Caro Investidor!
Levando em consideração a hipótese de que você gosta de beber uma cerveja gelada ao ponto de ter ações da Ambev (ABEV3) ou mesmo que não beba, mas ainda assim investe na maior cervejaria do país, não está fácil acompanhar a empresa no ‘home broker’ há meses. Mas não só você, a própria empresa, que é Best in Class porque atende aos quatro principais índices de sustentabilidade da B3, está sentindo o gosto amargo desse início de ano desafiador, como já publicamos anteriormente, sem motivos para brindes.
Depois de áureos anos de vendas batendo o topo, a maior cervejaria do país começa a ver os volumes caírem enquanto os custos continuam pressionando. O mercado competitivo e as condições macroeconômicas não dão trégua, levantando dúvidas sobre o ritmo de crescimento sustentável da empresa, segundo os analistas do BTG Pactual.
O que esperar do 4T da Ambev?
No 4T, cujo resultado será divulgado em 26 de fevereiro, pelos cálculos do BTG, a Ambev deve reportar uma receita de R$ 25,8 bilhões, EBITDA de R$ 8,4 bilhões (margem de 33%) e lucro de R$ 4,5 bilhões. O tom dos analistas é de cautela, refletindo um ambiente de mercado desafiador.
“A principal diferença neste trimestre serão provavelmente os volumes, que esperamos que diminuam a/a, marcando uma reversão da tendência de crescimento consistente observada no ano passado. Embora antecipemos preços médios maiores, eles não parecem suficientes para despertar esperanças de um momento operacional mais forte. Nossa perspectiva continua cautelosa, pois um mercado competitivo pode limitar a capacidade da Ambev de comandar o repasse de preços sem arriscar a participação de mercado. Abaixo da linha do EBITDA, esperamos que as taxas maiores de imposto de renda continuem pesando no crescimento do lucro a/a.”
Aqui no Brasil, principal mercado da companhia, o cenário é particularmente complexo. O ambiente competitivo preocupa. “A expansão da capacidade de produção da Heineken e especulações sobre um possível investidor externo adquirindo participação no Grupo Petrópolis, dono da Itaipava, podem aumentar a pressão sobre a Ambev”, comentam os analistas.
Além disso, eles afirmam que o setor já é bastante maduro e, como líder, o crescimento de longo prazo da Ambev depende de sua capacidade de manter o poder de precificação de forma sustentável.
E, na avaliação do BTG, mesmo que demonstre capacidade de adaptação e os números do balanço ainda sejam fortes, potenciais motivos para alta dos papéis no curto prazo parecem limitados. Os analistas projetam uma queda de 1,3% no volume anual de cervejas no quarto trimestre, em linha com o desempenho da indústria, considerando a expressiva contração de volume da Petrópolis.
Também especulou-se se o mercado brasileiro de cervejas e a economia em geral podem não estar atingindo um ponto de saturação e “projetamos um aumento abaixo da inflação de 3,3% a/a (+6,1% t/t) na receita média por hectolitro, apesar da estratégia de premiumização contínua da Ambev”.
Soma-se a isso os aumentos do imposto ICMS (IVA) em 2024 que apresentaram outro obstáculo significativo, enquanto a Ambev sem dúvida continua relutante em repassá-lo totalmente aos consumidores. E ainda maiores despesas de comerciais/gerais/administrativas mediante maiores esforços de marketing, moderou provavelmente o ritmo de expansão da margem a/a.
Os analistas mantêm recomendação Neutra para ABEV3, dada a falta de catalisadores de curto prazo.
Desaceleração da economia
Já o time da Ágora destaca que a atividade econômica deve desacelerar em 2025 no Brasil e, com isso, acredita que o forte desempenho da indústria de cerveja e refrigerantes também pode ser prejudicado.
“Os resultados deste ano ainda devem ser resilientes, devido principalmente às unidades de negócios fora do Brasil – estamos elevando nossa estimativa de lucro líquido para 2025 em 5%, para R$ 16,5 bilhões. No próximo ano, as coisas podem ficar mais complicadas, à medida que as pressões de custo no Brasil alcançam o efeito de conversão favorável este ano”, comentam os analistas da Ágora.
De acordo com eles, o poder de precificação é o que falta na história da Ambev, e o repasse pode ser ainda mais desafiador, à medida que o crescimento do setor enfraquece. “Assim, nossa estimativa de lucro líquido para 2026 está praticamente estável em relação ao ano anterior, em R$ 16,7 bilhões. Vemos ABEV3 sendo negociada a 10,5x o múltiplo P/L para 2025 (42% abaixo de sua média de 5 anos), mas não apenas todo o mercado de ações no Brasil desvalorizou, como também os pares da Ambev no exterior.”
Segundo a análise da Ágora, o desconto para cervejarias globais, com base no P/L esperado de 2025, atualmente é de 18% (em linha com a média dos últimos dois anos) e, em 2026, o desconto é menor, de 10%. “Portanto, acreditamos que múltiplos mais baixos por si só não serão suficientes para que as ações tenham um desempenho melhor se uma história de crescimento mais clara não estiver em vigor.”
As projeções são:
- Receitas em R$ 26,5 bilhões, com queda de 1,3% em relação ao ano anterior;
- EBITDA de R$ 8,7 bilhões, com margem de 32,8%; e
- Lucro líquido de R$ 4,9 bilhões. É importante observar que esperamos que os volumes de cerveja da Ambev no Brasil diminuam 1% em relação ao ano anterior, enquanto sua receita líquida/hl deve aumentar 3% em relação ao ano anterior e 7% no trimestre.
“Estamos atualizando nosso modelo, incorporando novas premissas macroeconômicas e uma taxa de desconto mais alta em 14,5%. Nosso novo preço-alvo é de R$ 12,00/ABEV3 (de R$ 13,00) implicando um retorno total ao acionista de 17% quando adicionado a um dividend yield esperado de 7,6% este ano. Nossa recomendação Neutra permanece inalterada.”
Good news: Corona coroada
A Corona foi eleita a marca de cerveja mais valiosa do mundo pelo ranking global Brand Finance. É a segunda vez consecutiva que o rótulo brinda sua potência entre os consumidores de todo mundo. Nesta edição do Global 500 2025 Report, a cerveja mexicana premium da Ambev (ABEV3) cresceu 28,6% em valor na comparação com o ranking de 2024.
O Brasil tem contribuído com esse desempenho. A Ambev, que vem investindo na marca, registrou no último balanço que pelo 17º trimestre consecutivo as cervejas premium e super premium de seu portfólio seguem em crescimento. Só no tri, a alta na categoria foi de 20,3%, comparando com o mesmo período do ano anterior.
Corona, que impulsiona esse resultado, mostra como a Ambev, além de ter marcas fortes nacionais, consegue trazer rótulos internacionais de sucesso para o Brasil e se tornarem um sucesso aqui também.
A cerveja conta com uma versão zero álcool, a Corona Cero, que foi patrocinadora oficial das Olimpíadas de 2024, e é conhecida por suas ações de sustentabilidade. A agenda da marca, que lançou a primeira long neck retornável do Brasil, inclui pautas como defesa da preservação dos paraísos naturais e redução da poluição plástica nos oceanos.