Na manhã de 1º de janeiro de 1954, eu, na época com 13 anos, desembarquei, com meus pais e irmãos, em Colônia (Köln) na Alemanha Ocidental. A cidade estava coberta de neve.
Havíamos permanecido mais de um ano em Londres, onde meu pai fizera um curso de pós-graduação na London School of Economics e os três filhos estudado em colégios ingleses.
Embora a Segunda Guerra Mundial já tivesse terminado havia mais de nove anos, grande parte de Colônia ainda estava destruída. Alguns habitantes moravam em cavernas cavadas no subsolo.
Como muita gente não possuía sapatos, eles enrolavam panos nos pés para evitar congelamento.
Embora fosse impossível para mim percebê-lo naquele momento, o PIB da Alemanha Ocidental já crescia a taxas anuais médias de oito por cento, simplesmente o dobro dos EUA.
Evidentemente, isso acontecia porque a economia do país partira do zero, tal o estado de destruição que se encontrava quando Adolf Hitler se suicidou em 30 de abril de 1945, pondo fim ao teatro europeu do maior conflito da história da Humanidade.
Naquele mesmo ano de 1954, os alemães iriam experimentar seu primeiro momento de triunfo pós-guerra quando a seleção nacional venceu a Copa do Mundo da Suíça, derrotando, na final, o poderoso escrete húngaro por 3 a 2.
Nos anos que se seguiram, o crescimento alemão prosseguiu até que o país se tornou a segunda maior economia do planeta, atrás apenas, é óbvio, dos EUA.
O posto de vice-campeão da riqueza terminou em 1968, quando a Alemanha Ocidental perdeu o lugar para o Japão, país que, por sinal, é o nosso próximo assunto.
Seis de agosto de 1945: Uma fortaleza voadora B29 da Força Aérea Americana lança uma bomba atômica sobre a cidade japonesa de Hiroshima. Nove de agosto de 1945: Um segundo artefato nuclear é jogado sobre Nagasaki.
Quinze de agosto de 1945: O imperador japonês Hirohito anuncia, pelo rádio, ao seu povo que o Japão irá se render aos Estados Unidos. Dois de setembro de 1945: A bordo do encouraçado Missouri, ancorado na baía de Tóquio, emissários japoneses assinam a rendição.
Naquele momento, o Japão tinha todas as suas cidades e plantas industriais destruídas por bombardeios americanos. A frota pesqueira, também importantíssima para a economia japonesa, inexistia.
Pois bem, foi nesse momento que o Japão retomou seu crescimento, partindo do zero, tal como aconteceu com a Alemanha.
Treze anos mais tarde, precisamente em 1958, os japoneses faziam seu primeiro investimento além-mar, ao construir, em parceria com o BNDE (atual BNDES), a usina siderúrgica Usiminas, em Ipatinga, MG.
Entre 1945 e 1973, a economia japonesa cresceu a taxas anuais médias de dez por cento, até ser ultrapassada pela da China em 2010.
Desde o fim do nefasto regime de Mao Tsé-Tung, quando o reformador Deng Xiaoping (aquele que dizia que “não importa se o gato é preto ou branco, desde que mate o rato”) manteve o regime ditatorial chinês, mas aderiu ao capitalismo, embora se declare comunista, a República Popular da China cresceu a taxas próximas de 10% ao ano.
Agora o PIB chinês está crescendo a metade, por volta de 5% a. a. E a tendência é de que caia mais, já que parte de uma base muito mais alta do que aquela que se sucedeu ao infame período da Revolução Cultural.
Não é difícil descobrir quem será o próximo. Evidentemente que se trata da Índia, país mais populoso do mundo, com 1 bilhão e 417 milhões de habitantes. A maior democracia do planeta cresce à razão de 8,2% ao ano (exercício fiscal 2023-2024), com tendência de alta bem definida.
Alguns aspectos (negativos e positivos) devem ser examinados com relação à Índia:
– Conflitos religiosos entre hindus, muçulmanos e siques estão sempre provocando incidentes, alguns deles bem sérios.
– Rivalidade com o vizinho Paquistão (os dois países são potências nucleares) redunda em altos gastos militares.
Os principais aspectos positivos são:
– Um dos dois idiomas oficiais indianos é o inglês (o outro é o híndi). Isso traz a eles grandes vantagens sobre Alemanha, Japão e China.
No livro O mundo é plano, de Thomas Friedman, o autor narra duas situações na qual a Índia é beneficiada com a fluência em inglês das pessoas mais aculturadas do país.
– Um passageiro desembarca num aeroporto americano e descobre que sua mala foi extraviada. Ele segue até um telefone de ajuda. A moça que o atende está em uma cidade indiana, mas ele não sabe disso. Ela, como se estivesse em um escritório próximo, dá as instruções sobre como proceder para recuperar a bagagem ou ser indenizado pela perda.
– No início da noite, um cidadão americano envia, pela internet, os documentos necessários para sua declaração de imposto de renda. Esses dados são recebidos por um contador indiano que, do outro lado do mundo, prepara a declaração de ajuste. Faz isso de tal modo que, pela manhã, o documento já esteja pronto no computador do cliente.
Enquanto a China teve seu crescimento baseado nas exportações de produtos industriais, a Índia será impulsionada pelo setor de serviços, que não para de crescer.
A conferir nos próximos anos.
Um forte abraço,
Ivan Sant’Anna