Consideramos que o comunicado da autoridade foi duro (hawkish). No parágrafo prospectivo, apesar de ter removido a menção à possibilidade de retomada de alta da Selic, o BC promoveu diversas alterações reafirmando a perspectiva de estabilidade na taxa.

O BC reconheceu a melhora da conjuntura, mas afirmou que o processo desinflacionário “tende a ser mais lento e por expectativas de inflação desancoradas, segue demandando cautela e parcimônia.”

Temos ressaltado fortemente o aspecto da desancoragem das expectativas, na qual qualificamos em nosso morning call como “fator condicionante para que se preserve a estratégia monetária”, o que fora reforçado pela autoridade.

A autoridade afirmou que “conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas e avalia que a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado tem se mostrado adequada para assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.”

Nesse trecho avaliamos que o BC reforçou a percepção que tínhamos anteriormente na qual há uma forte relação entre a manutenção do juro elevado e a desancoragem da inflação, para além da convergência do horizonte relevante.

Adicionalmente, o BC ainda disse que “os passos futuros da política monetária dependerão da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.” Assim, acreditamos que a autoridade apontou para complexidade e técnica na condução do juro, pontuando diversos aspectos que o conduzem às alterações.

Ademais, a autoridade trouxe projeções condicionais para 2024 acima do “ao redor da meta”, a despeito da forte apreciação cambial e da queda das expectativas do boletim Focus, o que, a nosso ver, não abre espaço para afrouxamento monetário neste momento.

Com o reforço do peso sobre a desancoragem das expectativas como fator para corte de juros, sobe a importância da reunião do CMN dia 29 de junho. Hoje estima-se que o mercado trabalhe com 50bps de gordura se a meta for estabelecida em 3,0%, segundo pesquisa recente, o que torna mais longínquo a perspectiva para corte, visto que se suspeita que traz-se à valor presente uma futura leniência no combate inflacionário.

Vale salientar que o debate sobre a elevação do juro neutro não se tornou evidente nesse comunicado, o que deverá ser ponto de atenção na ata a ser divulgada na próxima terça-feira.

Por enquanto, mantemos nossa perspectiva de que o ciclo baixista de juro iniciar-se-á apenas em 2024.

Étore Sanchez
Economista-chefe de Ativa Investimentos

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