Estamos em março de 2021, e ainda temos muito tempo para reflexões sobre como é ser uma mulher no Brasil. Ou melhor, como é ser uma mulher em cargo de liderança no país. Será que sou só eu, ou a maioria das mulheres estão realmente cansadas independente do cargo que ocupam? Ou será que é porque ocupam tantos cargos? Durante tanto tempo, e descansar muitas vezes gera culpa?

Segundo dados do IBGE, as mulheres ganham em média 20,5% a menos que os homens, e pesquisas mostram que 23,5% das mulheres com mais de 25 anos possuem ensino superior, contra 20,7% dos homens. Quando falamos da realidade das mulheres negras com ensino superior, elas ganham 27% ainda menos do que as mulheres brancas. 

E na área de negócios, são mulheres de 25 a 34 anos mulheres que ocupam os 56% dos alunos de pós-graduação. Mas apenas 10% das 668 maiores empresas da Europa têm equilíbrio nas lideranças entre mulheres e homens segundo Índice de Diversidade de Gênero (IDG), elaborado pela Kantar. Já a proporção de mulheres em conselhos diretores das 100 maiores empresas da América Latina é de apenas 7%, conforme dados da Corporate Women Directors International (CWDI).

Diante desses dados, nós mulheres podemos, juntas, chegar a conclusão de que estudamos mais, ganhamos menos e precisamos trabalhar muito mais para provar que somos boas o suficiente para ocupar a vaga dos nossos sonhos. Isso faz com que vivamos incansavelmente exaustas divididas entre o orgulho e o cansaço.

Dentro de casa não é muito diferente, e a desigualdade e a exaustão das mulheres continua após os desafios do mercado e carga horária profissional. Estima-se que o trabalho doméstico feito pelas mulheres renderia 10 trilhões de dólares por ano se ele fosse remunerado. Entre lavar roupa, fazer comida, arrumar a casa, cuidar dos filhos, nós mulheres investimos de 3 a 6 horas por dia das nossas vidas no que se chama de trabalho invisível (esse trabalho que não é remunerado e que muitas vezes nós mesmas ignoramos que fazemos todinho sozinhas.)

Mas isso tudo acontece porque nossa sociedade ainda é machista, e o patriarcado ainda lidera. 

Equilibristas entre tantos papéis, estamos cansadas de muita coisa, divididas entre ser as profissionais que sonhamos, referência no mercado, bem-sucedidas, evoluindo, subindo de cargo, crescendo, e realizando sonhos, e ser também a mulher da casa, cuidando das louças, roupas, crianças e tudo mais que habitam o mundo dos quais durante centenas de anos nos disseram que era dever da mulher. Ser tudo isso o tempo todo custa muito caro horas e dias.

Ser CEO de uma empresa não é fácil. Ser uma CEO mulher, então, é ainda mais difícil. A cultura da rivalidade ainda é mais do que a sororidade com as outras mulheres. Ser dona de casa não é fácil, ser uma dona de casa que decide se dedicar a casa e os filhos, abrindo mão da carreira também não é nada fácil. Equilibrar tudo então, é tão difícil quanto.

Romper as barreiras do óbvio que disseram durante muitos anos que era dever das mulheres é ainda muito desafiador mesmo no século XXI. 

Como uma mulher sei o quanto muitas de nós carrega o desejo de ser boa em tudo, queremos ser profissionais incríveis, admiradas, reconhecidas, além de sermos filhas, mães, e namoradas amorosas e zelosas com os lares onde habitamos. Mas será que damos conta, será que precisamos dar conta?

Confesso que andei exausta e refletindo um pouco mais enquanto escrevia esse artigo, cheguei a conclusão que a exaustão é um fardo muito pesado para muitas mulheres e não apenas pra mim. É tudo muito corrido, tentando equilibrar mil papéis que nos deixam sobrecarregar mais do que escolhemos, vivemos juntamos forças de onde já nem tem mais muitas vezes, e nos motivamos no caos para poder motivar outras mulheres. 

A previsão é de que a igualdade no trabalho entre homens e mulheres seja alcançada apenas em 200 anos, conforme dados da OXFAM. E diante disso definitivamente eu não vou viver pra ver. Mas eu posso ajudar as mulheres à minha volta para que vivam mais e não apenas trabalhem incansavelmente.

Está tudo bem estarmos orgulhosas e exaustas ao mesmo tempo…

Este artigo é para trazer um pouco de luz na escuridão que vivemos, é um convite para você respirar fundo, olhar pela janela, ver outras coisas além das obrigações infinitas que carregamos nas costas todos os dias, em fardos ainda mais pesados do que os fardos que os homens ao nosso redor carregam.

Este artigo é também para te incentivar a ser CEO da sua vida e de tudo que você quiser! E se não quiser ser CEO tá tudo bem também. Assim como meu mais profundo desejo é ser CEO da minha e de tudo que eu quiser. Mas nos dias que ficar dividida entre o orgulho e o cansaço, te peço que escolha você. Escolha sua saúde mental, respirar, tomar decisões com calma, silenciar as conversas do whats se for preciso, ignorar momentaneamente a sua caixa de e-mail, assim como a louça da pia, a roupa da máquina, a comida que teria que ser feita por você e tudo mais que possa esperar. Escolha você. 

E leve essa discussão para sua casa e empresa para que os fardos sejam divididos, para que salários iguais sejam estabelecidos e louças, roupas e comidas sejam compartilhadas. Que o orgulho seja fruto da realização sadia e não por uma exaustão de todos os dias.

Miriã Antunes     

 

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*Reconhecimento Nacional como 1 das 11 Mulheres mais Inspiradoras da Comunicação do Brasil/2019

*Curadoria de conteúdo e palestrantes do Palco Minas de Propósito no Gramado Summit 2020


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