Bruno Corano

Todo mundo gostaria de viver com a certeza de que, se precisar parar de trabalhar no futuro, não irá morrer de fome. Não ter segurança é como viver entre a cruz e a espada (e com a espada empunhada no meio das costas!). Muito comum e perigoso de acontecer é calcular o quanto será necessário para uma aposentadoria saudável, usando a realidade atual como única referência.

Para exemplificar tome como parâmetro uma pessoa que ganha R$ 3 mil hoje. Ela pode achar que viverá muito bem a própria aposentadoria se estiver recebendo R$ 5 mil de remuneração mensal. Ela projeta a vida confortável do futuro a partir do seu estilo de vida atual – e assim ela define seu target.

Quer ver outra forma de calcular a aposentadoria a partir do momento presente? Imagine uma pessoa que está planejando trabalhar até os 65 anos e espera viver bem até os 95. Seu plano de vida é, um dia, sustentar-se com R$ 10 mil por mês. Então, ela faz um cálculo bem simples:

Dos 65 anos aos 95 anos serão 30 anos sem trabalhar, por isso será preciso acumular, guardar, reservar o seguinte valor:


30 (anos) X 12 (meses) X 10.000 (reais) = 3.600.000 reais

Pronto. A pessoa planejou a aposentadoria dela. Ela precisará de R$ 3,6 milhões guardados para viver bem. Em certa medida, não está errado, mas este é o valor que ela precisaria já ter guardado, caso quisesse se aposentar agora mesmo. O problema é que ela não tem esse dinheiro e nem é o caso de se aposentar hoje… então, a pessoa vai começar a juntar e os cálculos começam a ficar mais complexos.

Primeiro será preciso pensar na idade que se tem hoje. Se você estiver com 25 anos e pretende se aposentar com 65, então terá um intervalo maior para arrecadar o seu dinheiro do que uma pessoa com 35, querendo parar em idade semelhante. Se você tem 25, 35 ou 45 anos, você já vai precisar de um cálculo específico, independentemente da sua remuneração.

Agora vamos a outra situação que deve ser colocada na balança. Há 30 anos, no início do Plano Real, você achava que estaria rico com R$ 5 mil. Corta para hoje, com a classe média sofrendo para pagar o condomínio, deixando o azeite de fora da compra do mês, chorando desconto na mensalidade da escolinha, que disparou em 2024. Eu estou falando no poder de compra que mudou, pois a inflação comeu o valor da moeda.

Para calcular os aportes que precisam ser feitos para a aposentadoria, também seria preciso ter melhor clareza da defasagem monetária, a partir de dois indicativos:

1 – Quanto o dinheiro vai render durante o período

2 – Quanto a inflação vai reduzir o seu valor

Você pode e deve usar os dados atuais para iniciar o planejamento, mas isso significa que será assim nos próximos 30 anos? Que juros e inflação estarão sempre no mesmo patamar? Não. Será necessário recalibrar com frequência. Até mesmo porque seu estilo de vida pode mudar em 30 anos, com a chegada de filhos, por exemplo.

Aqui nos Estados Unidos a única solução para o planejamento eficiente da aposentadoria atende pela sigla CFP, que significa Certified Financial Planner. Nada mais é do que a ajuda profissional de um planejador financeiro (que estudou muito pra isso. E não é do tipo assessor financeiro no Brasil, que não sabe sequer fazer cálculos complexos). A responsabilidade é tanta que, por aqui, essa titulação representa quase um mestrado.

Com o que eu expliquei neste artigo, quero reforçar a importância de receber ajuda profissional para cuidar de seu futuro financeiro. Qualquer cálculo mais simples, mais básico, até mesmo feito por bancos, e que não coloque esses indicativos na planilha, são ingênuos ou feitos apenas para enganar as pessoas. Não seja feito de bobo.

Bruno Corano é economista e investidor da Corano Capital e apresentador do Manhattan Connection.

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