A Super Quarta (29) não trouxe surpresas, nos EUA, o FED manteve a taxa de juros, por aqui, acendeu o sinal amarelo em relação ao que ainda vem por aí. Considerando o comunicado do Banco Central, após a divulgação da nova taxa de juros para 13,25% ao ano pelo Copom no fim do dia, a sinalização é que pelo menos teremos mais um aumento de 1 ponto percentual na reunião de março. E frente a isso, fica claro que a pressão inflacionária preocupa.

Segundo Leonardo Costa, economista do ASA, o Copom também indicou que estará dependente dos dados, ainda deixando em aberto a decisão de maio. O comitê segue indicando cenário desafiador, com desancoragem das expectativas de inflação. Conforme Costa, uma inflação corrente em patamar mais elevado, hiato positivo (mercado de trabalho aquecido). “Leitura de neutra para dove, uma leitura possível é que houve piora grande das expectativas (especialmente mais longas) e da inflação corrente para deixar tão aberto as decisões depois de março, tornando o texto mais _dove”, afirma o economista.

Paulo Cunha, CEO da iHUB Investimentos, comenta que a decisão do Copom reforça o compromisso com o combate à inflação, mas também adiciona incertezas ao cenário de investimentos. “Ainda devemos ver novos aumentos, mas o tamanho desse ajuste segue em aberto”.

O buraco é mais embaixo

Para José Faria Júnior, planejador financeiro CFP pela Planejar, dois pontos merecem destaque. O primeiro não está diretamente ligado à decisão do Copom, mas ao anúncio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre um acordo com os bancos para triplicar o volume de crédito consignado, passando de R$ 40 bilhões para R$ 120 bilhões. 

“Essa medida vai na contramão do aperto monetário, já que injeta mais dinheiro na economia, dificultando o controle da inflação. Em outras palavras, enquanto o Copom busca esfriar a economia com juros mais altos, o governo age no sentido oposto, aquecendo ainda mais a demanda.”

O segundo ponto, segundo o especialista, é o próprio comunicado do Copom, que veio duro, como esperado. “O Banco Central destacou as incertezas do cenário externo, incluindo fatores como o impacto da política norte-americana. Além disso, a autoridade monetária reforçou preocupações com a desancoragem das expectativas inflacionárias”, comenta Faria Júnior.

Ele explica que para entender essa dinâmica, é preciso observar o comportamento das projeções ao longo das últimas reuniões. Em setembro de 2024, o Copom elevou a Selic de 10,5% para 10,75%, projetando uma inflação de 3,5% para o primeiro trimestre de 2026. Na reunião seguinte, em novembro, houve um novo aumento de 0,5 ponto percentual, e o horizonte de projeção foi ajustado para o segundo trimestre de 2026, com a inflação esperada subindo para 3,6%. Em dezembro, a Selic subiu mais um ponto, e a projeção da inflação para o segundo trimestre passou para 4%.

“Seguindo essa tendência, o Banco Central atualizou novamente seu horizonte, agora para o terceiro trimestre de 2026. Em dezembro, a inflação esperada para esse período era de 3,8%, mas no Copom atual subiu para 4%. Se o objetivo for trazer a inflação para o centro da meta, os modelos do Banco Central indicam que a Selic deveria alcançar impressionantes 18,5% ao ano. Um choque dessa magnitude teria efeitos severos sobre a economia e a dívida pública, tornando essa trajetória difícil de sustentar na prática.”

Recessão

Faria Júnior destaca que a desancoragem inflacionária já se reflete nas expectativas para 2024. No relatório trimestral de inflação de dezembro, a projeção era de 4,5%. Agora, apenas 40 dias depois, essa previsão subiu para 5,2%, superando o teto da meta. 

“Diante desse cenário, a Selic deve continuar subindo, mas o impacto dessa política tem limites. Enquanto isso, o governo segue adotando medidas que ampliam o crédito e estimulam a economia, tornando ainda mais difícil a tarefa do Banco Central. Com a inflação em alta e o custo da dívida pública subindo, o BC pode chegar a um ponto em que novos aumentos de juros terão pouco efeito prático. Afinal, elevar a Selic para patamares como 20% poderia levar o país a uma recessão severa”, afirma.

Além disso, o especialista afirma que a visibilidade sobre a política monetária segue baixa, tornando qualquer previsão sobre a Selic ainda mais incerta. “Apesar da postura dura do Copom, o fato de a inflação projetada para o terceiro trimestre de 2026 estar em 4% reforça a percepção de que a situação está completamente desancorada. O Banco Central tem um enorme desafio pela frente para conter essa alta de preços e estabilizar as expectativas. Por ora, o cenário segue desafiador”, conlcui.

Lembrando que na semana passada, o IPCA-15 sinalizou, mais uma vez, que a inflação, sobretudo a de serviços e alimentos, permanece elevada e merece a atuação firme do Banco Central, no intuito de reancorá-la no horizonte relevante,  Alexandre Espirito Santo, coordenador de economia e finanças da ESPM e economista-chefe da Way Investimentos Ademais, comenta que o discurso do BC  precisava ser “duro”, mostrando que a autoridade monetária irá atuar como se espera dela, a despeito das eventuais pressões.

“É preciso avaliar, nos próximos dias, como políticos ligados ao governo reagirão a esse movimento. Lembremo-nos que Roberto Campos Neto foi regularmente criticado por sua atuação hawkish. O Copom confirmou nova alta de mesma magnitude para o encontro de março, todavia não deu um “guidance” para a reunião de maio, afirmando que agirá de acordo com a evolução da dinâmica da inflação e que a decisão de hoje é condizente com o redor da meta”, comenta o economista.

De acordo com ele, por essa linha, grande parte dos analistas sugere uma taxa terminal de até 17,5% para trazer a inflação para 3%, que é o centro da meta. “Todavia, muitos deles acreditam que o Comitê poderá aceitar, informalmente, um resultado mais próximo de 4%- 4,5%, o que necessitaria de uma taxa inferior, em torno de 15%. O fato é que caminhamos para juros reais beirando 10%, que é um dos maiores da história recente; bastante contracionista.

Investimentos

Sobre o impacto nos investimentos, o CEO da iHUB Investimentos, Paulo Cunha, explica que os títulos pós-fixados atrelados ao CDI serão diretamente beneficiados, pois a Selic e o CDI caminham juntos, refletindo a nova taxa rapidamente. No entanto, o impacto sobre os demais ativos já estava precificado, com a curva de juros projetando algo próximo de 15% ao final de 2025.

Uma eventual mudança nesse panorama vai depender de como o mercado vai interpretar os próximos passos do BC. “Ou os juros precisarão subir ainda mais, o que parece improvável devido ao impacto econômico, ou o mercado entenderá que eles não precisam ficar em 15% por muito tempo. Nesse caso, os ativos prefixados e atrelados ao IPCA podem se valorizar em um segundo momento”, afirma.

Segundo Cunha, o principal questionamento é se a Selic realmente atingirá os 15% e, caso isso ocorra, por quanto tempo esse nível será mantido. “O mercado já considera quase certo que, se esse patamar não for alcançado, chegaremos muito perto dele. A resposta a essa dúvida será determinante para a renda fixa em 2025”, conclui Cunha.

Alta dos juros deve piorar quadro de recuperações judiciais

A nova alta na taxa Selic em 1 p.p. que elevou os juros para 13,25% ao ano deve piorar o quadro de pedidos de recuperação judicial no Brasil. De acordo com o economista Luís Alberto de Paiva, especialista em reestruturação financeira de empresas e CEO da Corporate Consulting,  essa alta cria um ambiente ainda mais desfavorável para a renegociação de dívidas pelas empresas que já vêm enfrentando dificuldades nos últimos anos.

“O modelo de negócios no Brasil é caracterizado por um alto nível de alavancagem de curto prazo e marcado por juros altos. O quadro atual é preocupante, porque a rolagem das dívidas pelas empresas, nas atuais taxas básicas de juros, dificulta ainda mais as operações. Juros altos e inadimplência elevada reforçam o cenário desfavorável”, afirma Paiva.

De acordo com levantamento da Serasa Experian, de janeiro a outubro deste ano já foram registrados 2.273 pedidos de recuperação judiciais em nosso Judiciário, número 61,8% maior que o de 2023 e 22% maior que o de 2016 – até então, o período com volume mais elevado, com 1.863 requisições. Um recorde.

“A alta taxa de juros no Brasil tem levado os devedores a uma situação de insolvência”, destaca o economista. “Os juros altos inviabilizam o fluxo de pagamento das famílias, o que aumenta a inadimplência e compromete severamente a saúde financeira das empresas”, completa.

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