Será que é claro para você que na Sociedade do século XXI, todos somos vulneráveis, por que desconhecemos as transformações que estão por vir, como resolvê-las, e, portanto, somos limitados e precisamos dialogar, ouvir opiniões diferentes, entender pontos de vista diferentes para conseguirmos trabalhar em colaboração e tomar melhores decisões em relação as nossas vidas pessoais e profissionais?

Vivemos momentos complexos onde a ressignificação do EU traz profundas mudanças nas relações humanas, e de acordo com o nível de consciência e maturidade de cada um, precisamos saber lidar com pessoas que enxergam apenas o que querem sem a menor empatia com o próximo, saber lidar com pessoas que esperam que alguém as guie para o caminho correto. Pessoas com sede de aprendizado e que entendem que o mundo atual funciona como nosso corpo humano que renova suas células diariamente para manter-nos vivos e conectados com o ambientes internos e externos, e pessoas que buscam o processo de autoconhecimento para decidir que caminho seguir e como entender as interconexões com todos.

Mais criatividade

Independente do perfil que temos ou que encontramos ao nosso redor, é certo que precisamos cada vez de mais criatividade para lidar com o cotidiano, respeito a diversidade de pensamentos e experiências e a busca constante de nosso desenvolvimento. Para assim, sofisticarmos a nossa ignorância, porque se acharmos que sabemos de tudo sobre algo em nossa vida, assinaremos um atestado de miopia impedindo o nosso próprio desenvolvimento.

Segundo Richard Danzig, ex-secretário da marinha dos Estados Unidos, as organizações são uma espécie de registro fóssil. Existem através de vestígios preservados em rochas, daquilo que incomodou seus antecessores, e como estão presos ao passado, a grande questão é saber se mudarão rápido o bastante para enfrentar as mudanças ou crises no momento que elas ocorrerem.

Como organizações são um conjunto de CPFs, estamos falando de nós, a grande questão é saber se entendemos a profundidade da mudança de mentalidade e comportamento que precisamos ter. Por exemplo, falamos o tempo inteiro de riscos climáticos, mas continuamos convivendo com o aquecimento solar, com lixões a céu aberto, com desperdício de água sem perceber que para termos eletricidade, outro bem indispensável a vida moderna, dependemos de hidrelétricas que dependem de chuvas e muita água para funcionar.

Ainda estamos perdidos no século XXI

Se duvidarmos da nossa dependência de água e eletricidade, basta relembrar o período de 03 a 10 de novembro de 2023 onde a Enel teve problemas em vários estados, e várias casas e prédios inteiros enfrentaram problema com falta de água e eletricidade. Isso obrigou as pessoas a jogar fora comida estragada por não ter onde guardar, afetando a saúde de pacientes em home care por não ter como manter seus aparelhos de sobrevivência cardíaca ou respiratória ligados, impedindo pessoas de sair de casa por falta de gerador em locais com idosos ou com pessoas com problemas de locomoção que não conseguiam descer e subir escadas.

Temos falado muito sobre tudo, entendido pouco os impactos e praticado menos ainda as transformações necessárias. Um jeito fácil de verificar como ainda estamos perdidos, é olhar para os processos de contratação de profissionais na maioria das empresas: Queremos pessoas prontas com respostas para tudo e com experiência comprovada de que saberão lidar com o que estar por vir. Se desconhecemos o futuro como podemos exigir isto de alguém, avaliar este alguém e selecionarmos corretamente?

Mais do que isto, falamos que precisamos incluir pessoas diferentes no ambiente de trabalho, mas as políticas de contratação, benefícios, avaliação de performance, a arquitetura do ambiente físico e a gestão continuam exatamente iguais. Inclusive recentemente ouvi uma pessoa contando que seu colega foi contratado e demitido pelas mesmas características.

Então será que na contratação explicaram o que realmente se esperava desta pessoa e como ela deveria entregar esta expectativa para empresa? Será que esta pessoa questionou e esclareceu todos os comos desta relação empresarial? Tendo a dizer que não.

Portanto, se não mudamos nada na nossa forma de fazer, como queremos ter resultados diferentes?

Por últimos quero trazer duas outras reflexões sobre como estamos conduzindo nossas falas e nossas práticas:

  • Tem sido muito comum falar sobre saúde mental nas empresas, como se esta questão se aplicasse somente a trabalhadores de escalão operacional, mas quem cuida da média e alta gestão, quem assegura uma comunicação acolhedora, transparente e segura para que presidentes, diretores e gerentes possam encontrar em suas empresas os espaços certos para se curarem e se cuidarem além de trocar entrega de metas por dinheiro, e quem garante que este direito seja comum a todos dentro da organização?
  • Ainda nas empresas, com a chegada das novas tecnologias, porque existe tanto afã em aplicar estas novas tecnologias sem entender muitas vezes quais os desafios reais a resolver e se realmente são úteis para solução, porque discutimos ética da tecnologia se este é um princípio humano, porque queremos tudo pronto para ontem se avaliar risco exige reflexão, tempo e muita discussão afim de evitar que soluções de curto prazo se tornem custos e/ou problemas maiores no longo prazo?

Enfim o entendimento da nossa cultura empresarial e dos nossos valores e desafios pessoais nunca foram tão importantes quanto atualmente. Ter um planejamento de pessoas, de qual o perfil profissional a empresa precisa: otimistas, bem-humoradas, comprometidas em aprender e fazer acontecer, ou críticas, apegadas a experiências passadas, apegadas a nomenclatura de cargos, competitivas ao invés de colaborativas, certas de todo seu conhecimento ou curiosas e capazes de dizer quando não sabem? Enfim do mesmo jeito que empresas precisam de definição, indivíduos também precisam para que encontrem a tampa de sua panela profissional e pessoal.

Não tenho uma resposta para lhes oferecer sobre qual caminho seguir, mas posso lhes dizer que enquanto indivíduos e organizações não fizerem suas lições de casa e entenderem que neste século da construção do conhecimento faz-se necessário deixar entrar o novo e sair o velho, diariamente, viveremos com medo do futuro por tentar entende-lo e vive-lo conforme nossa experiência passada, reforçando a fala de Richard Danzig: “Seremos registros fósseis daquilo que incomodou nossos predecessores”.

Por Renata Vilenky, Formada em Tecnologia e Economia com especialização em IA e Robótica. Conselheira em Estratégia , Inovação e Transformação Digital, Membro da Academia Európéia da Alta Gestão com livros publicados nos temas de Inovação, Estratégia, Conselhos e Liderança; Consultora em Projetos de Inovação Aberta e Transformação Digital, Mentora de Startups e Executivos, Coordenadora do Comite de Empreendedorismo e Tecnologia do Insper, Professora de Estratégia e Inovação da FGV e Mentora em vários projetos de impacto em educação e saúde.

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