🌎 CENÁRIO EXTERNO
Plano Biden vai tomando forma
Mercados
Mercados asiáticos encerraram a semana com desempenhos predominantemente positivos, mas sem grandes oscilações. Na zona do euro, índices de mercado amanheceram em queda, com o Stoxx 600, índice que abrange ativos de toda a região, registrando perda de 0,4% até o momento. Nos EUA, índices futuros de NY ensaiam manhã de recuperação para as bolsas americanas (S&P 500 fut: +0,2%), enquanto o dólar (DXY: -0,3%) volta a cair e o juros futuros têm nova manhã de fechamento (rendimento das treasuries de 10 anos: 1,55% a/a). Por fim, na fronte das commodities, ativos também têm sessão predominantemente positiva até o momento. O preço do petróleo (Brent Crude – ICE) registra alta modesta de 0,1%, negociado próximo dos US$ 65,50/barril.
Plano Biden vai tomando forma
Ativos de risco amanheceram na contramão do fechamento de ontem, com bolsas europeias em tom de realização enquanto índices futuros de NY ensaiam uma manhã de recuperação. O plano de infraestrutura ambicioso de Joe Biden, que promete injetar cerca de US$ 2,25 trilhões em 8 anos, ontem deu mais uma pista sobre qual serão as contrapartidas e acabou pesando sobre o desempenho das bolsas do país. Na Europa, a manutenção de uma postura ultra acomodatícia pelo BCE na reunião de ontem garantiu uma nova sessão de valorização para os ativos de risco da região.
Mirando os super-ricos
Além da alta dos impostos corporativos divulgada inicialmente, o governo Biden anunciou ontem que planeja praticamente dobrar os impostos sobre ganhos de capital para indivíduos com renda superior a US$ 1 milhão/ano (cerca de 0,32% da população). Caso a medida avance da forma que foi apresentada, a taxa paga sobre a valorização de ativos pode chegar a 43,4% quando incluindo a sobretaxa destinada ao financiamento do Obamacare na conta. Não obstante, o tramite no Congresso não será simples: o projeto de Biden não pode sofrer nenhuma deserção no Senado e apenas algumas na Câmara dos Representantes para ser aprovada – a ala mais conservadora do partido, normalmente associada a Joe Manchin, deve configurar o principal risco para a proposta.
Diagnóstico para os mercados
Em primeiro momento, a reação negativa do mercado foi algo que poderia ser amplamente antecipado dada a natureza do anúncio, mas a magnitude da queda e os sinais de recuperação já na próxima sessão sinalizam que o mercado ainda está avaliando a situação. É provável que o texto seja alterado – tanto na parte dos gastos quanto da arrecadação – durante o seu trâmite no Congresso americano, mas algum aumento de impostos deverá ocorrer ao longo dos próximos meses. Olhando isoladamente, esse aumento não configuraria um entrave relevante para os mercados, principalmente por ter como finalidade um aumento relevante do investimento público, mas os níveis esticados de preços praticados nas bolsas americanas aumentam a probabilidade de correções durante a sua implementação.
Economia europeia
A leitura preliminar de abril do Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) trouxe sinais promissores ao apontar para a continuidade do processo de retomada econômica na zona do euro mesmo após a região ter incrementado as restrições contra a propagação da covid-19 a partir do mês de março. A pesquisa realizada pelo Instituto Markit e utilizada como termômetro para a atividade voltou a ter como principal destaque o setor industrial, que registrou alta para 63,4 de 63,3 em março, renovando o patamar mais alto desde o seu início em 1997 (leituras acima de 50,0 apontam para expansão e, abaixo de 50,0, contração). Nesta fronte, o crescimento do número de pedidos e alta demanda por matéria prima tem pressionado a oferta, consequentemente pressionando os preços.
Sinais promissores
Enquanto isso, o setor de serviços segue patinando em direção a uma retomada, principalmente em vista do contínuo esforço dos governos para conter a propagação do coronavírus. Mesmo assim, o setor conseguiu adentrar terreno expansionista pela primeira vez desde agosto do ano passado, fato que mostrou uma certa resiliência após a reintrodução de medidas de isolamento em março. Assim, o índice composto (que considera tanto a indústria quanto o setor de serviços) se manteve em terreno expansionista, avançando para 53,7 de 53,2 em março, apesar das dificuldades que ainda estão sendo encontradas na fronte sanitária. Na medida em que as campanhas de vacinação avançam e o vírus é contido, a tendência é de melhora contínua para o setor, assim como já estamos vendo ocorrer nos EUA.
Na agenda
Assim como foi na zona do euro, o PMI/Markit preliminar de abril protagonizará a agenda econômica nos Estados Unidos, com divulgação prevista para às 10h45. Na fronte corporativa, a American Express divulga seu balanço antes da abertura das bolsas em Nova Iorque.
CENÁRIO BRASIL
Bolsonaro sanciona orçamento com veto de R$ 19,8 Bi
Fim do imbróglio
O presidente Jair Bolsonaro sancionou o Orçamento de 2021 com vetos de R$ 19,8 bilhões de dotações orçamentárias. A sanção encerra um imbróglio de meses em torno da peça orçamentária que subestima despesas obrigatórias para destinar mais espaço às emendas parlamentares – fato que tornou o orçamento “inexequível” segundo declarações anteriores do ministro Paulo Guedes (Economia). Dos quase R$ 20 bi que foram vetados, metade (R$ 10,5 bi) foram retirados de emendas do relator e outros R$ 1,4 bi de emendas de comissões. O restante (R$ 7,9 bi) dos cortes miram despesas discricionárias dos ministérios.
Teto de gastos respeitado?
Para aderir ao teto de gastos, o presidente também bloqueou R$ 9 bi em recursos que não foram detalhados, mas ainda podem ser liberados no decorrer do ano. O desfecho da saga orçamentária evitou desgaste maior com o Congresso, que seria causado por um veto integral da proposta ou uma redução maior dos recursos destinados às emendas. Na prática, a União deve gastar ao menos R$ 100 bi além do permitido pelo teto de gastos, manobra que foi consagrada nesta semana com a sanção de um projeto que alterou a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias).
Bolsonaro verde
A participação do presidente Jair Bolsonaro na Cúpula de Líderes sobre o Clima – evento digital convocado pelo presidente dos EUA, Joe Biden – surpreendeu o público internacional pelo seu tom conciliador e moderado. Bolsonaro prometeu zerar o desmatamento ilegal até 2030 e atingir neutralidade climática até 2050. Mesmo que o discurso tenha sido recebido com um certo grau de ceticismo, a mudança de tom do presidente deve, por ora, reduzir a pressão internacional exercida sobre o Brasil.
Resultados
Eventualmente, o Brasil terá de mostrar resultados concretos que caminham em direção às metas prometidas por Bolsonaro para evitar que o assunto do meio ambiente contamine o fluxo de investimento estrangeiro direcionado ao Brasil e as negociações comerciais que abrem as portas para exportações brasileiras.
Cada vez mais distante da ficha suja
O plenário do STF confirmou a parcialidade do ex-juiz Sergio Moro na condenação do ex-presidente Lula referente ao caso do tríplex de Guarujá. O julgamento foi suspenso e deve ser retomado na próxima quarta-feira, mas o placar de 7 a 2 já não pode ser revertido. A cúpula do Judiciário também determinou que a vara do D.F. deve receber os quatro processos contra o petista – todos serão reiniciados da estaca zero.
Na agenda
Não serão divulgados indicadores econômicos relevantes ao longo desta 6ªfeira.
E os mercados hoje?
Mercados globais iniciaram a última sessão da semana sem direção única, com bolsas europeias recuando enquanto índices americanos ensaiam uma manhã de recuperação. Como destaque no noticiário, o mercado segue avaliando o aumento de impostos sobre ganhos de capital proposto pela equipe Biden como meio de financiamento do seu plano ambicioso de infraestrutura – notícia que derrubou as bolsas por lá ontem. No Brasil, a novela do orçamento chega ao fim com o veto definitivo de R$ 19,8 bilhões e bloqueio de R$ 9 bi, fazendo com que o texto – à primeira vista – fosse sancionado dentro do teto de gastos. Ontem, a expectativa com a sanção já culminou na redução dos prêmios de risco locais, levando o real a apreciar contra o dólar e a curva de juros fechar ao longo da maior dos seus vértices. Hoje, a expectativa é da manutenção de um ambiente mais favorável para ativos locais, que deverão acompanhar o início de manhã positivo ensaiado pelos índices americanos.