Antes de mais nada, gostaria de confessar que estou cuspindo no prato em que comi.

Se há uma empresa na qual ganhei dinheiro (muito dinheiro), essa foi a Petrobras.

Talvez tenha obtido lucros com ela justamente por não confiar na estatal. E, quando não se confia numa companhia, a gente só vai na boa, na certa.

Aliás, se agíssemos assim com todos os papéis (só indo na boa), nossos lucros seriam muito maiores. Pois, se há uma coisa que aprendi nesses 65 anos de mercado é que, quanto mais se “treida”, menos se ganha.

Minha primeira experiência com a Petrobras foi no final dos anos 1950 e início da década de 1960.

Naquela época, eu operava em câmbio, comprando dólares dos exportadores e vendendo para os importadores. E descobri que a Petrobras (que importava petróleo, pois quase não produzíamos aqui no Brasil) tinha determinados dias de compra. Então eu fechava, a futuro (fui o primeiro que fiz isso no Brasil), e entregava no dia seguinte. Além da comissão de praxe, quase sempre ganhava no preço do câmbio também.

No dia em que o governo tabelou o dólar, minha “mamata” acabou.

Alguns anos mais tarde, fui estudar mercado de capitais na NYU (New York University) e aprendi conceitos que não eram usados aqui no Brasil, tais como price/earnings ratio (quociente preço/lucro). Ou simplesmente PL, que é como se costuma dizer.

Ao regressar ao Brasil, no final dos anos 1960, embora já não confiasse em governos e estatais, descobri que as ações ordinárias da Petrobras estavam ridiculamente baratas, algo como 50 centavos.

Comprei um lote por esse valor e fui vender os papéis em meados de 1971 a Cr$ 13,00, um lucro de aproximadamente 2.500%.

Foi minha primeira grande porrada no mercado de renda variável.

Quando era operador de pregão na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, não tinha predileção nem rejeição por nenhum papel. Pois lá era jogo de cartas marcadas. A gente via o mercado acontecendo e fazia dezenas de minute trades por sessão.

Então tanto importava se a ação era privada, estatal, nacional, estrangeira ou até inexistente, como aconteceu uma vez com a Merposa.

O negócio era comprar do floor trader à direita e vender para outro à esquerda.

Vapt Vupt. De centavo em centavo a gente enchia a burra.

Em 1974, quando foram descobertas as jazidas submarinas da bacia de Campos, as ações da Petrobras subiram muito. Mas tão logo o mercado se deu conta de que aquilo representava não mais do que despesas e que anos se passariam até que o achado resultasse em lucro, as ações desabaram.

Eu não ganhei um centavo na alta, muito menos perdi na baixa.

Aquilo era um mercado de insiders, por sinal característica de todas as ações cujos resultados dependem de decisões políticas e não empresariais.

Em meados dos anos 2010, quando a Petrobras não pôde publicar seu balanço, por não saber a extensão do rombo no cofre da empresa, voltei a ganhar uma nota com a companhia.

Não, não “shorteei” ações na B3. Simplesmente comprei obrigações da Petro emitidas em dólares e com juros de seis por cento ao ano, pagos semestralmente.

Como os papéis passaram a ser negociados com tremendo deságio, eu, certo de que o governo brasileiro não deixaria a empresa quebrar, como alguns investidores americanos temiam, comprei esses títulos no mercado de San Juan de Puerto Rico.

Mais tarde, após o impeachment de madame Rousseff, e a posse do vice Michel Temer, Pedro Parente foi escolhido para presidente da Petrobras e optou por praticar na gasolina, no diesel e no gás de cozinha preços compatíveis com os do mercado internacional e com a cotação do dólar frente ao real.

Em Porto Rico, meus papéis passaram a ser negociados com ágio e pude realizar um lucro espetacular.

De lá para cá, nunca mais operei nada da Petrobras. E vejo a política de preços da empresa mudar de tempos em tempos, não raro dando uma guinada de 180 graus.

No próprio governo Temer, quando os caminhoneiros entraram em greve, o presidente da República determinou a Pedro Parente que abandonasse a prática de preços reais. Evidentemente, ele (Parente) pediu demissão.

As ações da Petrobras se esfarinharam na B3.

Durante o governo de Jair Bolsonaro, no início a Petro voltou à política de preços realistas.

Mas então Bolsonaro implicou com os dividendos. Depois, com a proximidade das eleições, exigiu que os preços dos derivados, principalmente o diesel, deixassem de obedecer aos critérios de mercado.

Obviamente, Lula vai fazer a mesma coisa. Ou melhor, as duas coisas. Interferir com os preços ao consumidor e baixar os dividendos.

Sai a direita, entra a esquerda, as trapalhadas demagógicas são as mesmas.

Se você é daqueles especuladores que gostam de volatilidade e operam day trades, a Petrobras é um prato cheio.

Como investimento, simplesmente não é confiável.

Especular na PETR4 é simplesmente apostar num cassino, tal como roleta, blackjack, craps ou bacará.

A não ser que você seja um insider, coisa que não deve faltar com tanta gente dando palpites sobre a política da empresa.

Às vezes, penso que o que menos importa são as cotações do Brent em Londres, do WTI (Western Texas Intermediate) em Nova York e do dólar frente ao real.

Se você, caro amigo leitor, é fissurado numa aposta, aqui vai um conselho de amigo: compre uma passagem para Las Vegas e se esbalde por lá. Provavelmente vai perder algum.

Mas não vai ser passado para trás por insiders. Simplesmente porque, quando o crupiê girar a roleta, ninguém saberá de antemão onde a bolinha vai cair.

Um ótimo fim de semana para todos.

Ivan Sant’Anna

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