Caros amigos investidores,

Não tenho nenhuma pretensão de fazer uma releitura daquela famosa “Carta ao Povo Brasileiro” de 2002 que buscava acalmar os ânimos dos brasileiros (e estrangeiros) em um momento de tensões exacerbadas.

No domingo à noite tomamos conhecimento do resultado das eleições mais tensas das últimas décadas. No momento que escrevo este texto, uma parcela da população está feliz e outra parcela desanimada. Há também os que estão indiferentes, provavelmente porque já entregaram os pontos e desistiram do Brasil há algum tempo. E cá entre nós, essa é a pior atitude possível. 

Mas ouso dizer que, independentemente da preferência política de cada um, alguns sentimentos neste pós-eleição são comuns a todos. Em especial, a apreensão e algum grau de preocupação com o futuro. 

Se existe algo que não tenho competência nenhuma para fazer é prever o futuro. E pior, nem sequer tenho competência para prever os próximos quatro dias, quem dirá os próximos quatro anos.

E é justamente por não ter essa habilidade bem desenvolvida que prefiro me agarrar a dados presentes e históricos. Não porque o comportamento do futuro irá replicar o do passado, mas sim porque alguns ensinamentos do passado servirão para orientar nossas atitudes no futuro.

Mesmo com toda turbulência política e econômica que vem reinando no Brasil há décadas, alguns negócios de controle privado de excelente qualidade e longevidade, por incrível que pareça, nasceram e conseguiram crescer em meio a esse ambiente tão hostil. 

A Comgás foi fundada em 1872. A Klabin, em 1899. Gerdau, 1901. Energisa, 1905. Alpargatas, 1907. CPFL, 1912. A lista é enorme.

Essas boas empresas já passaram por:

  • Trocas de moedas
  • Processos de impeachment
  • Hiperinflação
  • Guerras
  • Confisco
  • Escândalos de corrupção
  • Greves
  • Pandemia
  • Crises financeiras
  • Ataques especulativos
  • Calote na dívida externa

…e mesmo assim sobreviveram. Desta vez não vai ser diferente.

E não só sobreviveram: PROSPERARAM. E por prosperar, entenda investir, crescer, gerar empregos, pagar tributos, gerar lucros e retornos consistentes a seus acionistas.

O Brasil não é para amadores. Todos sabemos disso. Mas mesmo assim, há décadas, somos comandados por amadores. E provavelmente – e infelizmente – continuaremos sendo.

Nem por isso desistimos do Brasil. Um país que é muito maior que uma ou outra pessoa, um ou outro partido, uma ou outra ideologia. Continuaremos votando, cobrando, exigindo nossos direitos, dando ideias, protestando quando necessário, apoiando quando for o caso, etc. Aventuras extremistas não serão toleradas.

Iria além. Todos que possuem ações de empresas brasileiras fazem parte de uma minoria ínfima que entende o papel das companhias e do mercado de capitais na sociedade. E como “pequenos donos de grandes negócios” não temos que desistir quando um obstáculo se apresenta. 

Ometto, Feffer, Klabin, Ermírio de Moraes, Setubal, Steinbruch, e tantas outras famílias continuam com o grosso dos seus patrimônios no Brasil. Diga-se de passagem, em ações das suas próprias empresas, que são sólidas, bem geridas e com fontes de lucro sustentáveis. Como pequeno dono pretendo replicar o comportamento desses controladores.

  • O momento é de incertezas? Sim. 
  • Algo garante que o futuro vai ser melhor que o passado? Não. 

Mesmo assim, como investidores, em muitos momentos o “ver para crer” não é suficiente. Nessas horas é preciso exercitar o “crer para ver”. 

E, acima de tudo, trabalhar. Que é uma das poucas variáveis que podemos controlar.

*Felipe Ruiz, sócio do AGF (Ações Garantem Futuro)

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Investir sem um preço-alvo é acreditar apenas na sorte