A balança comercial no ano de 2021 continua registrando resultados que superam os valores obtidos ao longo da série histórica, desde 1997, segundo dados da Fundação Getulio Vargas (FGV). O saldo da balança comercial de junho foi de US$ 10,4 bilhões o que levou a um saldo acumulado no primeiro semestre de US$ 36,7 bilhões, ultrapassando o superávit de US$ 31,9 bilhões obtido no primeiro semestre de 2017. A corrente de comércio em junho foi de US$ 45,8 bilhões, um aumento de 61,4% em relação a igual período de 2020 e no acumulado do ano até junho alcançou o valor de US$ 235 bilhões. As exportações também atingiram valores recordes seja na série mensal ou na do primeiro semestre do ano.
No caso das importações, o valor de US$ 17,8 bilhões, foi o quinto maior na série, com o pico sendo registrado em junho de 2011 (US$ 19,4 bilhões). Na comparação dos resultados do primeiro semestre, o valor de US$ 99,2 bilhões é também, o quinto maior valor da série, com o recorde sendo registrado no primeiro semestre de 2013 (US$ 118 bilhões). Observa-se que a desvalorização da taxa de câmbio, em 2021, em relação a esses anos é o principal fator para explicar essa diferença. A desvalorização do câmbio real efetivo (deflator IPCA/IPC da cesta de moedas) no primeiro semestre de 2021 foi de 91% em relação à 2011 e de 62%, em relação a 2013.
Mesmo sendo o quinto maior valor da série e num cenário de desvalorização cambial, as importações aumentaram em junho 62,6% e na comparação dos dois primeiros semestres de 2020 e 2021, 26,5%. Nas exportações, o aumento foi de 60,7%, na comparação interanual do mês de junho, e de 35% entre os dois primeiros semestres. O aumento da corrente de comércio é, portanto, resultado de uma melhora nos fluxos totais de comércio do Brasil.
A China continuou na liderança para o aumento do superávit comercial. O saldo do Brasil com o país passou de US$ 16,9 bilhões para US$ 25,2 bilhões entre o primeiro semestre de 2020 e o de 2021. Além dos Estados Unidos, o Brasil registrou déficits acima de um bilhão, com a Alemanha (US$ 3,07 bilhões), Rússia (US$ 1,48 bilhões) e Índia (US$ 1,12 bilhões).
Observa-se que com a Rússia as exportações caíram (-2,9%) e as importações aumentaram (46,3%) sendo 54% composta de adubos e fertilizantes. O déficit com a Alemanha e os Estados Unidos se refere aos diferenciais de valor adicionado entre as exportações (menor valor) e as importações (maior valor). No caso da Índia a pauta tem se mantido com a mesma estrutura ao longo dos anos: exportamos óleo bruto (53% da pauta) e importamos combustíveis (20% da pauta) e compostos organos-inorgâncos (13% da pauta). Na comparação interanual do primeiro semestre, as exportações para a Índia aumentaram 53% e as importações, 58,4%.
Nas exportações, a participação da China foi de 34,4%, seguida dos Estados Unidos (9,8%) e da Argentina (4,1%) no primeiro semestre de 2021. Nas importações, a liderança é da China (21,7%), mas a distância para os Estados Unidos é menor (5,1 pontos percentuais). O grau de concentração da pauta de exportações do Brasil é evidenciado quando se observa que dos 243 países que o Brasil comercializa, apenas 23 países mostram percentual de participação acima de 1%.
Os bons resultados da balança comercial em 2021 reforçam tendências que passaram a ser estruturais no comércio brasileiro: a crescente dependência da China e das commodities. Para elevar a participação de outros países é necessário que o país ofereça, em bases competitivas, um leque maior de produtos no comércio mundial. Ressalta-se ainda que o aumento da participação da China é explicado mais pelos preços do que aumento do volume exportado, como iremos analisar.
Índices de Comércio Exterior
Os resultados de junho seguem a tendência observada nos últimos meses: crescimento das exportações, liderado pela alta de preços, e das importações, pelo volume. Na comparação dos dois primeiros semestres de 2020 e 2021, o volume exportado cresceu 6,6% e o das importações, 20,7%. Os preços exportados aumentaram 25,2% e os importados, 5,1%. A análise das importações com ou sem plataformas passaram a reduzir seus diferenciais a medida em que a Secretaria de Comércio Exterior mudou a sua contabilidade. Ver edição de abril, nº 48 do ICOMEX, onde se explica a revisão metodológica e se compara a antiga e a nova série.
O aumento dos preços das commodities é o principal responsável pela melhora dos termos de troca, que aumentaram 19% entre os dois primeiros semestres de 2020 e 2021. Na comparação interanual de junho, os preços desses produtos cresceram 66,3% e no acumulado do ano, 33,6%. A média do índice de preços das commodities no primeiro semestre de 2021 (165) é menor, porém, do que no período de 2011 a 2014, quando o índice anual chegou a 210, em 2011. Não obstante, a principal pergunta é se esses preços vão se manter em alta para os próximos meses.
Em relação à demanda chinesa por commodities metálicas que está atrelada ao aumento dos investimentos em infraestrutura, para o Brasil o que importa é o minério de ferro. É provável que o ritmo dos investimentos comece a arrefecer em 2022, assim como o dos preços. Por outro lado, os planos do governo Biden de infraestrutura e estímulos para o crescimento da economia alimentam o aumento de preços de commodities siderúrgicas. As exportações brasileiras de produtos semi-acabados de ferro e aço para os Estados Unidos cresceram 326% na comparação interanual de junho. No que tange aos produtos agrícolas, um cenário similar é esperado em temos de regularização dos estoques e de estabilidade de preços, supondo ausência de choques de oferta.
Em suma, não se espera um ‘choque positivo de aumento de preços’ que sustente previsões de um maior superávit em 2022 em relação a 2021.
No mês de junho, a liderança no volume exportado foi da indústria extrativa (23,8%), seguida da transformação (12,5%), tendo sido registrado queda na agropecuária (12,9%). Minério de ferro e petróleo foram os principais itens da indústria extrativa. Na comparação dos primeiros semestres, a indústria de transformação lidera (10,4%) seguida da extrativa e da agropecuária. O aumento de 1% no volume exportado da agropecuária em contraste com o aumento de 21,7% no índice de preço do setor mostra que a elevação dos preços foi o principal fator para o aumento da sua receita de exportações.
No caso das importações, as variações nos volumes na comparação dos primeiros semestres superam o das exportações para todas as indústrias. Chama atenção, o aumento de 27,2% na agropecuária e de 49,8% na indústria de transformação entre os meses de junho de 2020 e 2021.
A análise do volume importado pela indústria e pela agropecuária mostra que a última elevou suas compras de máquinas e equipamentos (61,4%), assim como de bens intermediários (22,9%). Os ganhos de receitas nas exportações e previsões de uma demanda mundial em recuperação sugerem que o setor está se preparando para as novas safras que irão ser cultivadas para as vendas de 2022. Na indústria, aumento de 46,9% nas compras de bens intermediários e de 47,2% das máquinas sugere um sinal positivo em termos do nível de atividade do setor.
Observa-se que o efeito da plataforma na análise da indústria, embora pouco relevante na análise mensal, deve ser destacado na comparação do acumulado. Nesse caso, com as plataformas, as importações de máquinas caem 1,3% e sem as plataformas, aumenta 12%.
As exportações da indústria de transformação por categoria de uso mostram que o setor automotivo (bens duráveis de consumo) continua na liderança com aumento de 191,4% na comparação interanual do mês de junho e 79,4% na comparação dos primeiros semestres. Ressalta-se o mercado argentino que absorveu 41% das exportações de automóveis para passageiros em junho. Os bens de capital e os semiduráveis também registraram aumentos de dois dígitos no volume exportado.
As elevadas taxas de variação no volume importado dos bens duráveis na indústria de transformação e similares ao das exportações é um indicativo do comércio intra-indústria do setor automotivo.
Por último, a análise do volume exportado por principais mercados mostra que, exceto a China, as variações são positivas nas duas bases de comparações para todos os mercados, onde se destaca o desempenho para a Argentina, o México e países da América do Sul (exceto Argentina) com altas de 46,3%, 68,4% e 59,4%, respectivamente entre junho de 2020 e 2021.
Para as importações, apenas os Estados Unidos registraram queda na comparação dos primeiros semestres do ano e a menor variação na comparação interanual de junho. Argentina, México e China mostram aumentos acima de 50% no volume importado entre junho de 2020/2021.
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