Ela é considerada a maior feira do agronegócio da América Latina, mas a edição de 2024 não fez jus à fama da Agrishow (Feira de Tecnologia Agrícola em Ação), que aconteceu de 29 de abril a 3 de maio em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. A feira fechou balanço alcançando um volume recorde de R$ 13,608 bilhões em “intenções de negócios” especificamente com máquinas e implementos agrícolas.A informação foi repassada aos jornalistas através de uma nota oficial, já que este ano, excepcionalmente, a organização decidiu não fazer a tradicional entrevista coletiva para apresentar os resultados da feira. O crescimento foi de 2,4% quando comparado com a edição de 2023. O cancelamento da entrevista foi apenas uma das “novidades” da feira este ano, que teve vários problemas estruturais e reclamação por parte de muitos expositores. Uma das queixas é o custo fora do normal para as empresas participarem do evento.Outra novidade foi a criação de uma abertura “fake” no domingo, dia 28 de abril, para receber os ministros do Governo Lula a portas fechadas e somente com convidados escolhidos pela organização. Fazer uma abertura inédita no dia anterior à abertura oficial foi a saída encontrada para evitar problemas como o que aconteceu no ano passado, quando o ministro Fávaro se sentiu “desconvidado” a vir ao evento pela organização. Tudo para evitar o encontro com o ex-presidente Jair Bolsonaro, que estaria no evento no primeiro dia. A saia justa gerou grandes problemas para os organizadores, que este ano tiveram a idéia de fechar o parque no domingo para receber os ministros de Lula.Jair Bolsonaro chegou do domingo, 28/04, em Ribeirão Preto, onde participou de atos políticos e de uma motociata. Na segunda-feira, dia da abertura oficial da feira, ele foi recebido pela organização. Como é de praxe em outras feiras do agronegócio que participa, Bolsonaro foi ovacionado pelos visitantes enquanto caminhou pelo parque, acompanhado pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado.ALTOS CUSTOS”Somente para termos sinal de internet, temos que pagar R$ 9.600 reais. Isso é um absurdo!”, reclamou um dos expositores, que não quis se identificar. Na frente do estande, uma antena Starlink, que capta sinais de internet via satélite, foi a solução encontrada pelo expositor para ter acesso à rede mundial de computadores. “E ainda corro o risco de ser multado, pois a feira exige que os expositores contratem somente os serviços oficiais oferecidos pela organização”, salientou. Soma-se às reclamações o valor estratosférico do terreno, montagem de estande e de outros serviços que os expositores são obrigados a contratar. Para se ter uma idéia, o custo de um estande pode facilmente chegar a R$ 1 milhão de reais na feira.LOGÍSTICAO acesso ao parque, que é sempre problema em todos os anos, em 2024 foi dificultado ainda mais. Os 195 mil visitantes deste ano tiveram que enfrentar grandes filas e esperar muito para entrar na feira. As melhorias estruturais anunciadas pré-feira não foram notadas pelos expositores nem pelos visitantes. “As ruas empoeiradas continuam, o parque tem poucas lixeiras e as que tem ficam ao ar livre”, afirma uma expositora, que não entende como uma feira desse porte peca em detalhes tão primordiais.Os estacionamentos foram novamente o problema este ano. A maioria dos visitantes e expositores tiveram que deixar os veículos muito longe da entrada feira, que precisou disponibilizar ônibus para transportá-los até a entrada principal. “Este ano entendemos como o gado se sente sendo transportado”, afirmou um expositor, que destacou a falta de educação dos colaboradores que organizavam as filas. “Fico imaginando a imagem que os estrangeiras que visitam a feira levam daqui para o exterior”, afirma.Outra “novidade” deste foi um “arrastão” nos carros que aguardavam na rodovia para sair da feira. Moradores de uma comunidade local aproveitaram para assaltar os ocupantes dos veículos que estavam parados na rodovia no penúltimo dia.ESTRUTURA DEFICIENTEConstantes quedas de energia trouxeram muita dor de cabeça aos expositores. Em diversas parques do parque, o problema era normal. Os jornalistas que vieram fazer a cobertura do evento tiveram que esperar a manhã inteira do primeiro dia para terem acesso à sala de imprensa por causa do problema. “Sem energia elétrica, sem ar condicionado e sem internet, não dá para trabalhar”, reclamou um profissional, que devia ter enviado conteúdo para a redação do seu veículo e não conseguiu naquela manhã.Outro problema registrado na sala da imprensa foi a queda de parte da estrutura de gesso do teto. Por sorte, nenhum jornalista estava dentro da sala quando aconteceu o incidente. Outra fato inédito no balanço desta edição foi o registro de duas pessoas feridas por causa de um incidente com um dos helicópteros que faziam vôos panorâmicos sobre a feira. Para desviar de outra aeronove que estava pousando, o piloto aproximou demais o helicóptero de tendas de empresas expositoras, que foram danificadas pelo vento da hélice, ferindo os expositores.Mas todos os problemas foram ignorados pela organização do evento. João Marchezan, presidente da feira, chegou a comemorar “a mobilidade e a infraestrutura da feira”, que segundo ele, foram alguns dos destaques deste ano. Segundo Marchesan, o resultado da feira podia ter sido maior em comercialização se não fosse o momento desfavorável de “clima, juros altos e falta de recursos controlados” do atual momento.Este ano, o evento foi marcado pelos diversos imprevistos ao longo de seus cinco dias. Pelo jeito, a próxima edição da Agrishow, que ocorrerá entre 28 de abril e 2 de maio de 2025, precisará de mudanças radicais para evitar novamente esses problemas.