Para pressionar o governo federal, o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) deflagrou, na última segunda-feira, ao menos 27 ações em 14 estados. Desta vez, não houve ocupações de terras no Rio Grande do Sul, onde o MST mantém atualmente quatro acampamentos em Hulha Negra, Taquari, Passo Fundo e Charqueadas, além de movimentações em Encruzilhada do Sul e no centro do Estado, como em Júlio de Castilhos e Tupanciretã.Mas a situação permanece tensa no maior deles, em Hulha Negra, na região da Campanha, No local, cerca de 800 famílias estão há seis meses sob lonas pretas à margem da BR-293, rodovia que liga o município de Pelotas, na Zona Sul do Estado, a Quaraí, na divisa com o Uruguai. A movimentação no local é monitorada 24 horas por dia por produtores rurais da região.De um posto de vigilância montado a dois quilômetros de distância, eles tentam prevenir eventuais invasões de fazendas das redondezas. “A situação, no momento, é de relativa tranquilidade, mas nas últimas horas temos observado que aumentou a quantidade de pessoas no acampamento”, afirma o diretor vice-presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) e coordenador da Comissão de Assuntos Fundiários e Segurança Rural da entidade, Paulo Ricardo de Souza Dias.O dirigente, que reside na vizinha Bagé, revelou que os ruralistas estão mobilizados há 180 dias para acompanhar as movimentações dos sem-terra. “Estamos atentos com a movimentação porque a direção nacional do MST anunciou que haveria mais invasões durante o Abril Vermelho. É preciso que os produtores rurais não sejam surpreendidos”, observou Dias.Na manhã desta quarta-feira, o anúncio que os trabalhadores rurais sem terra fariam uma manifestação em Hulha Negra deixou o grupo em alerta. “Eles estão prometendo realizar um ato contra a CEEE Equatorial [concessionária de energia elétrica gaúcha] por falta de luz, mas já nos preocupa pela mobilização”, declara.O coordenador da Comissão de Assuntos Fundiários e Segurança Rural da Farsul avalia que a criação de um novo assentamento do MST em Hulha Negra não deve provocar grandes mudanças. Ele explica que a área é foco de disputas judiciais há 20 anos, chegou a ser invadida pelo MST em 2015 e foi doada pela União ao Incra em 2018. “A operação recebeu aval da Justiça Federal de Bagé em outubro de 2023, mas, em fevereiro, o Tribunal Regional da Quarta Região [TRF-4] acolheu recurso da atual ocupante para ficar mais 60 dias na área”, diz.Segundo comunicado oficial do Instituto Nacional de Colonização de Reforma Agrária (Incra), os 443,4 hectares da Fazenda Nossa Senhora Aparecida poderão receber até 22 famílias. Dias, no entanto, garante que a área é menor e não tem capacidade para abrigar muitas famílias. “A área da Rosinha [a antiga proprietária] tem 145 hectares e poderá receber, no máximo de seis a oito famílias”, salienta. “Além disso é muito pedregosa e não é apropriada para a agricultura”, completa.

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