Outro dia escrevi uma coluna “Os mercadores da noite” que repercutiu bem entre os assinantes leitores. Mas não foi unanimidade. Um deles me chamou de ”esquerdalha” e disse que eu estava caducando. 

Agora virou moda no mundo se dividir as pessoas entre esquerdistas e capitalistas, quase sempre com conotação negativa. 

Isso me lembra (me lembra, não, pois eu ainda não era nascido) a década de 1930, quando os brasileiros se dividiam entre getulistas, seguidores de Vargas, integralistas, liderados por Plínio Salgado, e comunistas, que seguiam cegamente os mandamentos de Pai Stalin (Joseph Stalin, ditador da União Soviética entre 1922 e 1953). 

Fugindo um pouco do assunto, mas não do personagem, Stalin era tão temido que, quando morreu, em 5 de março de 1953, vítima de um AVC, seus ministros e auxiliares mais próximos levaram dois dias para entrar em seu quarto no Kremlin, pois eram terminantemente proibidos de fazê-lo. 

Minha mãe contava que, nos Anos Trinta, certa vez caminhando pela rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro, se deparou com uma turba trajando camisas verdes (integralistas de Plínio Salgado) espancando um jovem. 
 
O que é que ele fez?“, ela perguntou. 

É um comunista”, um dos linchadores explicou. 

Mas precisa de tanta gente para enfrentar ‘um’ comunista?”, minha mãe ironizou. 

Em agosto de 1939, comunistas e integralistas ficaram desnorteados quando receberam ordens de apoiar Hitler (os comunistas) e Stalin (os integralistas). Essa excrescência durou até 22 de junho de 1941, quando as tropas da Wehrmacht (forças armadas nazistas) atacaram as legiões soviéticas. 

Como nem Hitler nem Stalin tinham o menor respeito pela vida humana, dessa data até 30 de abril de 1945, quando Adolf Hitler se suicidou no bunker da chancelaria em Berlim, pondo fim à guerra no teatro da Europa, as baixas foram contadas em dezenas de milhões. 

Então quem computa os líderes e os seguidores dos partidos de direita e de esquerda no Brasil como sendo fascistas e comunistas, é porque lhes falta conhecimento de História, 

Existem ótimos exemplos de governos socialistas bem-sucedidos. 

Se os eleitores de determinados países optam pelo socialismo, pagando altos impostos, inclusive e principalmente ao morrer (o imposto de herança leva quase tudo), é porque sabem que terão ensino (em todos os níveis) gratuito, medicina pública de alto nível, proventos de aposentadoria praticamente iguais aos salários da ativa e outras benesses e que não precisam se preocupar com o futuro. 

Em 1983, quando passei três meses em Toronto, no Canadá, acompanhando meu filho do meio em uma cirurgia complicada no cérebro (extremamente bem-sucedida), conheci um primo de minha mulher (brasileiro naturalizado canadense). 

Nessa ocasião, ele já usufruía regalias proporcionadas pelo Estado, entre as quais comprar óculos escuros de grife, por conta da Previdência, embora não tivesse nenhum problema de visão. Agora, já aposentados (ele e a mulher), fazem pelo menos dois cruzeiros marítimos por ano. 

Eu tive como vizinhos aqui no Rio um casal de holandeses que tinha dois filhos pequenos. Pelo menos eu pensava que eram dois. Havia um terceiro, anencéfalo, que o governo holandês pegou para cuidar. Só fiquei sabendo disso quando a criança morreu e os pais foram avisados por telegrama. 

Nos sistemas socialistas há muitos abusos. 

Em agosto de 1988, quando passei uma semana em Morro de São Paulo, BA, conheci duas jovens enfermeiras dinamarquesas que moravam na Ilha sustentadas pelo governo da Dinamarca. 

Para isso, elas se valiam do seguinte estratagema: fixavam formalmente residência numa pequena cidade dinamarquesa onde não havia hospital. E, se não havia hospital, não havia emprego para elas, que recebiam salário-desemprego, que talvez não fosse muita coisa na Dinamarca, mas que era uma pequena fortuna em Morro de São Paulo. 

De seis em seis meses, as duas enfermeiras iam à sua cidade dinamarquesa e “regularizavam“ a situação. 

Vamos agora falar sobre a direita, a boa direita. A direita de Ronald Reagan (1911-2004 – na Casa Branca entre 1981 e 1989). 

Com exceção da Defesa, a administração Reagan deixava a maioria dos assuntos por conta dos cidadãos. Quem quisesse ter uma boa aposentadoria, que aplicasse num sólido pension fund. 

Para não ficar a descoberto na saúde, os cidadãos tinham de se filiar a um bom plano, uma vez que nos Estados Unidos não existem hospitais públicos gratuitos. 

Em minha opinião, Lula não é de direita nem de esquerda. O mesmo acontece com Jair Bolsonaro. Ambos só se interessam por eleições. Medidas boas são aquelas que rendem votos. 

Só para reforçar meu raciocínio, Xi Jinping não é um líder comunista, a não ser pelo retrato de Mao Tsé-Tung na Praça da Paz Celestial, em Pequim. O governo de Xi incentiva amplamente o capitalismo. 

Kim Jong-un, da Coreia do Norte, é soberano de uma monarquia absolutista, que já está em sua terceira geração. 

É desse modo que os governos e os países devem ser avaliados. 

Um ótimo fim de semana.

Ivan Sant’Anna

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