As atenções nos mercados estão voltadas para a PEC da Transição. A proposta foi aprovada no plenário do Senado e segue para a Câmara, onde deverá ser apreciada na próxima semana.

O texto garante aumento de R$ 145 bilhões do teto de gastos por dois anos e permite gastos extras de até R$ 23 bilhões.

As preocupações com a dinâmica fiscal e seus efeitos sobre os preços dos ativos e inflação têm pressionado o Ibovespa e estressado a curva de juros brasileira.

O índice local cede 7% desde o início das discussões sobre despesas fora do teto de gastos no ano que vem, enquanto a curva de juros em novembro/2022 apresentou elevação em toda a sua extensão em relação ao fechamento do mês anterior, refletindo o aumento da aversão a risco no mercado brasileiro.

Projeções dos principais indicadores

Com riscos fiscais crescentes, a gestora WHG (Wealth High Governance) elaborou quatro cenários para entendermos para onde o vento está indo.

É claro que existem outros cenários, uma vez que o tema tem sido discutido diariamente e, com isso, os números podem mudar.

  • Cenário 1 – Teto mantido/Sem Waiver (cor roxa);
  • Cenário 2 – R$ 100 bi fora do teto por dois anos e sem aumento de impostos (cor laranja – base);
  • Cenário 3 – R$ 175 bi fora do teto para sempre com 1,0% PIB de aumento de carga tributária (cor azul);
  • Cenário 4 – R$ 175 bi fora do teto para sempre sem aumento de impostos (cor verde).
Perspectivas de cenários. Fonte: WHG

I. Projeção de IPCA

Segundo estudo da WHG, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficaria na meta de 3% em 2026 somente se não for aprovado o furo no teto (cenário laranja).

Considerando uma expansão de R$ 175 bilhões para sempre, a WHG estima uma convergência da meta com aumento de carga tributária (cenário azul).

No pior cenário (verde), a curva de inflação pode chegar a até 7,4% em 2023 a depender do tamanho dos gastos públicos.

“Em um cenário de aumento de gastos sem novas receitas (como via aumento de impostos) ou até mesmo de corte em outras despesas, fatores que seriam necessários para o financiamento de gastos extrateto, cria-se uma dinâmica de elevação dos juros futuros (como observado nas últimas semanas) em resposta a uma maior pressão inflacionária no médio prazo. Sempre vale lembrar que, na economia, nada é de graça. Em algum momento, o governo terá que arcar com esses gastos adicionais”, avalia o analista de renda fixa da Nord Research, Christopher Galvão.

II. Projeção de câmbio

A WHG também apresentou sua projeção para o dólar com estimativa de permanecer perto de onde está hoje, entre R$ 5,00 e R$ 5,20. No pior cenário (verde), o dólar fecharia o 4Q24 a R$ 5,70.

“Faz sentido o dólar não variar muito nos próximos meses porque a Selic (atualmente em 13,75%) está em patamares elevados para o dólar se desvalorizar, e com a Selic altíssima é difícil o dólar subir fortemente – a menos que aconteça uma grande crise“, diz o analista de ações e sócio-fundador da Nord Research, Bruce Barbosa.

III. Projeção de juros

De acordo com a WHG, considerando R$ 100 bi fora do teto por dois anos, a taxa Selic ficaria estável em 2023 (não precisaria subir, mas também não teria espaço para corte).

Por outro lado, se for aprovada uma expansão de gastos entre R$ 150 bi e R$ 170 bi, os modelos mostram uma necessidade de subir juros.

No pior cenário, com o aumento do teto de gastos sem contrapartida de aumento de impostos, a Selic aumentaria para 15%.

“O resultado final, segundo os modelos da WHG, é de que o nível médio de juros será mais alto nos próximos anos, refletindo o arcabouço fiscal no próximo mandato”, comenta Barbosa.

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