As ações da Americanas (AMER3) protagonizaram um movimento intenso no mercado financeiro, marcado por extrema volatilidade. Após o grupamento dos papéis na proporção de 100 para 1, a primeira sessão de negociação foi um reflexo da turbulência que a companhia vem enfrentando nos últimos meses. O salto significativo de 40,60%, registrado no início da sessão, chamou a atenção dos investidores, que observaram o ativo alcançar R$ 7,03 por volta das 12h15 (horário de Brasília), após um longo período em leilão.

Histórico de Desvalorização das Ações da Americanas

A trajetória das ações da Americanas nos últimos tempos tem sido marcada por quedas expressivas. Na véspera do grupamento, os papéis fecharam em R$ 0,05, estabelecendo uma nova mínima histórica. Esta cotação reflete uma desvalorização massiva de 99,58% desde o valor de R$ 12, registrado antes da revelação do rombo contábil bilionário que abalou a companhia. A descoberta dessas “inconsistências contábeis”, estimadas em R$ 20 bilhões, ocorreu em 11 de janeiro de 2023, e a partir daí, as ações caíram drasticamente, fechando a R$ 3,15 no dia seguinte à revelação.

Esse evento desencadeou uma crise profunda na Americanas, culminando em um pedido de recuperação judicial. Como parte do plano de recuperação, o conselho de administração homologou parcialmente um aumento de capital de R$ 24,5 bilhões, com a emissão de novas ações ao preço de R$ 1,30. Esse movimento foi crucial para manter a empresa operando e tentar estabilizar a situação.

Efeito do Grupamento e Reação do Mercado

Com o grupamento das ações na proporção de 100 para 1, a expectativa era de que os papéis da Americanas voltassem a negociar a preços mais elevados, ajustados de forma a evitar a “penny stock” (ações cotadas abaixo de R$ 1,00). Logo no início da negociação após o grupamento, os ativos ajustados eram cotados a R$ 5,00, mas rapidamente subiram para R$ 7,03, refletindo uma alta de 40,60%.

Esse movimento pode ser explicado pela especulação dos investidores, que veem nas ações reagrupadas uma oportunidade de curto prazo para ganhos significativos, apesar dos riscos associados à continuidade da empresa. Contudo, essa volatilidade intensa também reflete a incerteza que ainda ronda o futuro da companhia.

Desafios e Perspectivas para a Americanas em 2024

Impacto da Crise Contábil nos Resultados

A crise contábil teve um impacto profundo nas operações da Americanas, refletindo diretamente em seus resultados financeiros. O GMV (Gross Merchandise Volume) da empresa em 2023 foi de R$ 22,8 bilhões, o que representa uma queda de 45,90% em relação ao ano anterior. Essa queda foi impulsionada, principalmente, pela redução de 75,70% nas vendas da plataforma digital, uma área que a empresa havia priorizado em anos anteriores.

Essa retração nas vendas digitais foi uma consequência da estratégia da varejista de migrar categorias importantes de vendas próprias (1P) para o modelo de marketplace (3P), com o objetivo de melhorar a rentabilidade. No entanto, a transição não foi suficiente para conter a queda acentuada no volume de vendas.

Além disso, a Americanas fechou 125 unidades físicas em 2023 e, no primeiro semestre de 2024, mais 56 lojas foram encerradas, em sua maioria do formato Express. Esses fechamentos foram uma tentativa de reduzir custos operacionais e ajustar a estrutura da empresa ao novo cenário de mercado.

Tentativas de Recuperação e Expectativas Futuras

No primeiro semestre de 2024, a receita líquida consolidada da Americanas foi de R$ 6,8 bilhões, uma queda modesta de 2,6% em comparação com o mesmo período de 2023. Apesar da continuidade dos desafios, o EBITDA ajustado (ex-IFRS 16) apresentou uma melhora, embora ainda negativo em R$ 240 milhões. Este resultado indica que, mesmo em meio à crise, a empresa conseguiu melhorar sua eficiência operacional em comparação ao ano anterior.

Por outro lado, o prejuízo da Americanas em 2023 foi de R$ 2,30 bilhões, uma redução de 82,8% em relação a 2022. Esse resultado foi influenciado negativamente pela crise operacional, pelos custos adicionais da investigação contábil e pela recuperação judicial. No entanto, a homologação do plano de recuperação judicial e sua execução abriram caminho para que a empresa possa, eventualmente, gerar lucro tributável em 2024, permitindo o reconhecimento de impostos diferidos no valor de R$ 4,8 bilhões no quarto trimestre de 2023.

Americanas (AMER3) reporta prejuízo de R$ 2,3 bi em 2023 e R$ 1,4 bi no 1º semestre de 2024.

Nos primeiros seis meses de 2024, o prejuízo foi reduzido para R$ 1,4 bilhão, uma diminuição de 55,90% em relação ao mesmo período de 2023, o que demonstra uma tendência de recuperação, ainda que lenta.

Ações da Americanas: Cenário Atual e Decisões Estratégicas

Grupamento de Ações e Reações do Mercado

O grupamento das ações na proporção de 100 para 1, aprovado em maio de 2024, foi uma medida estratégica para evitar que os papéis continuassem sendo negociados na casa dos centavos. A decisão veio após uma série de desvalorizações consecutivas, que colocaram a Americanas em uma posição delicada no mercado. Com o ajuste, os papéis passaram a ser negociados a R$ 5,00, valor que imediatamente refletiu na elevação dos preços para R$ 7,03 no decorrer do pregão, antes de voltar ao leilão.

Esse cenário reflete o comportamento volátil das ações da Americanas, que, mesmo após o grupamento, continuam a oscilar de forma significativa. A medida visava, entre outros objetivos, tornar os papéis mais atraentes para investidores institucionais, que geralmente evitam ações cotadas a preços extremamente baixos.

Desinvestimentos de Grandes Bancos

Outro fator que influenciou o comportamento das ações da Americanas foi o movimento de desinvestimento por parte de grandes bancos. Antes do grupamento, o BTG Pactual reduziu sua participação na companhia, o que resultou em uma queda acentuada dos papéis. Da mesma forma, o Santander Brasil anunciou a redução de sua participação acionária, refletindo a falta de confiança nas perspectivas de recuperação da empresa a curto prazo.

Os papéis detidos pelo Santander Brasil representavam 4,870% do total de ações ordinárias da varejista, além de 459.388.618 bônus de subscrição. Essas movimentações indicam uma postura cautelosa dos investidores institucionais, que preferem minimizar a exposição ao risco em um cenário de grande incerteza.

Desafios Futuros e Ajustes Necessários

Com a homologação do plano de recuperação judicial, a Americanas tem um longo caminho pela frente para reconquistar a confiança dos investidores e estabilizar suas operações. O cenário ainda é desafiador, com a necessidade de continuar ajustando sua estrutura de custos e buscar novas formas de geração de receita.

Além disso, a decisão de descontinuar as projeções de desempenho (guidance) a partir de agosto de 2024 indica que a companhia está reavaliando suas estratégias futuras, possivelmente em resposta aos resultados negativos e à necessidade de se adaptar a um ambiente de negócios em constante mudança. Essa decisão foi tomada para permitir que a empresa reavalie suas expectativas de desempenho, considerando os desafios enfrentados nos últimos trimestres.

As ações da Americanas (AMER3) continuam a ser um dos ativos mais voláteis do mercado brasileiro, refletindo a complexidade da situação financeira da empresa. O grupamento dos papéis e os desinvestimentos de grandes bancos são indicativos de um período de grande incerteza, onde cada movimento da empresa será monitorado de perto por investidores e analistas.

A recuperação da Americanas dependerá de sua capacidade de executar com sucesso seu plano de recuperação judicial, melhorar sua operação e reconquistar a confiança do mercado. Enquanto isso, as oscilações nos preços das ações devem continuar, refletindo as dúvidas que ainda cercam o futuro da varejista.

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