O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) mostrou preocupação com as incertezas nos mercados e as expectativas de inflação acima da meta. São fatores que impactam a decisão do BC sobre a Selic.Para os membros do comitê, em reunião na semana passada, entre as razões estaria a preocupação de agentes financeiros com a política fiscal de equilíbrio das contas públicas do país.

“As expectativas de inflação, após apresentarem reancoragem parcial, seguem sendo um fator de preocupação”, diz a ata da reunião, divulgada nesta terça-feira, 26, pelo BC, em Brasília.

 “Entre as possibilidades que justificariam observarmos expectativas de inflação acima da meta estariam as preocupações no âmbito fiscal, receios com a desinflação global e a possível percepção, por parte de analistas, de que o Copom, ao longo do tempo, poderia se tornar mais leniente no combate à inflação”, diz o documento. Para o BC, a redução das expectativas virá por meio de “uma atuação firme, em consonância com o objetivo de fortalecer a credibilidade e a reputação tanto das instituições como dos arcabouços econômicos”.

O Copom avalia que, parte da incerteza observada nos mercados, com reflexo nas expectativas de inflação, estava anteriormente mais em torno do desenho final do arcabouço fiscal e atualmente se refere mais à execução das medidas de receita e despesas compatíveis com o arcabouço e o atingimento das metas fiscais.

No projeto do Orçamento de 2024, o governo federal prevê zerar o déficit primário nas contas públicas, conforme estabelece o novo arcabouço fiscal. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já manifestou que o cumprimento dessa meta é um desafio, que depende do aumento da arrecadação.

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“Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas”, reforçou o colegiado do Banco Central, em ata.

Repercussão

Para Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, o conteúdo da ata veio muito em linha com o comunicado. “O Banco Central segue com uma postura bem firme com relação ao objetivo de trazer a inflação para a meta, aliada a uma curva de juros mais acentuada nos Estados Unidos, a China com crescimento menor. Tudo isso gera algumas incertezas e, por essa razão, o Banco Central também usa isso como referência para ser mais cauteloso na condução da política monetária aqui no Brasil.” 

De acordo com ele, a atividade segue forte, no entanto, o consumo das famílias desacelera, setor de serviços em processo de estabilização, IPCA com uma dinâmica “mais benigna com desaceleração dos núcleos, apesar de ainda estarem acima da meta”. 

A dinâmica é mais favorável para uma política monetária menos restritiva, então esses pontos acabaram norteando a decisão do Banco Central de continuar com o processo de flexibilização monetária, mas sem acelerar para paces de 0,75 nesse ano de 2023, como o mercado esperava.

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“O Comunicado e a Ata vieram com um discurso mais favorável com relação a essa dinâmica de corte de juros, no entanto o Banco Central segue cauteloso em afirmar que, pelo menos em 2023, por enquanto ainda não se sente confortável em acelerar o ritmo dos cortes para 0,75. Isso já tinha sido falado na outra decisão e de maneira recorrente em outras oportunidades. O mercado vinha pressionando para que houvesse essa aceleração do corte de juros em 2023 e acho que agora fica mais do que claro de que o Banco Central não está disposto a aumentar o pace neste ano”, comenta  o especialista.

Inflação

Também nesta terça, 26, o IBGE divulgou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA-15. O índice subiu 0,35% em setembro após aceleração de 0,28% no mês passado. Na semana passada, o Copom reduziu a taxa Selic, de 13,25% ao ano para 12,75%. O comportamento dos preços fez o BC cortar os juros pela segunda vez no semestre, em um ciclo que deve seguir com cortes de 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões. Após sucessivas quedas no fim do primeiro semestre, a inflação voltou a subir na segunda metade do ano, mas essa alta era esperada por economistas.

A taxa Selic é o principal instrumento do BC para alcançar a meta de inflação, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). “A inflação ao consumidor segue com uma dinâmica corrente mais benigna, exibindo desaceleração tanto na inflação de serviços, quanto nos núcleos de inflação. Os indicadores que agregam os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária, que possuem maior inércia inflacionária, apresentaram menor inflação, mas mantêm-se acima da meta”, informou o BC.

Conforme Renan Suehasu, planejador financeiro e sócio da A7 Capital, “IPCA-15 de veio em +0,35%, com destaque para a parte de Combustíveis (veículos), sendo puxado pelo Diesel (+17,93%) e principalmente pela Gasolina (+5,18%), após reajustes realizados pela Petrobras. Vale lembrar que os preços internacionais também estão elevados, por isso essa alta acaba sendo um movimento esperado aqui na economia doméstica”, comentou.

Segundo ele, apesar do Diesel apresentar uma alta nominalmente maior, a gasolina tem mais peso e impacto no indicador. “Com isso a categoria apresentou alta de 4,85%.

O setor de transportes público também foi destaque na pressão de alta dos preços, com as passagens aéreas (+14,8%) puxando o segmento que apresentou alta de 1,16%. A alta é motivada pelo aumento do querosene de aviação que encarece as passagens aéreas.”

Já os destaques de baixa ficaram com a energia elétrica residencial, que apesar de uma leve alta de 0,7%, teve um impacto negativo no índice em 15,8 bps, além de produtos de higiene pessoal (-0,39%), seguidos pela parte de ensino superior (cursos regulares).

“Os dados de IPCA costumam impactar a parte mais curta da curva. Como o resultado veio levemente abaixo das expectativas (+0,37%), o DI Jan/24 caiu um pouco após a divulgação, praticamente sem movimento. As partes mais longas da curva apresentam variações maiores, mas ao meu ver são mais impactadas por políticas fiscal e receios com juros no exterior.”

Juros neutros

Na ata, o Copom  também apontou preocupação com a possibilidade de elevação da taxa de juros neutra.

“O esmorecimento no esforço de reformas estruturais, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade”, afirmou.

A taxa neutra é aquela que nem estimula, nem desestimula a economia, ou seja, é a taxa de juros real consistente para manter o nível de atividade econômica, com o fomento ao pleno emprego e a inflação na meta.

Entenda: quando o BC quer conter a demanda aquecida e frear a inflação, ele aumenta a taxa básica de juros para uma posição acima do juro neutro. Já para incentivar a produção e o consumo, o Copom diminui a Selic. Em caso de economia estável, com a inflação no centro da meta, a Selic tende a ficar próxima da taxa neutra. Então, quanto maior for o juro neutro, maior será a Selic.

De acordo com o último Relatório de Inflação do BC, a média da taxa de juros real neutra está em 4,8%, com intervalo entre 4,5% e 5%.

(Com informações da Agência Brasil)

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