Municípios já arrasados por duas enchentes históricas no segundo semestre do ano passado foram praticamente destruídos por uma terceira enchente, e a maior de todas, agora em maio, no Vale do Taquari, na região central do Rio Grande do Sul. Cidades como Roca Sales, Arroio do Meio e Cruzeiro do Sul foram devastadas com obliteração em alguns bairros.O recuo das águas do Rio Taquari permitiu enxergar um panorama chocante e desolador em comunidades do Vale do Taquari, onde a fúria das águas não deixou praticamente nada de pé em diversos locais. Bairros inteiros desapareceram e nenhuma construção resistiu em locais próximos do rio.O rio teve dois grandes picos de cheia neste mês. O primeiro ocorreu no início de maio, quando o nível superou a marca de 33 metros, perto de 4 metros acima dos recordes de 1941 e setembro de 2023. Foi quando os piores estragos foram observados com as águas atingindo até o terceiro andar de alguns prédios na região de Lajeado.No começo da semana passada, com a chuva intensa do último fim de semana, houve repique de cheia no Vale do Taquari, voltando a inundar várias cidades. Desta vez, as marcas nas réguas foram muito menores. O nível chegou a 27,78 metros em Estrela, marca muito menor que a do começo do mês, mas uma grande cheia pelos valores médios históricos, uma vez que o pico do início de maio fugiu absurdamente à curva das piores enchentes da história do vale em 150 anos de dados.Cidades do vale que recém começavam a se reerguer das enchentes do ano passado, que deixaram mais de 50 mortos, especialmente as de setembro, levaram um terceiro golpe e, para muitos, definitivo. Vários pontos da região permanecerão inabitáveis por anos e não restará alternativa a realocar partes das cidades em terreno mais alto.A tragédia, de dimensões sem precedentes no Estado, já deixou 157 mortos e 88 desaparecidos, segundo boletim divulgado pela Defesa Civil estadual às 18h deste domingo. Mais de 617.000 pessoas foram retiradas de seus lares em um total de 463 municípios, e quase 80 mil delas estão em abrigos, informaram autoridades.Os estragos são terríveis, mas em Cruzeiro do Sul parece que o local foi bombardeado. Mas não é a Faixa de Gaza ou a Ucrânia. É aqui, pertinho de Porto Alegre. No município de 11,6 mil habitantes, nada que estava perto do rio sobrou. Casas, árvores, postes, automóveis e tudo que estava sobre a terra foi arrastado e levado pela fúria das águas do Rio Taquari.Das casas somente sobraram os assoalhos e em algumas até o piso já não existe mais. As imagens dos danos da enchente recordam obliteração catastrófica por tornados e furacões de categoria 5, o máximo das escalas dos fenômenos, com ventos de 300 quilômetros por hora a 400 quilômetros por hora.A água “passou por cima do telhado da nossa casa”, contou à AFP o pintor Silvio Kehl, 40, que mora com a mulher e a filha de 4 meses. Depois de enfrentar a terceira inundação no local, a família decidiu se mudar: Vamos abandonar aqui antes que aconteça algo pior”. Nelson Xavier, 61, observava, resignado, o que restou da sua fábrica de concreto. “Foram 30 anos trabalhando, lutando, e agora a gente perdeu tudo de uma hora para a outra”, lamentou. “A vontade é de abrir de novo e dar serviço para as pessoas, mas, com as minhas forças, é impossível, não tem como”.

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