“No mercado financeiro esta diferença de renda que ainda existe em vários setores não existe para homens e mulheres.  A ação da Petrobras paga os mesmos dividendos para um ou para outro. É um mercado que trata todos os gêneros de forma igual”.

É algo que Sandra Blanco sempre diz!

Há 15 anos, a consultora de investimentos da Órama já lançava um livro relacionando o tema às investidoras: Mulher Inteligente Valoriza o Dinheiro Pensa no Futuro e Investe.

De lá para cá o mercado mudou bastante. Hoje as fontes de informação são variadas e multicanais, o número de investidores na bolsa brasileira mais que dobrou e é preciso muito menos dinheiro para investir, além de muito menos esforço.

Da taxa de juros, então, não dá nem para lembrar! A Selic estava na faixa de 18% ao ano.

Sobre todos esses pontos e o momento atual, que Sandra chamou de disruptivo e de transformação, conversamos para inaugurar o Com ELAS!

Sandra Blanco atua no mercado financeiro há 20 anos. E foi a partir de um tempo que morou fora do Brasil que passou a ter contato com investimentos orientados para mulheres.

Ao voltar, seguiu seu trabalho no mercado financeiro, montou alguns Clubes de Investimentos formados por mulheres (que naquele período foi um veículo muito comum de entrada de novos investidores na bolsa), e escreveu livros sobre o tema. Foi na mesma época que teve sua primeira filha. 

Sobre o acesso das mulheres ao mercado de capitais e o atual momento de investimentos, conversamos com Sandra Blanco para o primeiro Com ELAS.

O que lhe chama atenção nestas duas décadas de atuação?

Eu vi bastante evolução. Quando eu comecei, há 20 anos, não tinha tanta informação disponível para todo mundo, não tinha um livro de educação financeira, não tinha muitos sites, não tinham pessoas se comunicando sobre isso.

Hoje é uma avalanche. Tem até que tomar cuidado com o que você lê, escuta ou vê. É complicado. A Internet, a tecnologia proporcionou este acesso à informação, e o acesso aos investimentos também.

Há 20 anos precisava ter bastante dinheiro para investir. Os bancos cobravam taxas exorbitantes. Era realmente bem complicado. Mas ali, naquele momento, já vi muitas oportunidades.

O Brasil está apenas começando uma jornada, que tem um horizonte longo pela frente. Eu vejo esta mudança. Estamos vendo pessoas que nunca se interessaram pelo assunto começar a investir na bolsa de valores.

Como você entende, hoje, o investimento para mulheres?

Atuo há 9 anos na Órama, e realizo trabalhos mais pontuais relacionado às mulheres hoje. Do meu primeiro Clube de Investimento, há muitas mulheres que investem comigo ainda, porque estabeleceu-se um relacionamento.

Mas durante minhas pesquisas e estudos sobre o tema, cheguei à conclusão de que não existe um produto para mulheres. No final das contas, os produtos vão atender mulheres e homens igualmente.

A diferença está no que as mulheres buscam, nos objetivos, preferências. A mulher tem uma dinâmica diferente. O seu cérebro funciona de outra forma. Mas na hora de investir, quando os desejos e necessidades devem ser atendidos no mercado financeiro, os produtos que existem para tais são os mesmos que vão ser servir para os homens.

No mercado financeiro, esta diferença de renda que ainda existe em outros setores não há entre homens e mulheres. A ação da Petrobras não paga menos dividendos para um ou outro. É um mercado que trata todos os gêneros igualmente.

São os anseios diferentes que aparecem. As mulheres se preocupam com o longo prazo, sim. Mas o curto prazo é mais importante para elas, porque elas têm filhos, responsabilidades diferentes dos homens.

Nesse sentido as mulheres são mais conservadoras, porque as responsabilidades são diferentes. O número de mulheres que chefiam famílias é relevante.

A mulher é mais cautelosa porque tem uma maneira diferente de tomar decisões. Conhece bem onde estão se posicionando. E quando sabe onde está pisando, pode ser bem arrojada.

Qual é a sua visão sobre as perspectivas econômicas para o Brasil e o atual momento do mercado de capitais?

Estamos passando por um momento disruptivo, de transformação. E o fato de estarmos com uma taxa de juros muito baixa está trazendo as cartas para a mesa. É um aprendizado que não tem mais como escapar.

É quando os investidores vão ter que aprender a investir seu dinheiro pensando no longo prazo, para a aposentadoria. Teve a Reforma da Previdência. É emergencial que todo mundo cuide da sua previdência privada. Faça investimentos pensando nisso.

Qual seria uma opção de investimento para quem está começando a conhecer e investir neste momento?

Para começar a investir, para ter esta diversificação, considerando um horizonte de mais longo e médio prazo, o fundo de investimento reúne várias características que são favoráveis para este momento.

Como um primeiro passo, olhar para um fundo de crédito privado e multimercado cumpre bem o papel, mas como o investidor vai ter que expandir seus horizontes e possibilidades, tem que olhar também para ações, debêntures, outros títulos e fundos imobiliários, que embora seja um fundo, tem um papel e um funcionamento diferente.

Há muitas possibilidades. E, no final, o investidor vai precisar sair da zona de conforto, da concentração em renda fixa, e procurar outras modalidades de investimentos, para conseguir um retorno além dos 4,25% da Selic.

Dicas da Sandra Blanco:

Com os juros muito baixos, o investidor vai precisar:

  • Correr riscos;
  • Abrir mão de maior previsibilidade de retorno no curtíssimo prazo;
  • Ter uma visão de investimentos de mais longo prazo.
  • Fazer uma avaliação dos seus investimentos entre períodos mais longos, não mais mensalmente, mas uma vez por ano ou a cada dois anos;
  • Para quem é entrante no mercado, fazer seleção de fundos de ações e fundos imobiliários poderá trazer um retorno interessante;
  • Ao ter uma boa estratégia de diversificação, no médio e longo prazo, os retornos vão aparecer. 
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Investir sem um preço-alvo é acreditar apenas na sorte