A Terapia Cognitivo Comportamental, mais conhecida como TCC, é uma das diversas abordagens presentes na Psicologia. Os pressupostos básicos da TCC dizem respeito a cognição (pensamentos) afetar nossas emoções e comportamentos. Entretanto, a cognição pode também ser modificada e por consequência alteram-se comportamentos e os efeitos nas nossas emoções.

Porém, não é tão simples assim como está escrito. Nossos pensamentos foram formados ao longo de nossas vivências e experiências ao longo da vida. Ou seja, se uma criança viveu em um ambiente onde o afeto e carinho eram condicionados a algum comportamento, como por exemplo estudar e ir bem na escola, muito provável que essa criança tenha associado afeto a ir bem na escola. E, consequentemente, carregará isto ao longo de sua vida, como no trabalho e nas suas relações.

Como dito anteriormente, o trabalho com as emoções na TCC é muito importante, pois uma mesma situação pode gerar emoções totalmente diferentes dependendo das vivências em que essa pessoa passou. Dito isso, é muito importante estarmos atentos a como nos sentimos frente aos acontecimentos e porque aquela situação me deixou de tal forma.

Seguindo na linha das emoções, embora elas sejam inerentes a qualquer ser humano, é importante considerar algumas particularidades entre sexos. Por exemplo, quando recebo uma mulher no meu consultório, sempre levo em consideração aspectos sócio-históricos que estão internalizados nela. Deve-se levar em conta seu papel na sociedade, a cultura que enfrentou e qual foram os valores que lhes foram passados. Assim como quando atendo homens, não temos como desconsiderar a sociedade machista instalada até o momento e a supressão de emoções que se demonstrados poderiam estar associados ao sexo oposto ou até sua sexualidade questionada.

Além disso, o gênero engloba os papéis e expectativas que a sociedade tem sobre essas emoções que acompanham o sexo atribuído a uma pessoa. As emoções como raiva podem estar mais associadas a homens e a tristeza a mulheres, por exemplo. Assim como o cuidado também é esperado por mulheres, um exemplo disso seria o curso de psicologia em que nove a cada dez profissionais são mulheres e o contrário em cursos práticos como engenharia, que é algo esperado para um homem.

Onde quero chegar com essa discussão?

Que questionemos nossos pensamentos e nossas emoções. Para isso vou ensinar uma técnica da TCC que se chama Advogado de Defesa.

E como ela funciona?

Vamos pegar um exemplo de uma mulher que é mãe e seus pensamentos a acusam de perdedora, fracassada em relação a criação do seu filho ou em qualquer situação em que nós mulheres questionemos nossos papéis e comportamentos. O papel do Advogado de Defesa é contestar as evidências, contestar a lógica dos argumentos e de acusação. Contestar também a percepção de testemunhas de acusação e valorizar a percepção de testemunhas de defesa.

Lembrando que o papel de advogado não é de julgar, mas disponibilizar o maior número de dados sobre os fatos para o júri. Praticando essa técnica, conseguimos colocar em xeque nossos pensamentos e nos questionarmos a veracidade deles e o quanto eles são nossos ou construções seja das nossas experiências ou de estigmas e padrões que a sociedade nos impõe.

*Ressalta-se que essa é apenas uma técnica da TCC e que para aprofundamento das questões pessoais recomenda-se a busca de um profissional da Psicologia ou Psiquiatria capacitado.

Referências:

Beck, J. S. (1997). Terapia cognitiva: Teoria e prática (S. Costa, Trad.). Porto Alegre: Artmed

Díez, B. (2020). Qual a diferença entre sexo e gênero (e porque esses termos podem estar ficando obsoletos). BBC News Mundo: Brasil.

Victoria Deluca

Psicóloga (PUC-RS). Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental (Wainer Psicologia Cognitiva) e Mestre em Psicologia Clínica (PUC-RS). Experiência no consultório particular com demandas como ansiedade, depressão e personalidade.

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