O maior objetivo da campanha InspirAções – Juntas Fazemos Acontecer, é aproximar mulheres que se realizaram nos seus campos profissionais corporativos, ocupando esse espaço de trabalho de forma relevante, com as mulheres que trabalham nas comunidades – dois grupos que têm perspectivas e contextos diferentes, mas que podem se inspirar e se apoiar em suas jornadas.

Há mais de 20 anos no Brasil, a ActionAid é uma organização social sem fins lucrativos que vive basicamente de doações de pessoas e parcerias com empresas, institutos e fundações, e trabalha no enfrentamento da pobreza – não só da falta de recursos, mas com oportunidades e relação de poder.

Com o apoio do Movimento Mulher 360, a ideia da campanha é fortalecer a liderança feminina no desenvolvimento comunitário, promovendo a agroecologia para garantir o acesso a alimentos saudáveis e gerar renda, na implementação de tecnologias sociais de resiliência hídrica, e no enfrentamento da violência contra a mulher.  “A atuação da mulher no desenvolvimento social é fundamental. E isso ficou ainda mais evidente na pandemia, em que as mulheres ficaram na frente da batalha da Covid-19, da crise e também na retaguarda, assumindo os cuidados das pessoas em casa”, diz Renata Couto, Diretora de Mobilização de Recursos na ActionAid Brasil.

Em entrevista ao Movimento, Renata conta mais sobre a organização, onde atua há mais de quinze anos, sobre a campanha InspirAções e sobre como pessoas e empresas podem ajudar. Confira.

MM360 – Há mais de quinze anos você atua com organizações do terceiro setor no fortalecimento e desenvolvimento institucional, apoiando a construir e implementar estratégias de sustentabilidade, mobilizando recursos e pessoas. De que forma essa sua experiência com a atuação da ActionAid se conecta com a frente de equidade de gênero?

De alguma forma, a minha experiência ao longo desses anos no terceiro setor sempre tangenciou a questão de gênero, primeiramente porque as mulheres são as que ocupam majoritariamente este setor, e estão na dianteira das discussões sociais seja nas organizações, nas áreas de responsabilidade social de empresas e institutos, e também nas linhas de frente nos territórios. Pela minha experiência, as interlocuções são muito femininas, e considero esse aspecto significativo, pois aponta que não nos conformamos com desigualdades e nos fortalecemos como sujeito de mudanças que operam transformações reais na vida. 

Na ActionAid, esse foco é mais evidente, pois trabalhamos no enfrentamento da pobreza e as mulheres são as que mais sofrem com isso. Pobreza não é só falta de recursos, tem a ver com oportunidades e relação de poder. Meninas deixam de estudar antes dos meninos para tomarem conta da casa e limitam seu horizonte de desenvolvimento. Mulheres sofrem violência e opressão dos maridos e são impedidas de se desenvolverem profissionalmente porque respondem pela maior parte da carga do trabalho doméstico. Isso tem que mudar. Isso é pertinente a todas as mulheres e homens, porque um mundo mais justo vai beneficiar todas as pessoas. Quando todas as pessoas tiverem plena capacidade de se desenvolverem, teremos um mundo mais próspero, tenho certeza disso.

MM360 – Qual o propósito da campanha InspirAções – , resultado de uma parceria entre o Movimento Mulher 360 e a ActionAid?

O nosso desejo é aproximar essas mulheres, aquelas que se realizaram nos seus campos profissionais, que têm uma carreira plena, que estão ocupando esse espaço de trabalho de forma tão relevante, com as mulheres que trabalham nas comunidades. E que essas mulheres de perspectivas e contextos diferentes possam se inspirar e se apoiar em suas jornadas. Tenho muita confiança nesse círculo de fortalecimento feminino. Como diz uma canção popular, “se ando sozinha vou bem, mas quando juntas, caminho bem melhor”.

MM360 – Da mulher executiva à mulher do campo, há muitas similaridades, mas também muitas diferenças. Como podemos desconstruir estereótipos, empoderar a união, estimular a sororidade e superar desafios em comum para nos inspirar com estas diferenças?

As executivas e as mulheres do campo, agricultoras, vivem contextos muito diferentes, mas partilham sonhos semelhantes e também enfrentam obstáculos parecidos. A questão da divisão injusta da carga de trabalho doméstico, por exemplo, é algo que todas as mulheres enfrentam.  Mesmo nas classes econômicas mais altas, são as mulheres que respondem majoritariamente pelas providências do lar. As mulheres do campo, além desse desafio, enfrentam dificuldades ainda mais estruturais – acompanhamos a realidade de agricultoras do semiárido brasileiro, no sertão nordestino, que precisam caminhar quilômetros para buscar água para uso doméstico e na plantação. Mas elas não esmorecem e vão para o roçado embaixo do sol ardente. Fazem isso porque precisam dar conta da alimentação de seus filhos. E nisso, acredito que, mesmo com toda diferença em seus contextos, todas as mulheres enfrentam desafios, estruturais, que precisam ser transformados, e nunca desistem da busca de uma vida digna para elas, seus filhos e suas famílias.

MM360 – Por que ainda falamos tanto sobre profissões e posições tipicamente masculinas e femininas quando já conseguimos provar que todas as pessoas podem realizar atividades profissionais independente de seus gêneros?

Pois é, eu li um relatório recente da FAO (Food and Agriculture Organization, da ONU) que indica que as mulheres são responsáveis pelo plantio de 60% dos alimentos no mundo. Não é incrível que essa informação não apareça? E o trabalho é duro. Então não tem essa de alguns trabalhos são para homens e outros para mulheres. Como trabalhamos incentivando a agricultura familiar nas comunidades, vemos o protagonismo feminino nessa produção muito de perto. As mulheres no Brasil plantam para alimentar seus filhos, mas também o meu e o seu.  Agora mesmo estamos promovendo a formação de mulheres “cisterneiras”, que constroem cisternas para enfrentamento da seca no sertão pernambucano, paraibano e baiano. Elas sofrem preconceito, mas enfrentam e estão construindo muito bem, gerando renda e resiliência hídrica para as famílias e comunidades. Mas esse mesmo relatório da FAO mostra que as mulheres só têm acesso a 2% da terra. No Brasil, a mulher só passou a ter direito à propriedade da terra a partir de 1988, e acesso ao crédito agrícola a partir de 1997.  E nem estamos falando de países mais tradicionais em que a questão de gênero ainda é mais acirrada,tendo o trabalho feminino mais invisível. Ou seja, ainda temos um longo caminho para a equidade de direitos. 

MM360 – O que é e para que serve a captação de recursos desta campanha?

Para que a gente possa continuar o nosso trabalho com mulheres. A ActionAid é uma organização social sem fins lucrativos e vive basicamente de doações de pessoas e parcerias com empresas, institutos e fundações. Nós trabalhamos há mais de 20 anos no Brasil, no enfrentamento da pobreza em aproximadamente 523 comunidades, impactando 25 mil famílias e 300 mil pessoas por ano. Nossa estratégia é fortalecer a liderança feminina no desenvolvimento comunitário, promovendo a agroecologia para garantir o acesso a alimentos saudáveis e gerar renda, na implementação de tecnologias sociais de resiliência hídrica como cisternas, biofiltros, bioágua, RAC (Reutilização de Águas Cinzas), e no enfrentamento da violência contra a mulher.  A atuação da mulher no desenvolvimento social é fundamental. E isso ficou ainda mais evidente na pandemia, em que as mulheres ficaram na frente da batalha da Covid-19, da crise e também na retaguarda, assumindo os cuidados pelas pessoas em casa.

MM360 – Como as pessoas podem fazer parte e apoiar esta campanha? A campanha é somente de mulheres para mulheres?

As pessoas podem apoiar de várias formas, seja fazendo uma doação de forma fácil e segura pelo nosso site, seja acompanhando e divulgando nosso trabalho, nos inspirando nesses exemplos, e também falando dessas mulheres incríveis. Não é uma campanha só de mulheres para mulheres, é para todas as pessoas. Outro dia estava falando com um apoiador nosso que me contou que foi criado somente por sua mãe e hoje, um homem bem-sucedido, ele reconhece o aperto que ela passou. Agora ele quer apoiar outras mulheres, pois assim ele saberia que outras pessoas teriam a mesma chance que ele teve. Não é bonito esse reconhecimento? Tenho certeza que há muitas histórias assim. E tenho certeza que com mulheres fortalecidas, os homens também estarão. É sobre crescer juntas, juntos e juntes.

MM360 – E as empresas e instituições? Como elas podem apoiar o trabalho da ActionAid?

Temos parcerias com empresas, fundações e institutos nacionais e internacionais. Algumas empresas realizam doações diretas, com outras instituições realizamos projetos específicos.  Trabalhamos em rede com organizações locais e conseguimos ter capilaridade no Brasil. E agregar parceiros dessa natureza corporativa sempre amplia nossa atuação na troca de conhecimento e expertises. Ademais, considero muito importante termos esses apoios não só por causa do investimento social, mas porque essas instituições são importantes atores sociais e quanto mais estivermos próximos nas nossas ações, mais força teremos.

Acesse https://conteudo.actionaid.org.br/mulheres-e-inspiracoes e saiba mais sobre a campanha!

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