil e o limite de risco que o investidor está disposto a correr.”

Rodrigo Cohen, planejador financeiro e co-fundador da Escola de Investimentos:

Mesmo com a Selic caindo, na verdade, a Selic não está tão baixa assim. Ainda se tem uma Selic com dois dígitos. E mesmo com a previsão do boletim Focus de juros em 11,75% no fim do ano, ainda assim não há uma taxa tão baixa a ponto de valer a pena sair da renda fixa.

“Eu não acho que prefixado seja interessante porque a gente não sabe do futuro, o que vai acontecer no contexto mundial. As vezes o investidor compra um CDB que, naquele momento, está com uma taxa altíssima e depois, a situação macroeconômica muda, e aqueles juros sobem mais ainda tendo o investidor prejuízo caso queira se desfazer do ativo. Com isso, tem que levar até o vencimento ficando preso numa taxa que não está tão atrativa mais. Então nesse contexto, eu acho que prefixado não vale a pena. É sempre um risco muito grande.

Eu prefiro os ativos atrelados ao IPCA, em que o investidor não perde o poder de compra. Então, acho que vale a pena, é minha recomendação, ainda mais porque conta com uma taxa fixa prefixada.”

Comunicado do Copom

O Copom informou que o corte de 0,5 ponto percentual é compatível com a estratégia para fazer a inflação convergir para a meta em 2024 e em 2025. Assim, como na reunião anterior, o órgão reiterou que continuará a promover reduções na mesma intensidade nos próximos encontros, mas não informou se prosseguirá com os cortes no início do próximo ano.

“O comitê ressalta ainda que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto [capacidade ociosa da economia] e do balanço de riscos [para a inflação futura]”, justificou o órgão.

(Com informações da Agência Brasil)

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