CENÁRIO EXTERNO: CHOQUE DE REALIDADE

Mercados… Bolsas asiáticas operaram mistas nesta 4ªf, em linha com o que foi verificado ontem para as bolsas europeias e americanas. Na zona do euro, ativos de risco já iniciam o dia em tom negativo, com o STOXX 600, índice que abrange ativos de diversos países do bloco, registrando baixa de 3,1% até o momento. Em NY, índices futuros acompanham a dinâmica verificada para ativos europeus, com quedas de mais de 2,0%. Enquanto isso, o dólar (DXY) dá sequência ao movimento de valorização contra seus principais pares do G10. No plano das commodities, ativos operam sem direção única. O preço do petróleo (Brent Crude) recua 3,1%, negociado próximo aos US$ 25,00/barril.

Choque de realidade… Como prometido na 2ªf, a semana vai dando sequência à dinâmica de alta volatilidade dos mercados, com bolsas globais abrindo o dia em terreno negativo. Após melhora verificada no início da semana, mas mais precisamente no meio da semana passada, os mercados voltam a operar com maior aversão ao risco; avaliando com cautela os novos desenvolvimentos em torno do surto de Covid-19. Como temos reforçado ao longo das últimas semanas, acreditamos que uma mudança de tendência só virá acompanhada de uma maior clareza em relação ao controle do vírus na Itália, Espanha e Estados Unidos (países mais avançados no ciclo de contágio do vírus).

Trump muda o discurso… O presidente americano, Donald Trump, passou a usar um tom mais alarmista em seu último discurso, abandonando a postura mais “tranquila” que ele vinha adotando ao se referir à crise. Alertado que as mortes no país podem ultrapassar 200 mil Trump anunciou que as próximas duas semanas serão dolorosas e que a força e resistência do país como um todo serão colocadas à prova. A mudança na fala do presidente acompanha o período em que os casos em NY saltaram agressivamente; atualmente superando o número de infecções registradas no lócus original da doença: a província de Hubei, na China.

Atualizações Covid-19… O número de casos de Covid-19 no mundo ultrapassam os 860 mil, com mas de 42 mil mortes relacionadas à doença confirmadas. Na Espanha, o número de óbitos subiu de 8.189 para 9.053 nesta 3ªf, enquanto o número de casos ultrapassou os 100 mil. O país é uma grande preocupação da atualidade, uma vez que se encontra em quarentena desde o dia 14/03, sem sinais concretos de arrefecimento da doença.

Atividade em baixa… A piora no âmbito da saúde vem acompanhada da forte deterioração do quadro econômico na zona do euro. Nesta madrugada, a leitura final do Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) industrial para o mês de março confirmou a forte deterioração das condições no setor manufatureiro ao redor de todo o bloco europeu. O dado caiu de 49,2 em fevereiro para 44.8 em março, entrando mais profundamente em terreno contracionista (leituras acima de 50 apontam para expansão e abaixo de 50 para contração da atividade). Enquanto não houver sinais de que a indústria poderá reabrir, a tendência é de contínua deteroriação.

Na agenda… Nos EUA, a agenda econômica está recheada de indicadores relevantes a serem divulgados ao longo do dia. Antes da abertura dos mercados, os empregos no setor privado mensurado pela ADP deve mostrar uma queda de 125 mil nos postos de trabalho em março – o dado servirá como uma prévia para o Relatório de Emprego (Payroll) que sai na 6ªf. Em seguida, saem os PMIs de março divulgados por duas organizações distintas, a IHS Markit (10h45) e o ISM (11h).

BRASIL: BOLSONARO AJUSTA DISCURSO SOBRE O VÍRUS

Bolsonaro faz pronunciamento mais contido… Ontem, o presidente da República fez um novo pronunciamento em rede pública abordando a epidemia do coronavírus. O tom usado por Bolsonaro foi notadamente mais ameno do que no pronunciamento da terça-feira passada. Em vez de focar exclusivamente na narrativa que enxerga as medidas de quarenta como uma grave ameaça para o bem-estar econômico dos mais vulneráveis, o presidente demonstrou preocupação mais equilibrada entre os desafios econômicos e as ameaças para a saúde pública.

Estancou o sangramento… O discurso de ontem não extingue a desastrosa abordagem da epidemia do coronavírus pelo presidente, mas se distinguiu o suficiente do que foi dito até então para apaziguar os seus críticos mais moderados. Já os que esperavam alguma espécie de autocritica do presidente certamente foram decepcionados. Além disso, Bolsonaro optou por dar continuidade a sua insistência de que as declarações feitas pelo presidente da Organização Mundial da Saúde justificam o seu posicionamento, apesar do mesmo ter rejeitado explicitamente a interpretação feita por Bolsonaro do seu discurso. De qualquer forma, os ajustes no tom e posicionamento do pronunciamento representam um desenvolvimento positivo para o governo, interrompendo a escalada de pressão que cada vez mais encurralava o presidente.

Covid-19 supera novos liminares… Esta terça-feira trouxe o maior número de novos casos confirmados (1138) e mortes (42) registrados desde o inicio da epidemia do coronavírus. O Brasil agora contabiliza 5.717 casos confirmados e 201 óbitos, configurando uma taxa de mortalidade de 3,5%. O número de casos confirmados deve passar por uma elevação repentina em parte porque o número de teste realizados deve crescer juntamente à disponibilização dos kits. O mesmo fenômeno também deve reduzir a atual taxa de mortalidade a medida que o denominador (número de casos confirmados) se amplia em relação as mortes.

Implementação do auxílio para os informais… O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), criticou a falta de celeridade na implementação do auxílio de R$ 600 aprovado pelo Senado na segunda-feira. O governo pretende disponibilizar o benefício no dia 16. As críticas de Maia foram ecoadas por jornalistas em uma coletiva que contou com a participação do ministro Paulo Guedes (Economia). Guedes refutou as críticas ressaltando que alterações feitas durante o trâmite da proposta precisam ser estudadas pelo governo antes que o beneficio possa ser distribuído, além da complexidade inerente de um programa com de tal escala e alcance.

Na agenda… Como destaque da manhã, o IBGE divulga a produção industrial de fevereiro, às 9h. Esperamos que o dado apresente uma contração de 0,5% na margem, devolvendo parte da alta registrada em janeiro. Em relação à março do ano passado, a queda deve representar uma contração de 2,7%. Ainda hoje, o investidor avalia o PMI industrial (10h), os indicadores industriais da CNI (10h), o índice de commodities do Banco Central (14h30) e a balança comercial mensal, todos para o mês de março.

E os mercados hoje? Mercados globais dão sequência à dinâmica de alta volatilidade das bolsas, com os principais índices de mercado voltando a operar em território notadamente negativo. Apesar da melhora verificada nos últimos dias, o crescimento dos casos de Covid-19 continuam promovendo uma maior aversão ao risco por parte dos investidores. No pano de fundo, dados econômicos fracos contribuem para a piora do desempenho de ativos de risco. No Brasil, a situação envolvendo o contágio também registra uma forte deterioração. Na política, o governo arrumou o discurso, mas isso será pouco frente à piora na dinâmica externa para segurar uma provável desvalorização do Ibovespa nesta 4ªf. No mercado cambial, o dólar deve continuar sua escalada contra o real, em movimento de alta generalizado contra divisas emergentes. Tendo tudo isso em vista, esperamos um dia de viés negativo para ativos de risco brasileiros.

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