Aos 18 dias de setembro de 2024, leia-se Super Quarta, é quase certo que o Banco Central dos EUA, o Federal Reserve (FED), dê início ao esperado ciclo de corte dos juros, mirando um “soft landing”, na visão de analistas. Enquanto isso, por aqui, também é consenso que o Copom deverá elevar a Taxa Selic, entre 0,25 a 0,50 pp, segundo projeções do mercado.
O Acionista ouviu especialistas, economistas e analistas do mercado sobre as expectativas deste cenário (EUA e Brasil), dando como certo que vai se confirmar. Isso porque todos os sinais já foram emitidos frente aos dados econômicos das últimas semanas.
Segundo a economista do ASA, Andressa Durão, a projeção é que um corte de 0,25 pp amanhã (18) deixe o caminho livre para uma aceleração no ritmo de redução, mirando um soft landing. “Embora os dados do mercado de trabalho de agosto tenham atenuado as preocupações com uma recessão nos Estados Unidos, ainda sustentam a necessidade imediata de ajuste da política monetária por parte do Fed, a fim de evitá-la”.
Além disso, conforme a economista, com a taxa de desemprego em nível compatível com o que o FED considera neutro e os dados de inflação ainda apresentando variações confortáveis, abriu-se espaço para redução mais rápida dos juros ao longo dos próximos meses. “Os ‘dots’ que serão divulgados na quarta-feira junto com a decisão de setembro devem refletir a substancial mudança de cenário que ocorreu desde a última atualização do Fed, de forma a antecipar para 2025 a normalização da política monetária, antes esperada para 2026.”
Para o analista da Terra, Régis Chinchila, as apostas de que o banco central americano reduza a taxa básica em 50 pontos-base “foram ampliadas, conforme indica a plataforma do CME Group que monitora o comportamento da curva futura”. Vale lembrar que os juros não caem por lá desde o começo da pandemia de Covid-19, em 2020.
FED vai ser conservador e gradual, diz economista
Bruno Corano, economista da Corano Capital, comenta que o corte dos juros pelo FED é tido como certo, mas que a pergunta de quanto vai ser a redução, de 0,25 pp ou de 0,50 pp.
“A minha aposta pessoal é de que o FED vai ser conservador e gradual e não vai agir com pressa. Então ele deve optar pelo 0,25 pp. Concretamente isso gera um impacto econômico. Primeiro é importante entender que a mudança na taxa de juros tem um efeito retardado. Ou seja, essa possível alteração, nessa semana, vai surtir efeito entre seis a oito meses – reflexo direto”, afirma Corano.
De acordo com ele, a questão é que, indiretamente, quando se altera uma política monetária, ela já causa reflexos naquele exato momento e em várias perspectivas. “Na teoria se espera que assim que os juros forem reduzidos, o dólar se aprecie frente a outras moedas, e que o mercado de ações tenha mais um estímulo para seguir se valorizando.”
“Claro que é a primeira reação. Além disso, também vai ter um efeito positivo para os Estados Unidos carregarem a sua dívida monetária, do Tesouro. Porque até então eles vinham emitindo títulos pagando uma taxa bem alta. E a queda dos juros vai aliviar também as despesas do governo”, ressalta o economista.
Logo, mesmo que não venha o 0,50 agora, Corano acredita que os indicadores devem se manter na mesma direção, com, finalmente,” a inflação convergindo para meta e o desemprego ficando sob controle, ou seja, não vai explodir de emprego, mas também não vai explodir de desemprego. E isso vai permitir que, gradativamente, os juros fiquem caindo e, isso sim, vai seguir estimulando essa dinâmica saudável, que é o que o mercado quer.”
Mercado acomodado
FED cortando 0,5% e Copom aumentando 0,5%. Este é o cenário que Ricardo Martins, economista-chefe da Planner Investimentos e presidente executivo da APIMEC Brasil diz que em se confirmado vai proporcionar um mercado acomodando, “com pontuais realizações nas bolsas, dólar e juros em queda”.
Mas de acordo com ele, como todo cenário desafiador, e por conta disso o FED foi muito comedido em suas decisões anteriores, sendo cada reunião uma reunião fundamentada com as informações dos indicadores mais atuais, “o FOMC do FED de 18/9 não será diferente, inclusive reavaliando os números pelo SEP. O corte de juros será de 0,25% e isso de certa forma desagradará os mercados, impondo realizações de lucros nas bolsas, mercados que performaram bem ao longo do ano, mas nada de fortes movimentos”.
Para o mercado, segundo o economista, o FED já poderia ser mais agressivo cortando 0,5% diante de um mercado de trabalho em desaceleração, mas não em retração, “já que não se observam evidências predominantes de demissões nessa desaceleração, assim como aumentos substanciais de pedidos de auxílio-desemprego”.
Para o FED, entre 70 mil e 80 mil de geração de emprego pelo Payroll é adequado para a atividade rodar bem, avalia Ricardo. Por outro lado, segundo ele, a taxa de desemprego que chegou em 4,3% em julho voltou a 4,2% em agosto, o que é bom, mas nem tanto. Mesmo com essa queda, a Sahm Rule Recession Indicator saiu de 0,53 para 0,57 e isso é indício de recessão pela assertividade de antecipação histórica do modelo.
“Se olharmos pela atividade, há uma série de indicadores que seguem bem como a própria geração e oferta de empregos (ADP, Payroll, JOLTS), a capacidade industrial utilizada em níveis importantes, o mercado imobiliário, as expectativas de crescimento do PIB no 3T24, onde o modelo também assertivo na proximidade, Atlanta FED GPDNow, aponta preliminarmente 2,5%, vindo da primeira leitura do PIB no 2T24 de 2,8% e o crédito ao consumidor, que vem se mantendo tomador, US$ 25,45 bi em julho, alta de 386,6% sobre junho, sinalizando disposição ao crédito no cenário de taxas altas. O FED está mais confiante no movimento desinflacionário, mas ainda atento e guardião do CPI, que em agosto mostrou um Núcleo em ascensão, para 0,3% mensal, a maior desde abril, mantendo 3,2% anual.”
Selic – No que se refere ao Banco Central do Brasil, Ricardo diz que a instituição pecou ao “dar forte ênfase ao discurso contra a possibilidade de leniência inflacionária insinuada pelo mercado, a busca da ancoragem desgarrada pela rápida alteração das metas do Arcabouço Fiscal, e a procura em retomar a credibilidade desgastada pós dissenso do Copom de 08/5”.
Ou seja, para o economista, o mercado reprecificou rapidamente:
“Não temos inflação de demanda e ainda temos um Hiato do Produto positivo (0,2%). A inflação não está descontrolada, vide IPCA de agosto e demais índices, respondendo a soluços de momento, com a nítida tendência de baixa no horizonte relevante das expectativas do BC (18m) 1T26, IPCA 3,2% no cenário alternativo (Selic constante). A recuperação da renda e o consequentemente Consumo das Famílias tem suportado o PIB, e o aumento de juros agora será um “balde de água fria”, vide crescimento importante nos trimestres recentes da FBCF. A taxa juros já vem muito restritiva, ou seja, Selic a 10,50%, com Inflação em torno de 4,0%, Taxa Real 6,50%, Taxa Neutra BC 4,50%, FED cortando juros e Câmbio buscando R$ 5,50, ou abaixo.”
Ricardo comenta que o mercado deseja alta de 0,5%, outros acham adequado 0,25%. “Eu já considero que o Copom não vai subir juros, dada a necessidade de observância de novos indicadores internos, num mundo de BC’s buscando readequar suas condições de política monetária altamente restritiva. Isso trará grande movimento de alta do dólar e dos juros, com realização na B3”, afirma.
Já Leonardo Costa, economista do ASA, confia que o Copom vai subir os juros amanhã (18). “Essa expectativa se mantém após a divulgação do relatório Focus desta segunda-feira (16), com nova rodada de revisão para cima nas expectativas de inflação, desta vez alcançando o IPCA 2026 (até então estável por 14 semanas). Essa piora das expectativas é bastante negativa para o trabalho do Banco Central de entregar a inflação na meta. Além disso, o ritmo da atividade doméstica está bastante aquecido e a inflação corrente elevada (especialmente nos núcleos) deve avalizar um novo ciclo de alta de juros a partir da reunião desta semana.”
Analistas do Terra acreditam na alta de 25 bps da Selic
A Super Quarta deve seguir o consenso no que depender do time da Terra. Pelo menos no que diz respeito ao aumento da Selic pelo Copom, os analistas projetam uma elevação de 25bps, dando início a um ciclo de ajuste de 200 bps.
“Entretanto, em meio a um cenário que combina forte atividade doméstica, desancoragem das expectativas, incertezas climáticas e desvalorização cambial, o balanço de riscos em torno da nossa Selic terminal de 12,50% aparece com viés à alta. Esse nível terminal dependerá tanto da evolução dessas variáveis como da função-reação da nova composição do Copom”, comentam os analistas.
Análise de Cenário
Desde a última reunião do Copom, as seguintes novidades se sobressaíram, segundo os analistas:
- A redução da incerteza em torno da política monetária nos EUA e do cenário de soft landing.
- Evidências mais contundentes do crescimento doméstico desbalanceado, impulsionado pela política fiscal e compensado apenas parcialmente por forte contração da demanda externa.
- Persistência do quadro de desancoragem das expectativas.
- Sinais favoráveis da inflação corrente, mas acompanhados de deterioração do cenário de curto-prazo devido às incertezas climáticas e risco de pass-through cambial.
“Entendemos que, entre estes pontos, predominam os determinantes domésticos para efeito da condução da política monetária do Banco Central (BC), principalmente frente à redução da incerteza quanto ao “soft landing” no EUA e da resposta do Fed ao trade-off inflação-emprego. De fato, quanto ao canal externo, a principal preocupação refere-se à intensidade do pass-through cambial da desvalorização ocorrida em 1S2024”, afirmam.
Portanto, para os analistas, considerando o cenário local, os desequilíbrios parecem ter aumentado desde a última reunião. “Em particular, a atividade local apresenta desbalanceamento cada vez mais preocupante, caracterizado por uma demanda doméstica que cresce muito acima do PIB potencial e pela forte contração da demanda externa. Não por acaso, as condições do mercado de trabalho reforçam um cenário de alta utilização dos fatores, reforçado pela utilização da capacidade industrial acima de sua média histórica.”
Perspectiva – Para 2025, segundo a Terra, o fator mais alentador em relação ao reequilíbrio da atividade é a redução do impulso fiscal. “É possível que a redução do déficit primário tenha um efeito líquido marginalmente negativo sobre o desempenho da economia, mas não o suficiente para alterar a composição da demanda agregada e seu desbalanceamento. Portanto, o efeito crowding-out introduzido desde 2023 por uma agressiva expansão fiscal permanecerá elevado e pressionará a taxa de juros real neutra.”
A desacoragem das expectativas é outro fator de preocupação, de acordo com os analistas da Terra. “Seus valores, dentro do horizonte relevante de política monetária, encontram-se aproximadamente 50bps acima da meta, situação que prevalece desde o início de 2024.”
Assim, considerando como proxy de restrição monetária a taxa Selic real ex-ante corrente, obtêm-se o nível de aproximadamente 7,0%, apenas 40 pbs acima da taxa real de mercado com o mesmo prazo, explicam. “Ou seja, a taxa Selic encontra-se apenas marginalmente contracionista, o que parece inapropriado se considerarmos a tempestividade necessária à convergência à meta de 3,0% em 18 meses.”
Por fim, eles acreditam que a alternativa de agir tempestivamente aparece como uma “estratégia dominante para o BC, uma vez que prepara a economia para 2026 de maneira cirúrgica, dissociando a política monetária do ciclo político. Ato contínuo, caso a dinâmica inflacionária se torne mais desafiadora, maior será a necessidade de agir de maneira decidida; caso contrário, aumentará o risco de sobreposição dos ciclos monetário e político, o que poderá tornar o cenário mais complexo para a política monetária.”
Câmbio, bolsa, setores…
Também é preciso avaliar o que acontecerá com o dólar no Brasil, caso se confirme o cenário de corte de juros pelo FED e aumento da Selic pelo Copom. De acordo com Acilio Marinello, sócio-fundador da Essentia Consulting, esse cenário reduz a atividade dos títulos dos EUA e aumenta a remuneração dos títulos brasileiros, o que é bom.
“Investidores tirariam dinheiro do mercado dos Estado Unidos e trariam para o Brasil. Dessa forma, aumentaria os dólares no Brasil, valorizaria o Real e o dólar cairia”, comenta Acilio. Entretanto, por outro lado, segundo ele, a queda do dólar também causaria impacto na bolsa. “Aquelas empresas que têm receita oriunda de exportação, perderiam, porque as receitas em reais caem; já as que dependem de insumos importados, teriam maior rentabilidade.”
Acilio ainda ressalta que há dois setores que se beneficiariam com a alta da Selic: financeiro (bancos) e seguros. O segundo porque boa parte dos ativos das seguradoras estão aplicados em ativos de renda fixa.
“O cenário é um movimento natural e lógico, mas não se pode seguir a lógica”, afirma Acilio. Isso porque, segundo ele, aumentar a Selic pode atrair muitos investidores, mas também gerar impacto grande na taxa de câmbio. Dólar alto pode deixar o país em situação desafiadora e o mercado financeiro também.”
Criptomoedas
O corte na taxa de juros nos EUA favorece investimentos em ativos de maior risco, incluindo ações e, mais recentemente, criptomoedas. O impacto do corte de juros nos EUA no mercado de criptomoedas, especialmente no Bitcoin e nas altcoins, está começando a se revelar, e a expectativa é de que o cenário seja bastante favorável para esse setor emergente.
A COO da CryptoMKT, Denise Cinelli, compartilha uma visão otimista sobre o futuro do Bitcoin neste novo ambiente econômico: “Com o Fed reduzindo as taxas de juros, estamos diante de um momento propício para a valorização de ativos que oferecem segurança em longo prazo. O Bitcoin, com sua escassez programada e adoção crescente, está posicionado como um porto seguro, especialmente para investidores institucionais que buscam diversificação além dos mercados tradicionais.”
(Produção: Márcia Sobotyk)