“O entendimento maior sobre sua vida financeira cria uma independência pessoal que emancipa as pessoas”.

O conceito é da entrevistada do Com ELAS, e resume sua atuação em várias frentes.

Mulher mais votada no último pleito legislativo no Rio Grande do Sul, cotada para ser candidata à Prefeitura de Porto Alegre nas eleições deste ano, é responsável pela defesa da educação financeira enquanto matéria transversal obrigatória nas escolas.

Mãe há cerca de 1 ano, Any Ortiz dividiu comigo suas ideias e sua trajetória da infância até o seu segundo mantado como Deputada Estadual no Rio Grande do Sul – em 2018 se elegeu pelo PPS (Partido Popular Socialista), pela segunda vez, com 94.904 votos. Hoje o partido é denominado Cidadania.

Compartilhou histórias familiares e um pouco sobre sua trajetória que passa pelo empreendedorismo e que nos ajuda a entender suas bandeiras e conquistas políticas, como os projetos que derrubaram a aposentadoria vitalícia dos Governadores do Estado e dependentes e o fim da aposentadoria especial para os parlamentares.

Em comum, fica evidente o caminho percorrido que elevou suas convicções pessoais sobre finanças à educação financeira enquanto questão social.

Ideias, conceitos e posturas que, na sua visão, se entendidos em todos os âmbitos da vida social, seja privada ou pública, cria uma sociedade muito mais consciente sobre temas como renda, aposentadoria e futuro, além de muito mais saudável.

Advogada, formada em direito pela PUCRS, em 2017 fez uma pós-graduação em direto do consumidor e diretos fundamentais. A partir daí, uniu questões que lhe interessavam, como direito do consumidor, à sua vivência de empreendedora.

No seu atual mandato, um dos pontos que declarou que iria priorizar seria a aprovação do projeto que cria a disciplina de Educação Financeira nas escolas públicas e particulares do Estado.

Ainda em 2015, quando era vereadora, a proposta foi apresentada por Any Ortiz e virou lei em 2016. Em âmbito estadual, o projeto foi levado à Assembleia para ser apreciado pelos deputados, ainda em 2016, mas até agora não foi aprovado. Ainda está para ser apreciado na Comissão de Constituição e Justiça.

Para a deputada, o entendimento sobre finanças, com esta abrangência, cria uma independência pessoal que é o se tem que buscar, e emancipa as pessoas, inclusive da relação com o Estado.

E, nas suas palavras, dá condições de enxergar as dificuldades do Estado, de saber como os impostos que se paga deve retornar para a sociedade, e de avaliarem que ações de estímulo ao consumo, como política pública, devem gerar emprego e renda para as pessoas.

Acompanhe suas ideias!

Por que priorizou o assunto de Educação Financeira? Em que sentido considera relevante para o seu trabalho?

Quando assumi como vereadora em Porto Alegre (2012), tinha uma empresa de artigos para festas em sociedade com meu irmão em Novo Hamburgo (município da Região Metropolitana). Cuidava das finanças do negócio e das minhas, e fui tomando dimensão das razões pelas quais a maioria dos negócios acabam fechado no Brasil.

Tem a questão do custo dos impostos, da burocracia, temos dificuldades gerais para fazer investimentos. Essa percepção aumentou ao longo do tempo, mas a relação com o tema já veio de dentro da minha casa, com nossas finanças, com isso sempre muito presente, de não gastar mais do que se tinha. Dos meus pais sempre conversarem sobre o tema.

Quando eu me elegi vereadora, esta dimensão pessoal passou para o pensar e analisar a questão social da educação financeira, para que ela deixasse de ser uma opção de vida de cada um e se transformasse em algo urgente como política de Estado, para discutir a questão das famílias endividadas, no contexto dos trabalhadores.

E não só discutir isso em situações de crise. E que, a partir daí, conseguíssemos olhar os gastos públicos com outros olhos, que pudéssemos fazer uma avaliação da questão do consumo.

Quais os desafios que está enxergando para a adoção e a consolidação deste assunto na prática? Na sua visão, o que mais poderia ser feito (mesmo que em outras áreas que vão além do legislativo)?

Acho que o maior desafio é a aprovação do projeto (de inclusão doa Educação Financeira como disciplina obrigatória e transversal em escolas públicas e privadas do Rio Grande do Sul) na Assembleia. A não aprovação, até agora, aconteceu por ideias políticos contrários. 

Eu vejo que o tema deveria ser incluído no currículo das escolas porque é através delas que conseguiríamos ir conscientizando as pessoas desde pequenas sobre questões como o valor do dinheiro, das coisas, como consumir, a forma de consumo.

Hoje a maioria das pessoas que estão endividadas o fizeram pela forma como consomem. É comportamental. O superendividamento das famílias é um problema de Estado, de saúde econômica, porque o endividado é excluído do consumo e também para de colaborar para que a economia rode.

Sob esse ponto de vista, é importante olharmos que o Estado também não pode se endividar. Ao longo do tempo, enquanto Estado, fomos tomando decisões, foram feitas despesas sem que a receita existisse. Isso comprometeu os recursos públicos. E hoje estamos vendo o Estado nesta situação, sem poder arcar com suas despesas (entre elas, o salário em dia dos servidores).

Ao ter aprovado o projeto que inclui a Educação Financeira no currículo escolas, a expectativa é que, mesmo que não tenhamos políticas públicas voltadas a isso exatamente, que tenha mais gente se preocupando e entendendo a situação que vivemos no Estado, por exemplo.

Portanto, uma sociedade mais consciente quanto ao seu futuro, a sua renda, à aposentadoria.

No meu mandato passado, terminei com a aposentadoria vitalícia dos governadores e dependentes. No meu atual mantado, trabalhei pelo fim da aposentadoria especial para os deputados

Essas duas vitórias parecem um grão de área em meio a toda a questão financeira do Estado. Mas acredito que são estas pequenas coisas que fazem a diferença, em casa, nas empresas ou no Estado.

Por isso, acredito que a inclusão de uma educação financeira de forma transversal nas disciplinas escolares é o caminho para melhorar a vida das pessoas, não só no âmbito particular, mas para que elas passem a ter noção de como é importante pensar a forma como se gasta o dinheiro.

De alguma forma, os projetos e as bandeiras que defende podem ser explicados por sua história de vida e crenças?

Por ter uma educação financeira familiar eu sempre consegui administrar todas as fases da minha vida. Quando era estudante, tinha um estágio, evitava gastos supérfluos. E tudo isso fez eu ter relação com este assunto – saber guardar e melhor investir

Para minha estabilidade emocional em relação a dinheiro, a vida inteira, eu tenho uma máxima que tem que sempre viver em um andar abaixo da sua situação financeira.

Meu pai tinha um comércio, e já passamos por bons perrengues. Isso foi me avisando que sempre ter algo, que o dia que precisar vai estar ali para poder te ajudar.

Isso também vem dos meus avós. Meu avô trabalhava na colônia, tinha um coração grande, mas não teve muito estudo e oportunidade. Mas sempre guardava um pouquinho. Sempre para viver com segurança.

E é segurança o que eu quero passar para o meu filho, que ainda não tem um ano.

E essa ideia é que ainda não vejo nas pessoas hoje em dia. E é o que eu sempre tento passar, de alguma forma. E, especialmente, quando tenho contato com estudantes. Sobre a importância de se preparar para o futuro e de que a responsabilidade sobre isso é de cada um.


Como está a questão da sua candidatura para a Prefeitura de Porto Alegre neste ano?

O Partido tem me incentivado para concorrer no Estado e nacionalmente também. Eu tenho projetos para Porto Alegre. Acredito que seja o sonho de todo parlamentar, que tenha visão mais administrativa, que venha de uma linha da iniciativa privada, que tenha esta vontade, de trazer coisas importantes.

É uma construção.

Hoje a nossa cidade precisa de um projeto coletivo, e não individual, eu estou com o nome à disposição, não só do meu partido, mas de outros atores e candidaturas que também têm um projeto para a cidade, para conversar e buscar um caminho em conjunto.

Pode ser muito nocivo para a sociedade nosso campo político estar muito dividido. Então, esta decisão será coletiva, pelo projeto.

Dicas da Any Ortiz:

  • Viva “um andar abaixo” de suas possibilidades financeiras;
  • Guarde sempre um pouquinho para conquistar uma segurança para você e sua família;
  • Tenha consciência sobre o valor do seu dinheiro e das coisas que compra com ele;
  • Tenha clareza que suas escolhas de consumo têm consequências;
  • Entenda que seu conhecimento e percepção sobre o uso do dinheiro faz parte de um ecossistema relacionado à sua vida privada e em sociedade. 
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