Já faz alguns trimestres que o Bradesco (BBDC4), um dos “bancões” do país, vem apresentando resultados mornos. No 3T os números melhoraram, lucro líquido de R$ 5,2 bilhões (quase metade do Itaú, a título de comparação), que equivale um ROE de 12,8% no trimestre. Embora os analistas do BB Investimentos considerem o resultado positivo, que foi favorecido pelo menor custo do crédito, além de receitas com clientes e receitas de serviços e seguridade sólidas, foi prejudicado por margem com o mercado menor do que o esperado e maiores despesas. A parte boa ficou por conta do crescimento da carteira de crédito, das receitas de serviços e seguridade e do menor custo do crédito. 

O Bradesco é uma das empresas de cobertura Best in Class do Acionista por integrar os principais critérios de sustentabilidade da B3. O especialista em investimentos do Acionista, Gustavo Guerses, ressalta que essa cobertura tem o intuito de sugerir ao investidor que ele procure pelas melhores empresas na bolsa e que provavelmente é uma ideia de longo prazo. “O jeito de se comunicar pode ser justamente esse: de ter paciência, acreditar no investimento independente do macroeconômico, encontrando estes argumentos dentro do viés dos analistas”, comentou.

Análises do 3T de Bradesco (BBDC4)

O time do BB comenta que a qualidade do crédito merece menção como tendência positiva, com a inadimplência recuando em todas as modalidades, “ajudando a cristalizar a percepção de que as novas safras de crédito estão de fato mais salutares”. A inadimplência acima de 90 dias total ficou em 4,2% (de 4,3% no 2T). 

Pelo lado negativo, os analistas apontam a margem com mercado (tesouraria), que permaneceu em patamar historicamente baixo por conta da abertura da curva de juros, “que impacta a dinâmica dos ativos e passivos do banco”. 

As despesas também mostraram pressão, variando 4% t/t e 12,1% a/a, “embora exista uma contaminação oriunda do aumento de participação do banco na Cielo neste trimestre (que também impactou as receitas de serviços)”, justificam. 

Já as receitas aceleraram em ritmo ligeiramente superior, e com isso o índice de eficiência melhorou marginalmente (48,3%). “Por fim, a margem com clientes trouxe sensações mistas, já que apesar do salto sobre o 2T (e deste sobre o 1T), analogamente ao custo do crédito, permaneceu representando percentual historicamente baixo sobre a carteira de crédito, denotando que o mix mais conservador imposto recentemente também tem suas desvantagens.” 

Ações do Bradesco (BBDC4)

O BB observa que as ações do Bradesco (BBDC4) tiveram variação idêntica à do Ibovespa nos últimos 12 meses. Mas a expectativa em torno dos resultados e dos esforços de rearranjo organizacional trouxeram volatilidade ao longo deste período. “Acreditamos que o resultado do 3T, com elementos mistos, e a expectativa de um cenário macro menos promissor deva pesar sobre o caminho para a retomada da velha forma deva, que deve continuar penosa, limitando, assim, os gatilhos positivos para a ação”. afirmam os analistas.

Os analistas do BB nada animados

Os analistas do BB Investimentos vivem um dilema, segundo o relatório sobre o 3T do Bradesco, entre reconhecer o potencial do rearranjo organizacional em andamento e entender como isso se aplica ao atual contexto. 

“É fato que bastante de nossa ausência de otimismo no momento vem da deterioração projetada na atmosfera macro, que sugere ambiente de crédito mais restritivo no próximo ano derivado de inflação e juros mais elevados (que devem manter as receitas com tesouraria em xeque), impactando potencialmente na capacidade de pagamento das famílias, especialmente as de menor renda, que estão largamente associadas à clientela do Bradesco. Dito isso, continuamos acreditando que o rumo ao retorno dos áureos tempos está mais claro a cada trimestre, mas o ritmo e eventuais surpresas tanto na atmosfera setorial e regulatória permanecem impondo um caminho tortuoso.”

Além disso, o BB incorporou os números do 3T24 ao valuation, ajustando a taxa de desconto (ke) devido à movimentação dos fatores macro em geral, e o novo preço-alvo de R$ 16,50 para o final de 2025, o que representa um potencial de valorização de 13,5% com base no preço atual. 

“Apesar do potencial de valorização, mantemos a recomendação neutra para as ações do Bradesco, entendendo que o fim do momento de rentabilidade baixa ainda custa a se materializar, devendo ficar mais para 2025 ou em 2026 a julgar pela velocidade da retomada.” 

Genial otimista com o futuro

Para os analistas da Genial, o 3T24 do Bradesco foi positivo. “O Bradesco apresentou um desempenho consistente com a narrativa de melhoria gradual (step-by-step) e superou o consenso, reforçando uma abordagem de “under promising and over delivering” (prometer menos e entregar mais)”, defendem. 

Neste trimestre, a Genial observou um desempenho modesto na receita líquida de juros (NII), que cresceu apenas 2,7% t/t e 0,9% a/a, mas em linha com a estratégia de crescimento em linhas de crédito de menor risco e menor spread. segundo os analistas, o banco provavelmente “não cumprirá o guidance de crescimento de NII de 3% a 7%, dado o acumulado de apenas -4,8% nos primeiros nove meses de 2024”.

Apesar do desempenho do Bradesco ainda estar aquém do ideal, a Genial avalia que a “tendência de melhoria na rentabilidade continua válida, possivelmente com uma composição diferente entre linhas de NII e PDD”.

Os analistas acreditam em uma recuperação gradual nos próximos períodos, consistente com a tese de melhora. “Negociando com múltiplos atrativos (7,9x P/L 2024e, 6,4x P/L 2025e e 0,9x P/VP 2024e), reiteramos nossa recomendação de compra para BBDC4, com preço-alvo de R$ 19,00 (upside de 31%) até o final de 2025.”

BTG Pactual segue com recomendação neutra

Os analistas do BTG Pactual estão na linha dos colegas do BB Investimentos. Eles acreditam que os resultados e KPIs estão alinhados com o que a gestão do Bradesco vem comunicando desde que o plano de “transformação” anunciado em fevereiro. 

“O Bradesco ajustou seus modelos de crédito e agora está ‘reabrindo’ as portas aos clientes, visando recuperar e melhorar a ‘principalidade’. O banco também está ‘limpando’ o seu balanço de empréstimos ‘inadimplentes’ concedidos em 2021, o que está levando a provisões menores, e reforçando a sua estratégia de obter ganhos de eficiência”, comntam os analistas.

Eles veem isso como um trabalho em andamento e aguardam que o terceiro trimestre e a dinâmica recente do mercado possam trazer alguma decepção. “Do ponto de vista de trading, estávamos mais otimistas em relação às ações após o segundo trimestre do que estamos agora. Nossa recomendação permanece neutra.”

Itaú gosta das tendências operacionais

Segundo a análise do Itaú BBA, a leve contração dos spreads (NIM) foi a única crítica dos investidores sobre o 3T24 do Bradesco. “Enxergamos a NIM dentro do contexto de provisões para crédito também muito mais baixa. O foco de originação em melhores clientes se refletiu em uma queda de 20 pontos-base no custo de risco (provisão sobre carteira), e o índice de inadimplência (NPL) total caiu 10 pontos-base”, comentaram os analistas.

Entretanto, a receita de crédito após PDD, expandiu fortemente em 7% no trimestre. Esse avanço foi acompanhado por um aumento de 3% na receita com tarifas (sem a Cielo) e um resultado 9% melhor no segmento de seguros, com ganhos em todas as áreas. As despesas administrativas e de pessoal cresceram 2% no trimestre (sem a Cielo), com melhora nos índices de eficiência.

“As projeções corporativas da empresa para o ano não mudaram, com menores provisões compensando um ritmo de crescimento mais lento da receita de crédito. No geral, os resultados mostram o Bradesco ganhando tração nos negócios e recuperando sua capacidade de lucratividade. A qualidade forte dos indicadores de crédito deve dar confiança ao banco para continuar acelerando o crescimento da carteira de crédito em 2025”, comentam.

Assim, os analistas do Itaú demonstram certo otimismo, porque apesar do lucro final ligeiramente abaixo do esperado, eles deixam claro que gostam das tendências operacionais e do panorama geral. “Reiteramos nossa recomendação de compra para Bradesco (BBDC4), com as ações sendo negociadas a 0,9 vezes o valor patrimonial esperado para 2025.”

O que esperar?

Para a Nord, o banco já conseguiu “apresentar uma foto mais bonita dos resultados”, conforme prometido” pela nova gestão”. Além disso, os analistas citam que o Guidance reportado se mantém e “alguns números do Bradesco seguem aquém, como margem financeira e resultado de operações de seguros e serviços, no limiar inferior do guidance”.

Dividendos e JCP de Bradesco (BBDC4)

A companhia anunciou pagamento de JCP intermediário em 30/04/2025, no valor líquido de R$0,152635074 por ação ordinária e R$0,167898582 por ação preferencial, já deduzido o Imposto de Renda na Fonte de 15% (quinze por cento).

Serão beneficiados os acionistas que estiverem inscritos nos registros da Sociedade em 30.9.2024 (data-base de direito), passando as ações a serem negociadas “ex-direito” aos juros intermediários a partir de 1o.10.2024. O dividend yield do Bradesco dos últimos 12 meses é de 8,9%.

Por fim, a XP Investimentos acredita que embora o resultado final tenha apresentado um crescimento significativo sequencialmente, os analistas veem uma contribuição positiva proveniente de um nível mais baixo de provisões (abaixo da criação de NPL) e uma baixa taxa de imposto efetiva (~22%). A rentabilidade mais forte implicou em um ROAE de 12,4% (-80 bps vs. XPe). “O Bradesco registrou um CET1 de 11,2%, 10bps maior sequencialmente. Uma redução no CET2 (-20bps T/T) levou o índice BIS a 15,1% (-10bps T/T). Apesar dessa queda durante o terceiro trimestre, ainda vemos o capital do Bradesco como saudável.”

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