Mais um dia em que a Bovespa operou com intensidade de queda maior que outras Bolsas do mundo, exceto algumas da Ásia durante a madrugada. Uma parte disso é explicado pelo vencimento de opções com forte volume de exercício (R$ 12,7 bilhões), necessitando ajustes de posições em dia fraco. Outra parte se justifica pela saída constante de recursos de investidores estrangeiros da Bovespa, que se não saem do país, pelo menos geram pressão de oferta de títulos. A constatação é que estamos relativamente entre os piores do mercado, apesar de termos batido novos recordes de pontuação.
No exterior, duas situações mexeram com os mercados de risco na sessão de hoje. De um lado, o temor com o coronavírus que está na China se espalhar por outras regiões (turista chinês foi diagnosticado nos EUA com o vírus), e de outro, as repercussões da reunião anual de Davos, onde hoje falaram o presidente Trump, seus secretários mais importantes e o ministro Paulo Guedes.
Trump discursou sobre a expansão econômica forte dos EUA, os acordos importantes formalizados com a USMCA (Canadá e México) e a primeira fase do acordo com a China. Já o secretário do Tesouro, versou sobre o grande feito de os EUA se tornarem independentes em energia, enquanto Kudlow, disse que os EUA podem crescer até 3% em 2020, que juros negativos são ineficientes e política monetária não funciona sozinha. Tais declarações mexeram com o equilíbrio cambial e sobretudo com os juros. Além disso, os mercados americanos ganharam mais fôlego com a sinalização de que os EUA tencionam cortar impostos para a classe média.
A China também versou sobre desafios da globalização inclusiva e aberta e que os assuntos internacionais não devem ser ditados por um único país. Crescentemente falam do multilateralismo. No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em NY mostrava queda de 0,34%, com o barril cotado a US$ 58,34. O euro era transacionado praticamente estável em US$ 1,109 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros em forte queda para 1,767%. O ouro e a prata em queda na Comex e commodities agrícolas com comportamento misto na Bolsa de Chicago. O minério de ferro negociado na China teve dia de queda de 0,10%, com a tonelada fechando em US$ 96,80.
Falando de Brasil, o ministro Paulo Guedes em Davos disse que o Brasil crescerá em 2020 cerca de 2,50%, que estão removendo entraves ao crescimento, que a reforma da Previdência atacou privilégios, depois atacaram juros e agora mira a folha de pagamentos. Quebraram o monopólio no gás e será preciso investir em educação o mais cedo possível. Paulo Guedes também disse que estão próximos de fechar acordo de bitributação com a Suíça. Já o secretário de privatização Salim Mattar, indicou que há US$ 1,5 trilhão no mundo disponível para investir, sobretudo em infraestrutura.
A Vale e a Tüv Süd foram denunciadas por crimes ambientais pelo MPMG (Ministério Público de Minas Gerais) na tragédia de Brumadinho. No mercado local, os juros dos DIs mais líquidos terminaram o dia com comportamento de queda, enquanto o dólar encerrou em alta de 0,39% e cotado a R$ 4,205. Na Bovespa, os investidores estrangeiros voltaram a sacar recursos na sessão de 17/1 no montante de R$ 452,6 milhões, deixando o saldo de janeiro com saídas de R$ 7,03 bilhões, muito forte.
No mercado acionário, dia de queda da Bolsa de Londres de 0,53%, Paris com -0,54% e Frankfurt com alta de 0,05%. Madri e Milão com quedas de respectivamente 0,57% e 0,65%. No mercado americano, o Dow Jones com -0,52% e Nasdaq com -0,19%. Na Bovespa, um dia ruim com o índice perdendo o patamar de 118.000 pontos e fechando em queda de 1,54% e índice em 117.026 pontos.
Na agenda de amanhã, a FGV anuncia a confiança da indústria de janeiro e o Bacen o fluxo cambial da semana anterior. Nos EUA, as vendas de imóveis usados de dezembro e o índice de atividade nacional de Chicago de dezembro. O departamento de energia divulga os estoques de petróleo e derivados na semana anterior.
Alvaro Bandeira
Economista-chefe do banco digital Modalmais