No bojo da explosão da crise COVID-19, o mundo perdeu um dos executivos mais importantes do ambiente corporativo: o legendário Jack Wech. O ex-presidente da General Electric (GE), John Frances Welch Jr, faleceu no dia 1 de março, aos 84 anos.Um dos executivos mais icônicos do Planeta, em 1999, ele chegou a ser apontado pela revista Fortune como “gestor do século”.
Outras publicações do mercado editorial o indicaram, posteriormente, como um dos CEOs (chief executive officers) mais admirados ao redor do mundo. O falecimento de Jack Welch foi citado em veículos de mídia pelo Planeta.
Cinco meses após sua morte e, passado o estupor geral e a necessidade de reagir diante da crise COVID, pode-se retornar a Jack Welch e tentar entender, com vistas ao aprendizado que pode beneficiar o mundo corporativo: qual pode ter sido o seu principal legado para esse ambiente, como executivo?
Graduado em Direito e engenheiro químico com mestrado e PhD pela Universidade de Illinois – ou seja, com um currículo muito interessante –, Jack Welch comandou a General Electric de 1981 a 2001. Sob seu comando, a Companhia cresceu mais de 30 vezes, especialmente por meio de aquisições, saltando do valor de mercado de US$ 12 bilhões para US$ 410 bilhões. Definitivamente, esta não se trata de uma performance trivial.
Na administração Welch, a GE teve como grandes linhas de sua estratégia corporativa não manter negócios em que ela não tinha a primeira ou a segunda posição no mercado, crescer intensamente via aquisições e oferecer serviços financeiros e de consultoria (destaques). No bojo dessa estratégia de grande foco nos negócios em que a Companhia mais brilhava, milhares de postos de trabalho foram eliminados.
Tão importante quanto as grandes linhas estratégicas supracitadas foi o modelo de gestão adotado pela GE durante a administração Welch, que buscou grande atenção à gestão de pessoas e de processos, visando dar suporte à estratégia, em um grupo econômico com múltiplos negócios que precisavam ser integrados. Também durante sua administração, o executivo fortaleceu a escola de formação de líderes da GE, Crotonville, que se tornou referência em capacitação corporativa.
Welch foi cuidadoso com a formação dos líderes da GE, segundo relatam executivos que conviveram com ele, durante o seu período de CEO da Companhia. Ele tinha grande carisma e simpatia, na visão desses profissionais, mas ao mesmo tempo, era muito exigente – possivelmente implacável – em seus critérios de reconhecimento de pessoas. Chegou a ser apelidado de Neutron Jack, expressão que remete a uma bomba de neutrons.
De acordo com Alexandre Silva, ex-CEO da GE no Brasil, Welch valorizava pessoas, mas era muito rígido na exigência por desempenho, não mantendo nos quadros da Companhia aquelas de baixo rendimento, segundo seus critérios de mensuração (matéria O último bastião de uma geração de CEOs popstars, jornal Valor).
Jack Welch deixou livros escritos, buscando relatar sua própria trajetória, com destaque para Winning (Paixão por vencer, 2005) entre outros. Após a aposentadoria, ele seguiu atuando, destacando-se as palestras que ministrou ao redor do Planeta. Em conjunto com sua esposa Suzy Welch, criou um MBA on line, visando capacitar executivos consoante um modus operandi no qual ele acreditava.
Em seu último vídeo, Jack Welch mencionou, como seu principal erro, a aquisição de empresas baseada em números, não em cultura e em fazer pessoas trabalharem conjuntamente. De fato, aspectos culturais são críticos e podem determinar o fracasso tanto de fusões quanto de aquisições. Ao mesmo tempo, em Winning, publicado em 2005 (15 anos antes de seu falecimento), o executivo apontou como um desses principais problemas de atuação as contratações erradas de pessoas, enfatizando as dificuldades de errar quando se contrata, inclusive profissionais altamente qualificados e cujo curriculum é excepcional.
Muito foi escrito sobre Jack Welch por ele próprio e por outros autores que pesquisaram o segredo de seu grande sucesso no período de comando da GE. Portanto, muito se terá para refletir sobre o seu legado, ou seja, sobre as contribuições que ele deixou para os líderes organizacionais. Diante de tanto material escrito, acreditamos que a pergunta mais importante não seja “qual foi o legado de Jack Welch?”, mas “como identificar o principal legado de Jack Welch e de outros ícones corporativos?”
A nosso ver, a resposta à segunda indagação anterior é: refletindo sobre os acertos – é certo –, mas, principalmente, sobre os erros e dificuldades que, no caso de Jack Welch, este teve o desejo de apontar em sua trajetória profissional vitoriosa. E dois deles já apontamos aqui, e neles nos deteremos, para não criar spoiler para os leitores deste artigo: 1) lidar com pessoas; e, 2) fazer aquisições de modo inteligente, isto é, focalizando pessoas. O que faz pensar que existem aspectos universais dos modelos de gestão, independentemente de quem governa organizações.
Diante do exposto, ler os livros disponíveis sobre a trajetória desse líder, com foco nas perguntas “onde Jack Welch pode ter errado?” e “quais dificuldades teve Jack Welch em sua trajetória?” pode ser a chave para identificar aquele que seja, talvez, o seu principal legado, e que pode ajudar outros executivos a aprimorarem suas próprias performances.